Os primeiros sinais de que algo não ia bem apareceram na mãe, Juliana Paixão Morais de Oliveira, em um final de semana. Sintomas gripais, mas sem maior gravidade. De segunda para terça-feira, a pequena Lis, de 2 anos, apresentou uma prostração incomum e foi levada para o hospital.
Pela manhã, uma notícia inesperada e assustadora: a criança seria colocada na UTI e, pela condição clínica, não poderia ser acompanhada por nem um familiar. Foram 14 dias de isolamento e muita angústia até que a a menina pudesse ser liberada para o quarto, e recebesse todo o afeto - presencial - dos pais.
Isso porque, em meio à crise, a equipe médica permitiu que os pais mantivessem contato com a Lis por videochamada e, dessa maneira, ela poderia saber o quanto era amada e que não estava sozinha. Era o que acalmava um pouco o coração de Juliana, que passou todos esses dias sobressaltada, aflita com cada ligação que recebia do hospital.
O drama da família começou naquela terça-feira pela manhã, 12 de maio, quando o exame de sangue de Lis mostrou-se com bastante alteração. A menina, que tem uma condição rara com malformação em vasos linfáticos, se encaixa no grupo de risco da Covid-19 e precisaria ser levada para a terapia intensiva, já que a mãe era um caso suspeito da doença. A indicação era manter a criança isolada, porém Juliana não imaginava que até ela teria que ficar afastada.
Mesmo com toda a contrariedade da família, Lis acabou internada na UTI, sem acompanhante, para que fizesse o tratamento. "No hospital, conversaram muito com a gente, mas precisei de um tempo para digerir. Eles diziam que estavam seguindo regras e, por conta da Covid-19, também precisavam se reinventar. O que faziam para amenizar eram as chamadas de vídeo ao longo do dia", revela a mãe.
Contudo, o quadro de Lis se agravou e ela precisou ser intubada. Do lado de fora da UTI, Juliana recebia a confirmação de que havia testado positivo para a Covid-19 e também teve que ficar isolada. "Foi um caos", ressalta a analista.
A infecção que acometeu a menina evoluiu para uma sepse e exigiu que ela usasse medicação radioativa para se restabelecer. Lis ficou 11 dias utilizando ventilador mecânico até que conseguisse respirar por conta própria.
"Das coisas que mais me fizeram ficar firme durante todo esse tempo foi eu saber que Deus tinha um propósito para isso tudo. Ele sabia de todo o cuidado que eu e meu marido sempre tivemos para cuidar da Lis. Tinha que acontecer com a gente. Foram tantas mensagens, tantas orações, até de pessoas que eu nunca vi na vida. Tomou uma proporção o número de pessoas rezando, inclusive de fora do país. Isso me manteve de pé", valoriza.
Juliana diz que conversava também com os enfermeiros e, para a equipe, Lis era um milagre diário de motivação entre todos. Ela sobreviveu, afirma a mãe, por um propósito maior.
Quando saiu da UTI, Lis estava ainda bastante debilitada, mas o reencontro com a família ajudou no processo de recuperação. Juliana conta que a menina chorou muito, aliás, todos choraram ao ter de volta a filha nos braços.
Hoje, a menina está curada, embora o diagnóstico não tenha sido conclusivo para a Covid-19. Os profissionais que realizaram o atendimento, em um hospital particular, informaram que o quadro clínico da criança indicava infecção pelo coronavírus e, em 40% dos casos de pessoas que são intubadas, o resultado do exame é falso negativo.
Em 22 de junho, Juliana fez aniversário e reconhece que ter a filha em casa é o melhor presente que poderia receber. Hoje, mesmo nos dias mais exaustivos, se a Lis pede colo, a analista não hesita. "Eu dou colo, abraço e beijo. Pedi tanto para ela voltar para mim, que nem penso em negar. E todo dia ela nos surpreende, aprendemos com ela, que fala: 'não fica triste, eu tô aqui'".
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