Com um círculo de amizades em que pelo menos 14 pessoas, no Brasil e no exterior, morreram em decorrência da Covid-19, o professor em MBA e palestrante Sidemberg Rodrigues, 58 anos, tinha plena noção da gravidade da doença e os protocolos de saúde sempre fizeram parte da rotina da família. Entretanto, mesmo com todos os cuidados, ele, a mulher e os dois filhos foram infectados pelo coronavírus.
Cada membro da família reagiu de maneira distinta à Covid-19, com sintomas de maior ou menor intensidade, e diferentes níveis de comprometimento de seu quadro geral de saúde. Cláudia, a esposa do professor, foi quem sofreu os maiores impactos da doença, inclusive com um episódio de fraqueza, que resultou em queda, corte e sete pontos na cabeça.
Para Sidemberg, ainda que na família ninguém tenha evoluído com gravidade a ponto de precisar de internação, a recuperação de todos é um milagre.
"Penso que sim, na medida em que atrasamos na busca de ajuda e, mesmo perdendo prazo, conseguimos recuperar. Essa doença é muito traiçoeira e cada pessoa responde diferente ao tratamento. Todos que se livram dela devem agradecer, já que ninguém sabe quem se salvará", valoriza.
O atraso a que se refere Sidemberg é que, apesar dos sintomas, a família apenas foi atrás de assistência após o resultado do exame dar positivo. A conduta nada tem a ver com displicência, mas, ao contrário, uma resposta a uma orientação recorrente de que as pessoas somente devem buscar uma unidade de saúde na hipótese de uma síndrome respiratória grave, ou tratamento caso tenham diagnóstico da doença.
Na opinião de Sidemberg, o diagnóstico precoce pode fazer toda a diferença nos cuidados e recuperação do paciente. Embora, no caso da sua família, a confirmação do contágio tenha se dado já numa segunda etapa da evolução da doença, o fato de todos terem conseguido se restabelecer sem maiores complicações é celebrado.
"Tudo, para mim, é um milagre. Meus filhos tiveram sintomas leves. Comigo, os sintomas foram moderados, apesar de ser hipertenso e sedentário. Contrariei tudo que é estatística. Minha esposa, mesmo com sintomas mais fortes, não precisou ser internada", aponta.
Com longa trajetória profissional em uma multinacional, Sidemberg estabeleceu relacionamentos em várias países, de onde também veio boa parte de suas perdas frente à Covid-19. Questionado sobre as mortes, o agora professor avalia que, sobretudo no exterior, seus amigos não deram a devida importância para a doença, e mantiveram hábitos como frequentar pubs e restaurantes. Máscara também não fazia parte do vestuário quando saíam às ruas.
"Esta é uma doença que mais precisa de autorresponsabilidade. As pessoas que morreram, saíram, foram almoçar fora, não usaram máscara, minimizaram a gravidade da doença que, em estágio inicial, é mais simples de tratar. Muita gente pensa que 'não bebo, não fumo, vou passar por isso tranquilo'. Mas é preciso ter seriedade, procurar ajuda, seguir o tratamento até o fim. Não dá para saber quem vai evoluir com gravidade. Na minha casa, com cada um foi de um jeito", observa.
Sidemberg diz que, com o resultado positivo, ele ficou mais rigoroso dentro de casa, tanto para que todos cumprissem o tratamento médico indicado, quanto para as medidas de higienização dos ambientes. "Perdi muita gente, e o medo que eu estava era tão grande, com quatro infectados de uma vez em casa, que praticamente adotei um regime militar. Só quero morrer de causa natural", finaliza.
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