Após ver pegadas de uma possível onça na propriedade rural do pai, no interior de Mimoso do Sul, no Sul do Espírito Santo, o empresário Lucas Pereira Lopes resolveu instalar uma câmera para flagrar o felino. A expectativa dele, era ver uma onça-parda, como vista recentemente em Atílio Vivácqua, mas acabou capturando a imagem de uma "prima".
O flagrante, segundo Lucas, filho de um produtor rural da localidade de Alto Pratinha, foi feito no dia 27 de fevereiro, mas somente há alguns dias, ele viu o que a câmera havia registrado. “Vi as pegadas próximo de uma mata e resolvi colocar a câmera. Nunca imaginei que pudesse flagra uma onça-pintada aqui, cheguei a tremer quando vi”, contou Lucas.
A propriedade fica a 12 quilômetros da sede e faz divisa com o Monumento Serra das Torres (Monast), unidade ambiental que abrange partes dos municípios de Atílio Vivácqua, Muqui e Mimoso do Sul. A reserva é administrada pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema).
Um biólogo que presta serviços ao Mosnast, Rafael dos Santos, esteve no local para averiguar a veracidade das imagens e comunicou aos órgãos ambientais. Segundo informações do profissional, o último registro na região Sul do Estado aconteceu em 1996, no Parque Estadual do Forno Grande.
A onça-pintada é o maior felino das Américas e, no Espírito Santo, possui espécies em monitoramento em reservas ecológicas na Região Norte.
Apesar de surpreso e encantado com o registro, Rafael dos Santos teme pela segurança do animal. “É um animal muito bonito e fiquei até com receio na divulgação das imagens, pois alguém pode tentar fazer o mal a ela”, disse Rafael.
O Iema e a Prefeitura de Mimoso do Sul também foram procuradas pela reportagem, mas não houve retorno da demanda.
Nos últimos meses, uma onça-parda foi vista pelas armadilhas fotográficas colocadas pelo Monast em Atílio Vivácqua. Na época, moradores do entorno que viram pegadas nas imediações das propriedades foram orientados sobre ações para manter o felino longe das casas.
A coordenadora do Projeto Felinos e Professora Titular na Universidade Vila Velha, Ana Carolina Srbek de Araujo, que é especialista no assunto, explicou que há onças-pintadas no Espírito Santo, mas a espécie, atualmente, está restrita ao Norte do Estado, na região conhecida como Complexo Florestal Linhares – Sooretama.
Segundo Ana, estima-se de que há, no máximo, 20 animais que residem e permanecem nessa área. ”Então isso define uma população residente”, informou.
A coordenadora também disse que, desde a década de 90, por volta de 1996, não há registro de onça-pintada fora dessa região em todo o Estado. “Os últimos registros na região Serrana e no Sul do Estado são por volta 1996. Por isso que esse registro agora é tão surpreendente”, esclareceu.
Ela contou que nessas regiões não tem um volume de mata suficiente para manter uma população desse tipo de animal. “A gente nunca registrou onça-pintada. A gente tem registro de onça-parda e de outros felinos de menor tamanho, como jaguatirica, por exemplo”, comentou.
Nesta quarta-feira (8), Ana esteve em um reunião com representantes do Iema, Ibama e Vale para que fossem alinhadas as ações que estão e serão realizadas sobre a aparição da onça em Mimoso do Sul.
Na ocasião, foi estabelecida uma parceria para intensificar os monitoramentos que são feitos nessa região e, assim, tentar identificar se esse animal vai se estabelecer ou se vai se deslocar para outro local.
Além disso, serão realizadas ações com a população. “A presença desses animais, geralmente, gera medo e receio das pessoas, então a gente já vai iniciar nessa semana um conjunto de visitas nas áreas, além do monitoramento que já vinha sendo feito” pronunciou Ana.
De acordo com a especialista, o animal é um macho aparentemente jovem, que teria vindo de outro lugar. “E, supostamente, as áreas maiores que a gente têm mais próximas são no estado do Rio de Janeiro, que poderiam comportar também populações e residentes. Eventualmente, esse animal poderia ter saído dessa região em busca de território e teria chegado até ali na região de Mimoso do Sul”, apontou.
A coordenadora do Projeto Felinos destacou que, geralmente são os machos jovens que se dispersam. “Ou seja, que saem dos territórios de origem e vão para outras áreas. Isso acontece porque os machos são mais territorialistas e evitam sobrepor áreas com muitos machos”, explicou.
E falou, ainda, que essa onça, provavelmente, está de passagem na região, mas não dá para afirmar se ela vai estabelecer um território ou se vai continuar caminhando.
Em nota, o Ibama disse que, no dia 6 de março, recebeu o vídeo mencionado. E no dia 27 de fevereiro, a equipe havia participado de uma reunião com proprietários rurais sobre conflitos com predadores naturais na região do Monumento Natural de Serra das Torres, nos municípios de Atílio Vivácqua e Muqui.
Segundo o órgão, “em 2022, foram realizadas oficinas em diversos municípios do Estado a fim de orientar proprietários rurais e secretarias municipais de meio ambiente a respeito da convivência com animais silvestres. Além disso, o Ibama distribui materiais educativos em formato digital”.
Por fim, Ibama informou que tem o propósito de encaminhar equipe ainda nesta semana para avaliar a ocorrência.
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