Quanto tempo um ano pode durar? São exatos 365 dias, ou quem sabe uma eternidade? A medida vale conforme as histórias construídas, as lembranças deixadas. E é assim neste 6 de abril, que marca um ano da morte de Carlos Fernando Monteiro Lindenberg Filho, o Cariê, para amigos e profissionais que tiveram a oportunidade de usufruir de sua convivência.
Ex-presidente do Conselho de Administração da Rede Gazeta, empresário, músico e escritor, Cariê morreu aos 85 anos em decorrência de uma pneumonia. Para o médico e amigo Édson Dias, os sábados ainda guardam muitas saudades.
Era nesse dia que praticamente toda semana, ao longo de alguns bons anos, eles se reuniam para conversas acompanhadas de boa comida na casa de Cariê. A amizade foi construída ainda muito cedo porque os pais de ambos já eram amigos.
Emocionado, Édson exalta as inúmeras qualidades de Cariê, da inteligência à afetuosidade, passando por suas bem-sucedidas experiências na música e na literatura. Mas, segundo o médico, o que mais admirava no amigo era a sua simplicidade.
A música representa parte importante da vida de Cariê que acompanhou, no Rio de Janeiro, o surgimento da Bossa Nova ao lado de figurões como Tom Jobim, Newton Mendonça e Roberto Menescal.
No dia da morte do amigo, Menescal enalteceu a parceria de vida que construíram desde a adolescência. Agora, na passagem de um ano do falecimento, o músico voltou a se lembrar das histórias que reuniam futebol, praia e, claro, a música.
O artista ressalta ainda que Cariê foi um grande companheiro e que sua morte foi uma perda inestimável, mas que é um ciclo que naturalmente se fecha. "Ele aproveitou a vida como poucos aproveitaram. Fez ele muito bem!"
Ainda do cenário musical, Ugo Marotta traz outras recordações. "Uma tarde, nos anos 1960, Cariê me encontrou para combinar os arranjos orquestrais daquele que seria o seu primeiro disco. Por motivos diversos, esse disco não aconteceu", lembra-se o músico, produtor e arranjador, referindo-se a um episódio que, inclusive, foi registrado no livro "Memórias Cariocas", de Cariê.
Ugo revela que, desse encontro, nasceu a amizade dos dois que dividiam o prazer da boa música. Em 2002, acrescenta ele, 40 longos anos depois, aqueles arranjos feitos em 1960 foram finalmente gravados e estão no CD “Esperei Por Você”.
Por terras capixabas, também deixou amigos na música, como o maestro Helder Trefzger, da Orquestra Sinfônica do Espírito Santo (Oses).
O músico Cariê era autor de Devaneio que, durante muitos anos, foi executada no encerramento diário da programação da TV Gazeta. Para a cantora lírica Natércia Lopes, ele era o maior artista e músico capixaba.
Natércia também exalta o carisma de Cariê e sua habilidade para cativar a todos com sua simplicidade. “Precisamos com urgência homenageá-lo à altura da sua genialidade. Acordem, autoridades! Cultura do meu Estado, tome atitude”, exortou a cantora.
A paixão mais recente era a literatura. O escritor Cariê publicou seis livros e, em suas obras, falava um pouco de sua trajetória pessoal, além de passear pelas crônicas. Talento admirado por quem compartilha do ofício.
"Um ano sem Cariê... O que dizer sobre saudade e admiração? Tive a grata oportunidade de conviver com o Cariê empresário e o artista. Em ambos os papéis ele demonstrava simpatia, refinamento e simplicidade raros para um homem com o seu poder e influência na sociedade capixaba", descreve o jornalista e escritor José Roberto Santos Neves no início de seu depoimento.
E continua: "Como nosso patrão na Rede Gazeta, tinha alma de jornalista: sempre circulava pela redação do jornal, atento às notícias do dia, comentando as matérias, sugerindo pautas, com o máximo de discrição e respeito aos funcionários. A empatia era tanta que muitas vezes ele agia como se não fosse o dono da empresa. Em retribuição, contava com a admiração e o carinho de toda a equipe. Por sua vez, o Cariê artista era igualmente encantador: o compositor bissexto, o apreciador de Bossa Nova, o cronista e escritor que tecia textos e crônicas fazendo uso inteligente do humor e da ironia fina que são artigos exclusivos para as criações dos cronistas de fino trato."
Embora não fosse jornalista por formação, o empresário Cariê era também reconhecido como tal. Ao longo de seus 85 anos, sempre foi defensor do jornalismo e da liberdade de expressão. Responsável pelo surgimento da maior rede de comunicação do Espírito Santo, ele esteve à frente da empresa entre os anos de 1965 e 2001.
Foi por sua atuação que o Grupo Globo estabeleceu-se no Espírito Santo, tendo a TV Gazeta como afiliada, e posteriormente os negócios se expandiram, com a criação de rádios, do site e das emissoras regionais sediadas em Cachoeiro de Itapemirim, Linhares e Colatina.
Cariê nasceu no Rio de Janeiro, mas se considerava capixaba. Filho do ex-governador Carlos Fernando Monteiro Lindenberg e Maria Antonieta Queiroz Lindenberg, veio para o Estado com apenas 17 dias e sua história de vida está também ligada ao desenvolvimento do Espírito Santo.
Além de sua atuação no ramo de comunicação, Cariê contribuiu para o segmento do agronegócio. Mesmo sem experiência ou formação em administração, fez a fazenda da família, em Linhares, praticamente dobrar de tamanho.
Em 1979, assumiu a presidência da Federação da Agricultura e Pecuária do Espírito Santo (Faes), na qual ficou até 1981. Foi cinco vezes vice-presidente da entidade, em diferentes mandatos, além de secretário. Para o setor, suas ações dentro e fora da federação ajudaram no desenvolvimento do agronegócio capixaba.
O atual presidente da entidade, Júlio Rocha, afirma que todo o segmento sentiu muito a perda do empresário.
"Cariê, pessoa ímpar, solidário, humano, justo, artista, culto, progressista e empreendedor. Foi presidente da Faes, deixou excelente legado e um sorriso para a vida e para todos, que nunca será esquecido", valoriza.
Para celebrar a vida do homem que transformou o jornal impresso A Gazeta no maior grupo de mídia do Espírito Santo, a família Lindenberg convida para a missa em memória de Cariê nesta quarta-feira (06), às 18h30, na Paróquia Santa Rita de Cássia, na Praia do Canto.
"Como filho, sinto a enorme falta de não ter meu pai fisicamente por perto, contando suas histórias e vendo os netos já adultos e donos de si. Como presidente da Rede Gazeta, sinto orgulho do bastão que recebi e também a responsabilidade de jamais deixar que percamos o norte da isenção, correção e compromisso com a verdade. Neste quesito, eu garanto a vocês, a memória e a vontade de Cariê Lindenberg permanecem mais vivas do que nunca", sintetiza o empresário Café Lindenberg ao falar do pai.
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