Parafraseando a expressão "de grão em grão a galinha enche o papo", é edificando e moldando minúsculos grãos de areia que o escultor Marcos da Silva Picoreti, de 35 anos, constrói verdadeiros castelos e outros monumentos icônicos do Espírito Santo, do Brasil e de outros pontos do mundo pelas praias capixabas, nordestinas e de outros locais do país.
Nascido em Vitória, há mais de duas décadas ele transformou a brincadeira de fazer castelinhos de areia no sustento da própria família. Pais de três filhos, sendo dois gêmeos, e morador de Cariacica, ele começou bem cedo a construir esculturas. Logo viu que o talento nato para este tipo de arte poderia levá-lo a conhecer inúmeros balneários.
"Desde bem novinho eu já fazia meus castelinhos na praia, mas foi com 11 anos que eu comecei a levar a brincadeira mais a sério. Fui melhorando minhas esculturas e construindo meus castelos cada vez mais. Com os anos, fui aprimorando a técnica e diversificando. Hoje faço castelos gigantes, monumentos como o Convento da Penha, Cristo Redentor, Maracanã e o que mais tenho vontade em fazer", contou Marcos.
O acabamento que aplica nas obras é um indicativo do quão trabalhoso é construir as esculturas, que precisam resistir a ação da natureza e também das pessoas que não respeitam os limites do espaço. O trabalho mais recente de Marcos foi feito na Praia do Morro, em Guarapari na semana passada. O dragão acorrentado em um castelo, contudo, não resistiu às chuvas que castigaram a cidade e o Estado nos últimos dias. Esta obra, inclusive, foi a postagem de "bom dia" do Instagram de A Gazeta desta terça-feira (27) e já ultrapassou a marca de 15 mil curtidas.
"Levo muito tempo para fazer as obras. Nessa foram umas cinco horas só para esculpir o dragão e quase uma noite inteira para subir com o castelo. E olha que nem foi das maiores. Já fiz um castelo de 12 metros de altura no ano de 2015. Para preservar meu trabalho, durmo do lado dele enquanto fica de pé. Geralmente mudo a cada semana de praia ou até quando o mar deixa. Acontece muito das ondas, vento e até pessoas danificarem os desenhos, aí tenho de fazer outros", detalhou o artista.
Para construir os desenhos, Marcos usa apenas uma pá para amontoar a matéria-prima em abundância e espátulas de diferentes tamanhos e medidas, que dão o acabamento necessário. Quando quer enfeitar ainda mais, o artista usa tinta à base d'água que não agride o meio ambiente para tingir a areia. Como não poderia deixar de ser, os trabalhos dele viram atração e chamam a atenção de banhistas e frequentadores dos locais de exibição.
"O pessoal para muito para ver, tira foto, reconhece meu trabalho. Eu faço os desenhos bem acelerado, mas quando tem gente vendo, eu faço com mais calma para que possam ver eu trabalhando. É bom esse reconhecimento. Tem pessoas que ficam horas vendo eu esculpir a areia até ela ganhar a forma desejada", contou Marco, que faz todos os desenhos com o que tem no imaginário.
Apesar de satisfeito com o trabalho que faz, a pandemia atingiu em cheio a renda de Marcos. Pai de três crianças, ele viu despencar as doações que recebia das pessoas devido à pandemia do novo coronavírus. Com a proibição para frequentar praias para evitar o contágio da doença, o artista não pode mais trabalhar e consequentemente deixou de receber a ajuda dos admiradores.
Para não ver os filhos passando por necessidades, ele fez bico como feirante no bairro Porto Novo, em Cariacica, onde mora em um quartinho simples e apertado com a família. Habituado em construir castelos de areia, o escultor sonha em erguer uma casa digna para ele, a esposa e os meninos (Matheus, Mathias e Isaque).
"A ajuda que eu queria era mesmo era para ter um lugar digno para meus filhos, pois o que ganho hoje na praia não dá para sustentar direito. Não precisa ser nem dinheiro, pode me ajudar doando um tijolo ou saco de cimento, que eu mesmo construo minha casinha. Hoje moramos em um quartinho que minha sogra arrumou, mas o teto está descascando, as paredes estão com infiltração e por aí vai. Se conseguir fazer uma reforma já vai ficar bem melhor para nós. A gente tinha de mudar sempre porque não temos casa própria", disse Marco.
Além das doações que recebe nos locais onde monta as esculturas, Marco também divulga o trabalho no Instagram, no perfil "Areias Capixaba". Sem cobrara nada das pessoas, ele tira o próprio sustento do que recebe após horas montando as obras. Ele também possui conta no PicPay, no perfil @marcos.picoreti. O contato do artista é o 27 98816-9719.
É contando com a solidariedade e confiança no reconhecimento das pessoas, que ele espera seguir construindo não apenas as esculturas, mas também as paredes da própria casa.
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