SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Brasil enfrenta uma explosão de casos de Covid impulsionada pela variante ômicron. Em meio a esse cenário, a vacinação contra o vírus continua.
Com mais de 67% da população brasileira vacinada com o esquema primário - de duas doses ou de dose única -, grande parte das pessoas se prepara para receber o reforço do imunizante, que deve ser aplicado quatro meses após a segunda dose.
Porém, de acordo com uma nota técnica do Ministério da Saúde, quem foi infectado pela Covid-19 deve adiar a vacinação por pelo menos quatro semanas após o início dos sintomas --pessoas assintomáticas deve esperar quatro semanas a partir do primeiro exame de PCR positivo.
A nota também destaca a necessidade de esperar a recuperação clínica total para então tomar a dose adicional, caso a enfermidade dure mais tempo.
A orientação quanto ao intervalo de quatro semanas no caso de infectados pela Covid-19, na verdade, independe se o paciente estiver em busca da primeira, segunda ou terceira dose.
O médico Renato Kfouri, diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), explica que, caso uma pessoa apresente sintomas de resfriado e a Covid-19 seja descartada, não há problema em receber o imunizante. O único ponto de atenção, nessa situação, é não ter tido febre nas últimas 48 horas.
Kfouri, no entanto, analisa que, provavelmente, desde o início da vacinação, muitas pessoas com Covid-19 assintomáticas foram vacinadas e que o intervalo proposto não se trata de uma medida com evidência científica que demonstrou a vacina faria mal ou teria necessariamente um desempenho diferente, mas, sim, de uma precaução.
"A recomendação é com base naquilo que se entende de outras doenças, na base de convalescença [termo que se refere ao período de recuperação que uma pessoa passa após alguma doença]", diz ele.
O médico André Ricardo Ribas Freitas, professor de epidemiologia da Faculdade de Medicina São Leopoldo Mandic, explica que a orientação de adiar a vacinação após ser infectado pelo vírus tem relação com a produção de anticorpos durante esse período.
"Ao receber o antígeno, o corpo do paciente começa a produzir anticorpos para neutralizar o vírus e, ao produzir anticorpos, o corpo está aprendendo a se defender. Se o paciente já tem níveis de anticorpos suficientemente altos para neutralizar esse vírus, a vacina corre o risco de a vacina não fazer efeito", explica Freitas.
Por isso, ele afirma, as quatro semanas seriam o tempo necessário para a redução dos níveis de anticorpos. Assim, quando o paciente receber a injeção, seu sistema imunológico estará preparado para trabalhar com novos anticorpos.
O médico reforça que a infecção por Covid-19 não garante a imunização pela doença, por isso a vacinação é necessária para conter o vírus.
"Os anticorpos que interessam para neutralizar o vírus são aqueles capazes de neutralizar a proteína spike. Não é por que o vírus tem mais anticorpos que a vacina que a infecção é mais efetiva", diz ele.
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