Após um período de cinco semanas estando abaixo de 1, apresentando já uma tendência de estabilização, a taxa de contágio do novo coronavírus voltou a crescer no interior do Espírito Santo, alcançando agora 1,04. Dentre os motivos do crescimento estão as aglomerações promovidas principalmente por jovens no Carnaval.
O ideal é que a taxa de transmissão, chamada de Rt - "ritmo de contágio" - , e que traduz o potencial de propagação de um vírus, se mantenha abaixo de 1. Acima de 1, significa que 100 indivíduos infectados podem passar a doença para mais de 100 pessoas. Em abril de 2020, por exemplo, a taxa chegou a 3,44. Ou seja, 100 infectados eram capazes de transmitir o vírus para mais de 340 pessoas.
O levantamento, que corresponde a realidade do pandemia no dia 19 de fevereiro, - data que respeita o período de 15 dias necessários para o Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE) analisar os dados - aponta que das nove microrregiões do interior do Estado, seis delas estão com taxas superiores a 1. São elas: Central Sul (1,1), Litoral Sul (1,02), Caparaó (1,5), Noroeste (1,15), Centro Oeste (1,11) e Central Serrana (1,76). Outras três se aproximam do mesmo marco: Nordeste (0,74), Rio Doce (0,8) e Sudoeste Serrana (0,9).
A taxa de contágio do Estado está em 0,81, ainda se mantendo abaixo de 1 em função do peso da Rt da Grande Vitória - que já chegou a 0,93, as abaixou e está em 0,49 -, e que concentra quase a metade da população que vive em solo capixaba.
Pablo Lira, diretor de Integração e Projetos Especiais do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), avalia que embora a taxa se refira a semana de 19 de fevereiro, em seu cálculo são considerados outros indicadores que permitem atualizá-la. É o caso da Média Móvel de Óbitos (MMO) dos últimos 14 dias, que no início de fevereiro estava em 16, com tendência de queda, e que nesta sexta-feira (12), segundo dados do Painel Covid-19 do ES, está em 18, com tendência de crescimento.
Outro indicador que também é considerado na avaliação da taxa de contágio é a ocupação de leitos hospitalares que vem aumentando. Há duas semanas estava em 70% e após o meio-dia desta sexta-feira (12) já tinha alcançado 84,53%.
“Nas próximas semanas a Rt vai começar a registrar o que já estamos percebendo, um aumento da velocidade de contágio”, assinalou Lira.
Um dos fatores responsáveis pelo crescimento do contágio são as aglomerações registradas durante o Carnaval, em várias cidades do Espírito Santo.
Como a maioria dos que delas participaram eram jovens, a chamada janela epidemiológica acaba sendo maior. Trata-se do período de tempo, que varia de 14 a 21 dias, para que se tenha repercussão de determinados eventos nos indicadores epidemiológicos, ou seja, a pessoa apresentar os sintomas da doença.
“Contando a partir da quarta-feira de cinzas, completou 21 dias em 10 de março. É uma possível explicação considerando o que ocorreu em várias cidades. Atitudes inconsequentes e que estamos agora sentindo os reflexos do impacto e com um preço bem alto a ser pago”, pondera Lira.
Outro fator importante é que estamos no período das síndromes respiratórias mais graves e que também, explica Pablo Lira, podem ajudar a pressionar os serviços de saúde. A Covid- é uma destas síndromes respiratórias.
E há ainda a pressão vinda dos estados vizinhos, que enfrentam dificuldades e cujos moradores podem buscar o sistema de saúde do Espírito Santo.
“Mais de 20 estados brasileiros estão em colapso ou a beira dele. Estados vizinhos estão enfrentando problemas, e podem buscar o nosso sistema de saúde, o que pode exercer uma certa pressão no sistema público. A rede privada já está sendo demandada por pacientes de outros estado”, acrescenta Lira.
Em entrevista nesta sexta-feira (12), o secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, informou que a vinda de pacientes de outros estados para o Espírito Santo foi suspensa.
Outro problema, aponta Lira, vem do ritmo da vacinação, bem diferente de outros países. “Brasil tem 4% da população vacinada enquanto outros países avançam mais rápido. Por falta de planejamento e gestão do governo federal, vamos pagar um preço alto. Começamos atrasados e não temos ritmo para vacinação em massa”, destaca.
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