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Alta na ocupação de UTIs não tem relação com pacientes de fora do ES

Alta na ocupação de UTIs não tem relação com pacientes de fora do ES

O diretor de integração do Instituto Jones dos Santos Neves e membro do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE), Pablo Lira, afirmou que recebimento de pacientes de outros Estados não teve impacto substancial na taxa de ocupação de leitos

Publicado em 15 de março de 2021 às 19:31- Atualizado Data inválida

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Foto do desembarque dos pacientes de Manaus com o selo Passando a Limpo
Passando a limpo. (Fernando Madeira)

O índice de ocupação de leitos de UTIs para tratamento da Covid-19 no Espírito Santo chegou próximo à marca dos 90% nesta segunda-feira (15), atingindo o limite estipulado pelo governo do Estado para adoção de medidas mais extremas de contenção à transmissão do coronavírus.

Nas redes sociais, o acolhimento de pacientes de fora do Espírito Santo para tratamento da Covid-19 foi apontado como um dos fatores que contribuíram para esse aumento. Entretanto, o diretor de integração do Instituto Jones dos Santos Neves e membro do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE), Pablo Lira, afirmou que isso não teve impacto substancial na taxa de ocupação de leitos de UTI. Ele defendeu que o recebimento de infectados pela doença provenientes de outros Estados foi uma ação solidária do governo capixaba e classificou a informação de que isso afetou diretamente a alta demanda por vagas de tratamento intensivo como uma  desinformação.

"Essa hipótese de a gente ter tido um aumento da ocupação de leitos de UTI por conta dos pacientes trazido dos estados do Amazonas, Rondônia e Santa Catarina é mais uma 'fake news'. É uma ilação desumana que falta muito com a solidariedade. Quando esses pacientes começaram a chegar aqui no Estado, foi em um período em que a gente tinha uma folga maior no nosso sistema de saúde. Então, a gente estava em uma situação um pouco mais confortável em relação aos outros Estados", afirmou.

Pablo Lira relembrou que os pacientes vindos de outros Estados não chegaram todos ao mesmo tempo e, por isso, houve um fluxo de entradas e saídas da UTI que não comprometeu o acesso aos capixabas. Ele ainda completou, afirmando que o Espírito Santo deixou de acolher pacientes assim que atingiu um percentual crítico de ocupação de leitos de tratamento intensivo.

"Estava prevista a chegada de mais pacientes de Santa Catarina, mas, em duas, três semanas, nossa taxa de ocupação de leitos saiu de 60% a 70% e superou os 80%. A gente tem a ferramenta da Matriz de Risco, que quando a gente passa dos 80%, acende um alerta. Então, de forma prudente, a Secretaria de Saúde suspendeu a chegada de pacientes de fora do Estado. No momento que a gente podia ajudar, a gente ajudou e isso não sobrecarregou o nosso sistema de saúde", explicou.

ESTADO TINHA CONDIÇÕES DE RECEBER PACIENTES DE FORA

Desde quando foi anunciada a vinda de pacientes de Manaus, primeiro Estado a enviar infectados pela Covid-19 para o Espírito Santo, o secretário da Saúde de ES, Nésio Fernandes, já havia adiantado que o Espírito Santo possuía condições de receber pessoas para tratamento da Covid-19. Ele garantiu que o acesso da população capixaba às UTIs não seria comprometido, uma vez que a quantidade de pacientes acolhidos não seria significativa para afetar na taxa de ocupação.

"Temos hoje livres no Espírito Santo 150 leitos de UTI para atender pacientes com Covid-19. 20% dessa oferta está sendo garantida nesse gesto de solidariedade. Temos condições plenas de atender qualquer paciente em solo capixaba que também seja atendido pela Covid. Esse gesto de solidariedade não compromete a garantia do acesso, no Espírito Santo, aos pacientes atingidos pela pandemia”, afirmou o secretário da pasta, na ocasião.

