A decisão da Prefeitura de Vitória de instalar um centro de quarentena para pacientes com Covid-19 no Sambão do Povo, na região de Santo Antônio, causou insatisfação a moradores do entorno da estrutura erguida originalmente para o carnaval. A comunidade se queixava da falta de diálogo da administração municipal, mostrando-se preocupada com a disseminação do coronavírus na população local, e as obras de adaptação do espaço acabaram suspensas. Após negociações, um acordo foi fechado nesta segunda-feira (22), mas a inauguração prevista para a quarta (24) foi adiada para a próxima semana.
Presidente da Associação de Moradores do bairro Mário Cypreste, Claudio Barcellos conta que o acordo foi feito, até porque, na sua opinião, atos de resistência poderiam resultar em conflitos com a polícia, mas que a comunidade continua insatisfeita. Para minimizar os impactos, foram negociadas medidas de compensação com a prefeitura, intermediadas pelo Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES).
"Não somos favoráveis, mas entendemos que, neste momento de pandemia e mediante as argumentações, deveríamos acatar a determinação do Ministério Público, evitar a judicialização e um risco de conflito. E, diante de todos os protocolos que a prefeitura se comprometeu conosco, aceitamos a instalação", diz Barcellos, acrescentando que, na reunião desta segunda, havia outros membros da comunidade participando da discussão e a decisão pelo acordo não foi tomada apenas por ele.
Algumas solicitações apresentadas pelos moradores já estão na programação da prefeitura, segundo afirma Bruno Toledo, coordenador do Comitê de Gerenciamento das Políticas Sociais dos Impactos Causados pela Covid-19. Entre as medidas está o monitoramento da população do entorno do Sambão, com a equipe de vigilância sanitária, para acompanhar o eventual surgimento de sintomas da doença.
"Fizemos muitas conversas nos últimos dias, e hoje pactuamos alguns pontos centrais. A grande questão era garantir para a comunidade que a ida do centro de quarentena para o Sambão não ofereceria risco. Havia muita preocupação sobre haver um aumento da Covid no entorno. Conversamos para esclarecer a escolha do Sambão, que não foi aleatória. Não havia alternativas na cidade, tanto do ponto de vista técnico e de viabilidade financeira, quanto de possibilidade de adaptação rápida", explica Toledo.
Além do monitoramento da saúde, no pacote de ações também estão previstos o bloqueio da circulação de pessoas no beco atrás do Sambão; controle do trânsito com redução da velocidade dos veículos que trafegam pela região; aumento da segurança, com apoio efetivo da Guarda Municipal; sanitização (limpeza com bombas de aspersão) diária da estrutura externa do centro de quarentena; e distribuição de máscaras para moradores.
Bruno Toledo aponta, ainda, que há uma possibilidade de ampliar a produção da alimentação que será fornecida no centro de quarentena e distribuir também a algumas famílias em condição de vulnerabilidade social do entorno do Sambão, bem como tentar aumentar a oferta de trabalho para moradores da comunidade.
O centro de quarentena vai abrigar um público em vulnerabilidade social, entre idosos, pessoas em situação de rua e deficientes, com quadro clínico que não precise de internação. O espaço terá capacidade para atender até 50 pessoas de uma só vez e a previsão é que permaneça em operação por seis meses, beneficiando cerca de 800 moradores de Vitória que não têm condições de cumprir o isolamento social de maneira adequada para evitar a disseminação da Covid-19.
Com as divergências que surgiram desde o anúncio da adaptação do espaço para pessoas com coronavírus, inclusive com trabalhadores sendo impedidos de entrar no Sambão na última sexta-feira (19), Bruno Toledo explica que a prefeitura decidiu suspender as obras até que houvesse um entendimento com a comunidade, mas o cronograma para entrega do serviço acabou sendo afetado. A expectativa é de que o centro de quarentena seja aberto na próxima segunda (29).
O MPES informou por nota que, ao final da reunião, ficou acordado que o presidente da associação comunitária constituirá uma comissão, com até cinco pessoas, para acompanhar as obras de estruturação do centro de quarentena no Sambão, e que as intervenções serão reiniciadas nesta terça-feira (23).
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