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Amor pelo mar fez surfista ser capitã especialista em salvamento aquático

Amor pelo mar fez surfista ser capitã especialista em salvamento aquático

Criada na beira da praia, a bombeira Gabriela Andrade ensina soldados e instrutores de salva-vidas técnicas de salvamento. Ela ainda alia a isso à vida de mãe, estudante e surfista

Publicado em 5 de janeiro de 2021 às 08:00- Atualizado há 4 anos

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Mulheres no comando
Mulheres no comando - Gabriela. (Vitor Jubini/Arte Geraldo Neto)

Gabriela Andrade foi criada perto do mar. A paixão pela água salgada lhe rendeu o surfe como esporte preferido, mas também a escolha da profissão. "Eu sempre me identifiquei muito com as atividades aquáticas, eu já era surfista, gostava de nadar, e praticar diversas atividades no mar. Atualmente sou capitã do Corpo de Bombeiros, tenho 10 anos de profissão. Entrei na corporação por me identificar muito, não somente com este estilo de vida, mas com a missão que é sempre ajudar ao próximo", conta. 

A capitã Gabriela é a única mulher especialista em salvamento aquático do Corpo de Bombeiros do Espírito Santo. É dela  a responsabilidade de formar instrutores de salva-vidas e também de ensinar os novos soldados as técnicas de salvamento aquático. 

Ela ocupa o cargo de instrutora titular há 6 anos. Mas chegar até aqui não foi fácil. "Quando entrei nos Bombeiros, não tinha nenhuma mulher na atividade aquática. Havia algumas dificuldades impostas pela corporação para que as mulheres não entrassem nessa atividade. Primeiro tinha que fazer o TAF (Teste de Aptidão e Força) para me habilitar, depois fazer o curso de mergulho que precisa de controle psicológico. Fui testada e fiquei lá intacta. Depois fiz o curso de salvamento aquático e depois de guarda-vida, conseguindo assim o Tridente de Netuno", conta a capitã.  

A relação dela com a água começou quando criança. Criada em Setiba, Guarapari, a bombeira diz que as idas à praia eram ensinamentos diários. "Meus pais sempre me mostraram que nada nessa vida é fácil, tudo é através de muito trabalho e esforço. Na minha infância, meu pai levava a mim e meu irmão para vender cachorro-quente na praia. E, desde cedo, eu fui aprendendo a importância e a relevância de um trabalho", lembrou. 

Os comandados pela capitã Gabriela são, em sua maioria, homens, o que faz com que a situação chame atenção por onde ela passe. "Quando assumo uma instrução de salvamento aquático percebo que causa estranheza até nos próprios alunos que esperavam um homem, alto e forte. E aí vem a capitã Gabriela, baixinha e magrinha. Mas eu mostro através do meu trabalho que tenho técnica e conhecimento para estar na frente deles ensinando como fazer um salvamento. Se inserir nesse ambiente predominado por homens não foi fácil, mas com técnica conseguimos conquistar nosso espaço", descreve.

A Gabriela é mãe, é esposa, é estudante, praticante de crossfit, sufista e capitã do Corpo de Bombeiros. "Quando eu conto minha rotina para as pessoas todo mundo fala: ‘você dá conta de tanta coisa?’ Eu acho que o caminho  para conquistar um objetivo  é a dedicação e disciplina. Disciplina no meu treino, no meu estudo, no meu planejamento", afirma. 

Capitã do Corpo de Bombeiros Gabriela Andrade
Foto da época que os bombeiros Heitor e Gabriela esperavam o filho, Théo. (Arquivo Pessoal)

Além da realização profissional, a carreira militar também lhe deu o marido Heitor, que também é bombeiro, e o fruto desse amor: o filhinho Théo, de um aninho. "Acordo cedo antes do bebê acordar, entre 5h30 e 6h. Faço atividade física,  amamento, brinco no parquinho, deixo ele na creche, vou para o trabalho, saio e pego ele, dou mais mamá, estudo e dou de mamar de novo e depois ponho para dormir", descreveu. 

Dedicação é uma marca registrada da capitã Gabriela. Para conseguir entrar no Curso de Formação de Oficiais (CFO) do Corpo de Bombeiros, com apenas cinco vagas, ela estudou por três anos, foi testada  em conhecimento técnico, psicologicamente e fisicamente. Na trajetória profissional, além de um curso de formação que a obrigou ficar três anos longe da família, na cidade de Curitiba, Paraná,  ela lembra de histórias que a marcaram.

"Na época de curso de formação fui acionada para um incêndio. Entrei no local, fui rastejando com o equipamento de proteção,  para ver se tinha vítima na edificação,  tudo já desmoronado. Coloquei a mão em um banheiro, sem ver direito, devido à fumaça, e  senti um corpo de uma vítima já em óbito.  Nem sempre o dia tem final feliz", lamentou. 

Inspiração para muitas pessoas, ela deixa um recado. "Mulheres, não se deixem abater pelas dificuldades que aparecerem em suas vidas. Aprendam a lidar com isso, a se sobrepor e a mostrar que vocês são competentes o suficiente para conquistar seu objetivo e seu sonho. Já enfrentei muitos preconceitos e acredito que nós, mulheres, temos caminhado e trabalhado para a redução desses preconceitos. Mas ainda temos um longo caminho pela frente, muito a ser melhorado e construída por nós. Temos competência para isso, somos capazes e vamos conquistar nosso espaço e, quiçá, conquistar o mundo", enfatiza a capitã. 

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