A chegada quase que a conta-gotas de doses de vacinas somada ao aumento de mortes diárias no país, ausência de coordenação nacional e surgimento de novas cepas levou o governador Renato Casagrande a afirmar que "antes de melhorar, ainda vamos piorar muito". A frase dita em entrevista na manhã desta quarta-feira (03) simboliza o entendimento do chefe do executivo para o atual cenário da pandemia e o que vem pela frente.
Tendo retornado de Brasília, onde nesta terça-feira (02) se reuniu com outros governadores e lideranças da Câmara e Senado em busca de uma coalizão para um enfrentamento coordenado da doença, Casagrande mostrou-se muito preocupado com o avanço do novo coronavírus, embora o panorama no Espírito Santo não seja tão grave como em outros estados.
"O que vem pela frente são dias de muita tristeza para nós brasileiros. Não vamos resolver a pandemia rapidamente, pois novas cepas podem aparecer e driblar as vacinas atuais, mas chegaremos, se Deus quiser, em um patamar de controle de óbitos que aliviará o sistema de saúde e a população. Mas antes de melhorar, vamos piorar, infelizmente. O mês de março desenha-se muito preocupante neste sentido", analisou, com muita preocupação, o governador.
Com estados vizinhos e muitos outros em um estágio grave de casos, mortes e internações, alguns à beira de um colapso da capacidade de atendimento, como ocorre em Santa Catarina, traz à tona o debate sobre a implementação de medidas mais restritivas. Para o Espírito Santo, contudo, Renato Casagrande descartou, para o momento, a possibilidade de um lockdown, mas deixou claro que, caso identifiquem esta necessidade, o ES não exitará em colocá-lo em prática.
"A única maneira que se controla a circulação do vírus é restringir a interação entre pessoas e oferecer um suporte de leitos. Até aqui conseguimos fazer, mas outros estados, não. Desde o início da pandemia, não precisamos entrar em lockdown, pois nunca atingimos o patamar de 90% de ocupação (de leitos específicos para Covid-19). Estamos em uma taxa estabilizada de ocupação de leitos, atualmente na faixa dos 75%. Caso haja necessidade, discutiremos com a sociedade, porém, no momento, está descartado por aqui. Mas veremos se mais para frente teremos medidas mais restritivas", salientou o governador.
O novo lote com 48 mil doses de Coronavac que desembarcou na capital capixaba nesta quarta não foi suficiente para injetar ânimo em relação a uma vacinação mais ampla no Estado e no restante do país. Por este motivo, o governador reforçou a necessidade da ida dele e demais líderes estaduais à capital federal onde visitaram a fábrica da União Química, que produzirá a vacina russa Sputnik-V, em fase final de testes pela Anvisa.
"Esta visita, na verdade, foi mais uma forma de pressionar o governo (federal) por mais fornecedores. Deixamos claro que, se ele não comprar, nós (estados) temos esta intenção. A Sputnik-V está no estágio final de avaliação e aguarda pela aprovação da Anvisa. Se aprovada, teríamos de imediato a possibilidade de importar 10 milhões de doses vindas da Rússia. Além disto, a fabricação pode ser iniciada no Brasil já no início de abril, com uma produção de 8 milhões de doses por mês. Seria mais um grande fornecedor além dos dois que já temos. Se tudo correr bem, podemos ter no Brasil em torno de 25 milhões de doses produzidas no mês de março pela Fiocruz e Butantan, mas depende muito da importação dos insumos. Na verdade, nossa ida até Brasília foi uma tentativa de adiantar este cronograma de vacinação, para todas as idades", salientou Casagrande.
Além destes temas, o governador do Estado também criticou a falta de liderança nacional, principalmente por parte de Jair Bolsonaro. Na visão de Casagrande, o presidente age contrariamente às necessidades urgentes que o país demanda em relação à pandemia.
"Puxado e liderado pelo presidente, não temos nenhuma expectativa de coordenação nacional. Ele (Jair Bolsonaro) desenvolve um trabalho contrário no enfrentamento do vírus. O que pedimos foi ao presidente da Câmara (Arthur Lira), que buscasse o senado para que tentássemos adiantar o cronograma de vacinação. Aqui no ES, pelo número de leitos que abrimos, estamos conseguindo manter uma certa ocupação, mas a realidade é diferente em outros estados", pontuou Casagrande complementando a polarização política praticada pelo presidente da República.
"A estratégia do Bolsonaro é uma só e que funciona para uma parte da sociedade. Ele não tem condição e competência para atuar na pandemia e usa muitas cortinas de fumaça. É o estilo e jeito dele em fazer este enfrentamento permanente. Ele alimenta os seguidores para que isso seja instrumento de luta política enquanto o país perde 1,7 mil de pessoas por dia, e que força nós, governadores, a perdemos tempo respondendo. Temos um orçamento próprio de R$ 13, 14 bilhões. Ele disse que encaminhou R$ 16 bilhões para cá. Fiz um apelo a ele para que nos chame para uma coordenação, mas quase que semanalmente temos que desmentir, pois se nada for falado, isso passa como verdade", lamentou.
Ainda neste sentido, o chefe do executivo capixaba lamentou que a ausência de uma coordenação nacional coloque o Brasil para trás nas negociações com as fabricantes e também interfere na tentativa dos estados se organizarem em busca de uma centralização alternativa, já que em Brasília não há um esforço neste sentido.
"O problema maior hoje é encontrar o fornecedor de vacinas. Estamos todos procurando, mas não há facilidade, pois todos que buscamos priorizam a venda para governos centrais. Estamos em contato com diversos laboratórios, nossa ideia é comprar todos os estados juntos, mas precisamos estar autorizados. Temos esta expectativa em breve. Especificamente para o Espírito Santo, se acharmos um que aceite vender em menor quantidade, compraremos.
Para exemplicar a lentidão na negociação por imunizantes, Casagrande citou a situação envolvendo a fabricante Pfizer. Caso um acordo fosse agilizado, a empresa apenas conseguiria enviar vacinas ao país em julho, com cerca de 8 milhões de doses. Um eventual segundo lote só seria possível em outubro, o que deixa o Brasil ainda mais atrasado na vacinação da população.
"O Brasil poderia estar numa posição melhor caso tivesse mais contratos por fornecedores. Vacina salva vidas e retoma a atividade econômica. Estamos reféns do calendário de vacinação", finalizou o governador do ES.
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