Cinco de outubro: esta não é a data em que o assessor de juiz Getúlio Junker Fonseca Júnior, de 45 anos, comemora o próprio aniversário, mas a última terça-feira (5 de outubro) marcou a celebração de uma nova vida para ele. Após longevos 109 dias internado em razão da Covid-19, ele recebeu alta médica do Hospital Meridional, em São Mateus, e pode, enfim, retornar para casa, na cidade de Pinheiros, no Norte do Estado.
Na saída, uma recepção havia sido montada por familiares e amigos para recebê-lo. Getúlio, com palavras ditas com a voz ainda fraca, emocionou a todos os presentes pela recuperação surpreendente obtida após um longo período de internação. A volta calorosa ao município pinheirense ocorreu sob aplausos, carreata, e com direito a uma transmissão nas redes sociais da igreja que ele e a família frequentam.
Todo esse afeto e atenção especial são mais que justificáveis. Após dar entrada no hospital mateense, as chances de sobrevivência chegaram a apenas 5% em determinado momento, de acordo com o prognóstico e avaliação feitos pelos profissionais da unidade, entre eles a auxiliar de patologia Sabrina Souza Otto, amiga da família e que trabalha em um laboratório dentro do hospital. Foi ela, aliás, quem filmou a saída emocionante dele pelos corredores do hospital.
"Eu perdi amigos, vi minha mãe ser infectada duas vezes em um intervalo de 90 dias, e que ainda sofre as sequelas. Eu mesmo duvidei que ele sairia porque, em alguns dias, a situação mostrava-se muito grave, mas a família nunca desistiu, muito menos ele. A história que vivenciei do Júnior me fez refletir e me ensinou muito. Estou desidratada de tanto chorar... cada vez que assisto ao vídeo, choro de novo. Cada dia é um dia novo, com novas esperanças", explicou Sabrina, que acabou tornando-se amiga dos familiares de Getúlio.
A saga hospitalar do assessor de juiz começou no dia 19 de junho. Mas antes, no dia 15, ele recebeu a primeira dose do imunizante (Astrazeneca), data em apresentou os primeiros sintomas. No dia 17, Getúlio consultou no hospital de Pinheiros e testou positivo para a Covid. Nesta altura, a febre não baixava mesmo com medicação. Dois dias depois, Getúlio foi a São Mateus para uma reavaliação e por lá já foi internado no dia 19 de junho. Inicialmente, a esposa dele, a analista judiciária Cidiléia Demo Nascimento Junker, de 44 anos, pensou se tratar de uma reação à vacina.
"O (Getúlio) Júnior começou a apresentar um quadro de febre muito alta após ser vacinado e pensei que fosse algo natural, como muitas pessoas que tomaram também relataram. Como não passava mesmo com medicação, desconfiamos e procuramos atendimento aqui em Pinheiros. Dias antes ele apresentou sintomas leves, mas piorou, por coincidência, depois da vacina, e isso nos confundiu. Foi recomendado que fizesse um teste, deu positivo e logo depois já fomos para São Mateus", contou a esposa.
Já na cidade vizinha, assim que chegou ao hospital, Getúlio foi internado em um quarto comum. Dois dias depois (21 de junho) o assessor foi transferido para a UTI e, logo na sequência, veio a intubação. A essa altura, o quadro clínico já havia se degradado bastante.
"Ele teve uma piora muito acentuada. No dia 23 precisaram intubar e assim ele permaneceu até o dia 6 de julho, quando os médicos tiveram que fazer uma traqueostomia (abertura na altura da traqueia por onde é introduzida a respiração mecânica no paciente). Foram dias difíceis, pois devido à Covid, as visitas no período de isolamento eram limitadíssimas e só tínhamos informação por meio dos boletins e pelo o que os médicos nos passavam, tinha dias que nem o via. Depois desse período eu passei a ter mais contato e podia ir até a UTI, onde ele estava. Mesmo com ele sedado, eu orava, cantava louvores para incentivá-lo, passava áudios dos nossos filhos, pois acreditava que isso faria diferença. Mais do que nunca, nessa hora tivemos de nos apegar ainda mais na fé que temos em Deus", explicou Cidiléia.