A disponibilidade de leitos de tratamento intensivo para pacientes de outros Estados aumentou quando o governador Renato Casagrande anunciou o acolhimento de pacientes de Santa Catarina. Na ocasião, porém, Casagrande lembrou que a oferta para os catarinenses não extrapolaria a projeção que o governo estadual havia feito de disponibilizar cerca de 45 leitos para pacientes de outros Estados, no Hospital Dr. Jayme Santos Neves, na Serra — unidade de referência para pacientes com a Covid-19.

Nesta segunda-feira (15), segundo o Painel Ocupação de Leitos Hospitalares, ferramenta da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), são 746 leitos disponibilizados para pacientes com Covid-19 no Estado e 86,73% estão ocupados. De acordo com Pablo Lira, a ocupação desses leitos já superaria a faixa dos 80% mesmo sem a presença de pessoas de fora do Espírito Santo. Na última sexta-feira (12), quando foi feito o cálculo da Matriz de Risco, eram 12 pacientes de outros Estados em tratamento intensivo.

"Na sexta-feira (12), quando foi feito o cálculo da matriz, a gente estava com 724 leitos de UTI e com uma taxa de ocupação de 84,5%, considerando todos os pacientes. Eram 612 pacientes, ao todo. A gente estava com apenas 12 pacientes de fora na UTI, então, se a gente descontar os pacientes de fora, a gente estava com uma taxa de ocupação de 82,8%, já acima de 80%, independente de a gente considerar os 12 de fora ou não. E a tendência desses pacientes é irem conseguindo alta e, infelizmente, tem aqueles que podem vir a falecer. Então, de forma alguma, esses pacientes estão sendo o motivo de estar aumentando a taxa de ocupação", afirmou.

POR QUE A TAXA DE OCUPAÇÃO DE UTIS NO ES CRESCEU TANTO?

Um aumento dos indicadores como novos casos de infecção por coronavírus, mortes em decorrência da doença e a alta na taxa de ocupação era previsto pelo governo do Estado para os meses de janeiro e fevereiro, por conta das aglomerações nas festas de fim de ano. Isso não se concretizou, mas a alta dos indicadores teve início neste mês de março e devem permanecer elevados durante abril.

Hospital Jayme Santos Neves, na Serra, recebe trinta e seis pacientes com Covid-19 vindos de Manaus
Hospital Jayme Santos Neves, na Serra, recebe trinta e seis pacientes com Covid-19 vindos de Manaus. (Fernando Madeira)

Segundo Pablo Lira, isso deve se concretizar por dois motivos principais: o período em que são registradas mais ocorrências da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), que pressionam o sistema de saúde, e as aglomerações observadas durante o carnaval deste ano.

"Justamente esse aumento está acontecendo na janela de 21 dias em que a gente viu as tristes cenas de aglomeração de jovens no carnaval. Por conta daquela atitude irresponsável e inconsequente de pequenos grupos de jovens, toda a sociedade está agora pagando uma conta alta. A gente está tendo que aumentar as medidas restritivas e o governo está se antecipando, para evitar um risco extremo da Covid aqui no Estado", apontou.

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A nossa taxa de transmissão do Estado já está acima de 1, então a cada 10 pessoas infectadas, pode haver a transmissão para outras 11 pessoas

Pablo Lira
Diretor de integração do Instituto Jones dos Santos Neves
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Pablo ainda reiterou que o governo do Estado adotou uma estratégia assertiva de ampliação dos leitos de UTI ao invés da construção de hospitais de campanha. Mesmo com a efetividade deste plano, um aumento considerável no número de casos de Covid-19  e com a possibilidade da evolução para um quadro crítico da doença pode, mesmo com uma maior oferta de leitos, causar uma crise assistencial no sistema de saúde do Espírito Santo.

"De forma segura, o governo do Estado continua ampliando seu sistema de leitos de atendimento para pacientes Covid-19. De sexta-feira (12) pra cá, foram abertos 22 leitos. Essa estratégia ainda está em curso, a programação da Sesa de entrega de novos leitos, a meta é chegar a 900. Isso vai garantir uma segurança maior para os casos críticos, mas, se a população não cooperar, evitando as aglomerações, mesmo com essa expansão de leitos, o cenário do risco extremo não está tão afastado. O Espírito Santo não é uma ilha", finalizou.

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