O veterinário Thiago Oliveira do Nascimento, filiado ao PL em Vila Velha, teria usado o próprio telefone celular e fornecido diversas informações pessoais ao extorquir dinheiro de um milionário indiano, aponta a investigação do Ministério Público do Espírito Santo (MPES).
Ele foi preso nesta terça-feira (23) em uma ação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPES. O mandado de prisão temporária (por cinco dias, prorrogáveis) foi expedido pela juíza Paula Cheim Jorge, da 2ª Vara Criminal de Vila Velha. Na tarde desta quarta-feira (24), ele passou por audiência de custódia e teve a prisão mantida.
O investigado teria obtido pelo menos US$ 1,8 milhão (cerca de R$ 9 milhões) em criptomoedas ao ameaçar revelar imagens e mensagens que provavam que o empresário estrangeiro teria mantido um relacionamento extraconjugal. O caso ainda está em fase de investigação, ou seja, Thiago não responde oficialmente a um processo na Justiça e tem direito a defesa. A Gazeta tenta contato com o advogado dele.
A denúncia chegou ao Ministério Público pelos advogados do magnata, que concedeu acesso aos dados do aparelho celular dele com as trocas de mensagens entre os dois. Em diversos momentos, segundo informações extraídas do telefone do empresário, Thiago fornece dados que o identificariam como autor da extorsão.
As ameaças e os pedidos de dinheiro começaram em 2021. Em outubro daquele ano, Thiago Nascimento exigiu, de acordo com o Gaeco, firmar um acordo com o empresário, um tipo de “contrato”, em que a vítima pagaria US$ 2,5 milhões (cerca de R$ 13,6 milhões, à época) para que as provas do caso extraconjugal fossem destruídas.
O suposto contrato foi assinado pelo veterinário usando a certificação digital do governo federal brasileiro, o Gov.br. É possível acessar os dados pessoais, como CPF, data de nascimento, nome da mãe e profissão de quem assina um documento com a certificação Gov.br através de um sistema público de verificação.
Em outra mensagem, em outubro de 2022, o magnata pediu os dados bancários de Thiago para fazer uma das transferências acordadas entre os dois. Thiago respondeu fornecendo, entre outras informações, seu endereço residencial.
Além disso, ainda segundo dados obtidos pelo Gaeco, o investigado teria escrito uma carta em que revelava o caso extraconjugal do indiano, que seria enviada aos familiares e contatos profissionais dele caso ele não fizesse os pagamentos exigidos. Na carta, o veterinário dava seu nome completo e relatava ter se relacionado com a mesma brasileira com quem o empresário teria tido o affair.
“Devido à posição proeminente como grande empresário e investidor, além de ser marido e pai de família com raízes na cultura indiana, as ameaças dirigidas ao empresário incluíam a divulgação de informações comprometedoras e fotografias sensíveis para seus colegas de trabalho, autoridades governamentais francesas ou africanas e membros de sua família na Índia”, escreveram os investigadores no documento obtido pela colunista Letícia Gonçalves.
O Gaeco apurou que Nascimento movimentou R$ 5 milhões em imóveis entre o fim de 2021 e julho de 2023. Foram feitas compras e vendas de apartamentos, vagas de garagem, uma sala comercial e um terreno.
Também chamou a atenção dos investigadores o “vultoso aumento” no capital social da clínica veterinária comandada pelo suspeito, localizada na Praia da Costa, em Vila Velha, que passou de R$ 30 mil em 2019 para R$ 1,5 milhão em 2023.
“Todos esses fatos demonstram, portanto, a possível utilização de parte dos aportes de investimentos feitos com os pagamentos oriundos da extorsão em face da vítima”, diz o MPES, em documento sigiloso ao qual a coluna teve acesso.
Em 2022, quando disputou com o nome de urna "Thiago Oliveira", o veterinário declarou à Justiça Eleitoral ter R$ 9,5 milhões em bens, como um carro de R$ 350 mil, um apartamento duplex de R$ 1,6 milhão e R$ 2,4 milhões em rendimentos de aplicações financeiras.
Para a campanha daquele ano, segundo o site Divulgacand, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele recebeu R$ 350 mil em recursos, sendo R$ 120 mil do próprio bolso.
Thiago Nascimento é filiado ao PL e, embora o partido não tenha anunciado oficialmente, era apontado nos bastidores como um dos nomes prováveis da sigla para disputar a Prefeitura de Vila Velha.
O PL, em comunicado enviado à imprensa, afirmou que o filiado não foi declarado oficialmente pré-candidato e que “repudia qualquer conduta que não esteja alinhada com valores morais sólidos”.
O Partido Liberal de Vila Velha emitiu uma declaração oficial em resposta à prisão do filiado Thiago Oliveira do Nascimento, ocorrida hoje, 23/01/24. Esclarecemos que tomamos conhecimento do ocorrido pela imprensa e, neste momento, reforçamos que o partido não pode ser responsabilizado pelos atos individuais de seus afiliados.
Diante da investigação em curso, destacamos que o partido repudia firmemente qualquer conduta que não esteja alinhada com valores morais sólidos. Salientamos que, em nenhum momento, o senador Magno Malta, presidente do PL-ES, ou qualquer representante oficial do partido, declarou Thiago Oliveira como pré-candidato.
Portanto, não podemos nos responsabilizar por especulações políticas envolvendo o seu nome. Reiteramos o compromisso do partido com a verdade e com o trabalho sério em prol do município de Vila Velha. Estamos comprometidos em manter a integridade e a transparência em todas as nossas ações, reafirmando o nosso papel na construção de uma sociedade justa e ética.
Carlos Salvador - Presidente do PL de Vila Velha
Em razão de recentes publicações realizadas por meios de comunicação sobre a deflagração de operação denominada CriptoVet, informamos que tramita no âmbito do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado – GAECO do Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES) procedimento sigiloso de investigação para apuração de crimes de extorsão, lavagem de dinheiro, com utilização de criptomoedas.
Em decorrência das investigações, na data de 23/01 (terça-feira), foram cumpridos mandados de busca expedidos pela 2ª Vara Criminal de Vila Velha, que acolheu pedidos do Ministério Público em desfavor de um dos investigados. As buscas resultaram na apreensão documentos e dispositivos eletrônicos, que serão analisados pelo MPES, além de valores em espécie e armas de fogo, sem a apresentação dos devidos registros legais.
Na mesma data, foi efetivada a ordem judicial de prisão temporária em desfavor de um dos investigados, decretada pelo prazo de 5 dias, conforme determina a lei processual, e mantida em audiência de custódia realizada na data de ontem (24/01).
As investigações do MPES não estão concluídas e seguem em sigilo, necessário para se garantir a apuração da verdade, com exercício do contraditório e da ampla defesa, além de preservação de direitos da vítima. Informações adicionais sobre procedimentos podem ser obtidas junto à Assessoria de Comunicação do MPES.
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