Diariamente, a assistente jurídica se dividia entre idas ao hospital e orações. Nesse momento, os pedidos pela cura de Getúlio já haviam ganhado apoio de familiares, amigos e mobilizaram muitas pessoas em Pinheiros, São Mateus e até fora do país.
"Meu marido é muito conhecido em Pinheiros, participa do grupo de Escoteiros e logo que souberam da gravidade do quadro, as pessoas começaram a incluir o nome dele nas preces e nos enviavam mensagens de apoio. Amigos de outros municípios e até da Argentina e Portugal também não nos permitiram desistir. A força de vontade dele em viver, junto das orações diversas recebidas e toda a assistência médica que ele recebeu, o ajudaram a sair dessa luta pela vida", comentou.
Nos mais de três meses internado, Getúlio sofreu uma parada cardíaca e só conseguiu ser reanimado pelos médicos após quase dois minutos de tentativas. Em determinado momento, o quadro era tão crítico que ele não poderia ser levado do quarto de UTI para realizar exames de tomografia ou raio-X, pois poderia não resistir.
"Esses foram os piores momentos. Saber que seu marido passa por isso e o que eu poderia fazer era confiar em Deus e na equipe médica. Ouvir que ele nem poderia descer para exames complementares foi muito difícil... Meu marido pesava cerca de 94 quilos quando internado e foi definhando, perdeu mais de 30 quilos. Foi a fé que nos manteve de pé", disse Cidiléia.
Para a alegria da família e todos os envolvidos, Getúlio apresentou evolução após os inúmeros procedimentos médicos. Desta forma, as medicações foram diminuídas e a extubação ocorreu no dia 8 de setembro. Dali em diante, ele foi se fortalecendo gradativamente até receber a alta hospitalar. Grato e muito emocionado, ele agradeceu aos profissionais que o aguardavam nos corredores.
Com o auxílio de uma cadeira de rodas até a porta da unidade, o servidor público deixou o hospital aplaudido pelos profissionais que direta ou indiretamente cuidaram dele nos 109 dias de internação. Mostrando estar recuperado, Getúlio entrou andando na ambulância que o levou até Pinheiros.
"Foi uma das cenas mais marcantes que pude presenciar e me emociono só de lembrar. Acompanhei de perto tudo o que ele e a família passaram. Ver uma pessoa que chegou a ter um quadro gravíssimo se recuperar praticamente sem sequelas nos enche de esperanças. Ele foi um exemplo para todos, pois nunca desistiu. Acho que a mensagem que fica é essa. O Getúlio foi uma inspiração", conta Sabrina.
Recuperado da Covid e já em casa, Getúlio agora recebe o carinho dos três filhos - Davi, de 11 anos, e os gêmeos André e Ana, de 5 anos . Por lá, já iniciou a rotina de recuperação, que incluiu muita fisioterapia respiratória e física para recuperar a capacidade pulmonar e musculatura, respectivamente, nutrição e alimentação especial, além de outros cuidados.
"Foi um milagre. Meu marido passou por muitas provações e saiu sem complicações graves. Nem os médicos sabem dizer como ele não teve problemas renais por conta do longo período internado. O pulmão dele esteve quase 100% comprometido, mas com a fisioterapia ele vai recuperar a capacidade plena de respirar gradativamente. Foi muito difícil, mas quando se acredita as coisas acontecem. Deus iluminou o Júnior e os médicos. Somos gratos e só temos a agradecer", enfatiza Cidiléia.
Enquanto o 2 de abril de 2022 não chega trazendo os 46 anos, Getúlio e a família podem comemorar o 5 de outubro. Não o aniversário, mas sim o ressignificado que a vida dele passou a ter - o dia que o pai de três filhos venceu 109 dias de internação em um hospital.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta