> >
Alô? Tem um orelhão aí? Onde foram parar os telefones públicos do ES

Alô? Tem um orelhão aí? Onde foram parar os telefones públicos do ES

Para muitos, o telefone público traz nostalgia, enquanto outros não sabem nem como funciona; saiba se ainda há aparelhos disponíveis no Estado

Publicado em 25 de maio de 2024 às 09:05

Ícone - Tempo de Leitura 4min de leitura
Eduarda Lisboa
Estagiária / [email protected]

É inegável que é cada vez mais difícil encontrar orelhões pelas ruas, principalmente com a popularização do celular. E olha que, de acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), ainda existem 1.227 telefones públicos em todo o Espírito Santo.  Apesar de o órgão dizer que muitos deles ainda funcionam, a reportagem de A Gazeta procurou pelas ruas de Vitória e não encontrou nenhum que fizesse ligação.

Segundo os dados da Anatel, ainda existem 536 (43,68%) telefones públicos disponíveis para fazer ligações à moda antiga, enquanto os outros 691 estão em manutenção. Somente em Vitória dos 48 orelhões, apenas 7 funcionam, de acordo com o sistema Fique Ligado, em que o órgão disponibiliza a localização e o status da operação de cada aparelho.

A Gazeta foi à procura desses aparelhos públicos da Capital que a agência informou estarem em funcionamento. Porém, os orelhões já haviam sido removidos desde março de 2023. No site Fique Ligado, a data de atualização do status de operação dos aparelhos é de fevereiro deste ano. 

Informações do sistema Fique Ligado da Anatel sobre orelhão no centro de Vitória; imagem do sistema Google Maps do local onde haveria o orelhão segundo a agência.
Informações do sistema Fique Ligado da Anatel sobre orelhão no centro de Vitória; imagem do Google Maps do local onde haveria o orelhão, segundo a agência. (Divulgação)

Segundo a Anatel, os dados sobre os telefones de uso público são baseados nas informações que as concessionárias – operadoras responsáveis pela manutenção dos aparelhos – enviam diariamente à agência. O órgão admitiu falhas na leitura dos dados e afirmou buscar outras formas de exibição mais seguras e fidedignas.

“Temos observado que essas leituras diárias podem apresentar falhas, dada a grande dificuldade de coleta dos dados por parte das concessionárias em virtude do grande tamanho de suas plantas e até mesmo pela capilaridade de instalações por todo o território nacional. Dessa forma, pode haver uma variação no número de orelhões 'Disponíveis' e  'Em manutenção'”, informa a Agência Nacional de Telecomunicações em nota.

De acordo com a operadora telefônica Oi, concessionária responsável pela manutenção dos aparelhos públicos no Espírito Santo, os orelhões que não foram encontrados nas ruas pela reportagem se encontram ativos e localizados em áreas internas, como hospitais, escolas e órgãos públicos.

A cidade com mais orelhões no Estado é Cariacica, com 82 aparelhos e 28 disponíveis. Os dados da Anatel também mostram que, apesar de a Região Sul do Espírito Santo ter mais aparelhos públicos (326), apenas 130 estão disponíveis para ligações, enquanto na Região Norte capixaba, dos 253 orelhões, 144 ainda podem ser usados pela população.

Enquanto algumas pessoas referem-se aos telefones públicos de forma nostálgica, outras nem sequer sabem como eles funcionam. É o caso de Leticia Britto, estudante de 18 anos que, ao ser apresentada a um cartão telefônico, teve dificuldade em descobrir para que servia o item.  

Aspas de citação

Nunca usei um orelhão na minha vida. Não faço nem ideia de como funciona

Letícia Britto
Estudante
Aspas de citação
Letícia Britto, estudante do IFES, em Vitória.
Letícia Britto, de 18 anos, disse nunca ter usado um orelhão. (Vitor Jubini)

Os orelhões chegaram ao ápice no Brasil em 2001, com mais de 1,3 milhão de aparelhos instalados. Hoje ainda é possível encontrar 97.572 telefones públicos no país, sendo que 53.716 funcionam, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

Atualmente, as ligações são gratuitas. Mas, nos "anos dourados" do aparelho, era preciso comprar fichas ou cartão para conseguir usar o telefone. E as ligações tinham tempo de ligação limitado de acordo com a quantidade de fichas usadas ou do valor, em reais, carregado no cartão.

Muitos cartões vinham com fotos de artistas, desenhos e até pontos turísticos, virando uma febre entre os jovens da época. A ponto de dar origem aos telecartofilistas, que são os colecionadores de cartão telefônico. É o caso de Walter Moraes Cruz, de 60 anos, que, além de colecionar essas antiguidades pela beleza e pelo interesse, também viu, ao longo dos anos, uma oportunidade de investimento.

Walter Moraes Cruz, colecionador e organizador do Encontro Nacional de Multicolecionadores do Espírito Santo.
Walter Cruz exibe coleção de fichas e cartões telefônicos, além de miniaturas de orelhões. (Divulgação)

“Eu comecei a colecionar ficha e cartões telefônicos em 1992, porque achava muito bonito. Mas, com o fim da antiga Telebrás e a abertura para empresas privadas, os sistemas de orelhões mudaram. Quem tinha o cartão embutido da Telebrás não conseguia mais usar. Até que a Anatel mandou as operadoras trocarem os créditos gratuitamente. Foi aí que comecei a comprar os cartões antigos e trocar pelos novos que funcionavam”, conta o colecionador, que participa da Feira de Antiguidade da Lama, em Jardim da Penha, Vitória.

Walter conta que chegou a ter mais de 150 mil cartões. E afirma que a telecartofilia ainda é um hobby e um comércio para muitas pessoas em todo o país. “Hoje vejo poucos orelhões. Mas, em todos os eventos de colecionadores em que vou, os expositores ainda mostram os cartões telefônicos. Ainda tenho porque eu gosto e tenho apego. Então, guardei alguns”, destaca.

Segundo a Oi, mais da metade (66%) dos cerca de 80 mil orelhões da operadora existentes no Brasil registram uma média de menos de uma chamada por dia. Embora quase não sejam utilizados pelas pessoas, exigem recursos elevados para sua manutenção, de cerca de R$ 100 milhões por ano.

No Espírito Santo ainda é possível encontrar 1227 orelhões.
Orelhão em frente ao Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), em Jucutuquara, Vitória. (Vitor Jubini)

A Anatel ainda informa que, no caso de mau funcionamento dos telefones públicos, qualquer pessoa pode solicitar seu reparo, devidamente registrado, junto à concessionária. A empresa, por sua vez, tem que realizar o conserto em até 24 horas. Em localidades mais distantes, esse prazo pode chegar a 10 dias.

Em todos os casos, deve ser anotado e guardado o protocolo de atendimento fornecido. Caso a reclamação não seja atendida no prazo, este fato deve ser informado à Anatel, por meio de um de seus canais de relacionamento com os consumidores.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

Tags:

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais