Remédio popular, de fácil acesso e com preço acessível, a aspirina (ácido acetilsalicilico), ou AAS, pode não ser tão inofensiva quanto se poderia imaginar. Um conjunto inicial de diretrizes de um painel de especialistas dos Estados Unidos indica que, em alguns casos, o risco de efeitos colaterais graves supera os benefícios que a medicação possa trazer para diversos tratamentos, tais como prevenção ao ataque cardíaco ou derrame.
O estudo americano vai ao encontro do entendimento de especialistas locais. Para a neurologista Soo Yang Lee, o uso do AAS deve ser feito com mais cautela ainda do que o uso de antibióticos, por poder trazer risco maior e mais imediato à saúde.
“Realmente foi uma medicação muito utilizada em casos de infartos cardíacos e cerebrais. Mas com o envelhecimento da população, temos observado que o uso prolongado tem aumentado o risco de hemorragia”, destaca.
O que ocorre é que, sob o efeito da aspirina, o organismo pode ter dificuldades em conter situações de sangramento. O hematologista Rafael Rocha de Lima explica que o medicamento faz com que as plaquetas percam sua função.
“A aspirina, o AAS, tem ação antiagregante plaquetária, isso quer dizer que ela inibe que uma plaqueta se agregue a outra e evita a formação de trombos, prevenindo episódios de infarto e AVC. Mas, em caso de sangramento, ela também impede que as plaquetas formem o tampão que estanca esse sangramento. Portanto, com a medicação, as plaquetas acabam perdendo a sua funcionalidade”, frisa.
Entre as orientações da força-tarefa americana, está ainda que os médicos não devem mais indicar a medicação para a maioria das pessoas que têm risco alto para doenças cardíacas.
“Para a prevenção primária, quando a pessoa não tem a doença, a aspirina não é indicada. Somente se for risco secundário, quando a pessoa já tem a doença, mesmo assim em doses controladas pelo médico, analisada caso a caso, em quantidade reduzida. E não deve ser usada jamais sem orientação médica, por meio de automedicação”, diz o cardiologista Diogo Barreto, coordenador do Serviço de Cardiologia do Hospital Evangélico.
“O estudo americano atual pega os estudos de 2018 e mostra que não há benefícios do uso da aspirina na prevenção. Passa a poder tomar quem tem diagnóstico da doença coronariana, sob rígido acompanhamento de médico cardiologista ou neurologista, quem já teve evento, na prevenção de um segundo. O recado muito grande é sobre automedicação. Pois é remédio de fácil acesso, baixo custo, porém a automedicação jamais deve ser realizada”, complementa Barreto.
O hematologista Rafael Rocha Lima lembra que o estudo realizado pela Forca-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos para avaliar a utilização profilática da aspirina em algumas situações ainda está em período de consulta pública até início de novembro, quando será publicada a versão final.
“Importante destacar que os cardiologistas, neurologistas ou qualquer outro profissional médico utilizam alguns protocolos para avaliar o benefício e o risco da medicação, indicando a utilização da medicação quando o benefício é maior do que o risco”, reforça.
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