A imunização contra a Covid-19, combinada com a manutenção de protocolos de higienização e segurança, é a estratégia mais eficiente para o controle da pandemia. No Brasil, a maioria das vacinas aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) necessita de aplicação em duas doses para atingir a eficácia garantida pelos laboratórios fabricantes.
No entanto, muitas pessoas que chegaram a tomar a primeira dose da vacina não estão voltando aos postos de saúde para a aplicação da segunda. No Espírito Santo, o problema acontece com o imunizante da Astrazeneca.
De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), 19.029 capixabas ainda não retornaram aos serviços de saúde para a complementação do esquema vacinal da vacina Astrazeneca.
Os dados foram atualizados na última quinta-feira (01º) e são referentes aos esquemas superiores a 85 dias, ou seja, de cidadãos que receberam a primeira dose entre janeiro até o dia 24 de abril deste ano.
Segundo a coordenadora do Programa Estadual de Imunizações e Vigilância das Doenças Imunopreveníveis (PEI), Danielle Grillo, o Estado junto aos municípios tem semanalmente realizado trabalho conjunto com o objetivo de diminuir esse número para garantir a eficácia da vacina e a cobertura vacinal ideal.
“Mandamos semanalmente aos municípios a listagem nominal para que seja feita a busca ativa no território de todos aqueles que estão com esquema com mais de 85 dias. Além disso, o Estado tem realizado o envio de cerca de 10 mil SMS por semana aos números disponibilizados no sistema”, disse Danielle Grillo.
Com a complementação total das mais de 19 mil doses em atraso, o Estado passaria da cobertura vacinal da D2 de 13,65% para 14,11%, de acordo com dados desta quinta-feira (1ª) no Painel de Vacinação do Espírito Santo.
A vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com a farmacêutica Astrazeneca, e produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Brasil, faz uso de uma tecnologia conhecida como vetor viral não replicante. Para isso, utiliza um "vírus vivo", como um adenovírus (que causa o resfriado comum), que não tem capacidade de se replicar no organismo humano ou prejudicar a saúde.
Este adenovírus também é modificado por meio de engenharia genética para passar a carregar em si as instruções para a produção de uma proteína característica do coronavírus, conhecida como espícula. Ao entrar nas células, o adenovírus faz com que elas passem a produzir essa proteína e a exiba em sua superfície, o que é detectado pelo sistema imune, que cria formas de combater o coronavírus e uma resposta protetora contra uma infecção.
Segundo o infectologista Lauro Ferreira Pinto, a vacina é segura. "Para ser aprovada, assim como todas as outras vacinas que são aplicadas no Brasil, ela passou por testes e pelos protocolos da Anvisa. O risco de tromboses da Astrazeneca é um para 200 mil casos. O risco de uma reação grave, por exemplo, é dezenas de vezes menor do que com o uso de uma pílula anticoncepcional", explica.
A Astrazeneca tem 100% de eficácia diante dos casos graves da Covid-19. Mas essa imunidade só é desenvolvida no sistema imunológico caso a pessoa complete o esquema vacinal com as duas doses do imunizante.
Segundo o doutor em Imunologia e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Daniel Gomes, a primeira dose da Astrazeneca serve para causar os estímulos iniciais necessários para o sistema imunológico se diferenciar e produzir os mecanismos protetores.
"A segunda dose, que é chamada de dose de reforço, potencializa tudo que foi produzido na primeira dose, inclusive as células de memória. Dessa forma, a pessoa fica imunizada por uma longa duração. Ou seja, com a primeira dose, a pessoa vai desenvolver imunidade, mas por um curto tempo, que, no caso, é até a aplicação da segunda dose. A pessoa que não tomar a segunda dose tem risco de contrair a doença, desenvolver um quadro grave e ir a óbito", explica.
A Infectologista Rúbia Miossi também reforça a importância de tomar as duas doses. "A imunidade parcial é desenvolvida cerca de 20 dias após a aplicação da primeira dose. Ela não é suficiente para proteção a longo prazo".
Sobre os efeitos adversos que a vacina pode causar após a primeira dose, o professor Daniel Gomes lembra que todos eles estão dentro do que a farmacêutica listou no desenvolvimento da vacina.
"Em geral, esses efeitos duram entre 24h e 48h no máximo. Vale lembrar que apenas 20% dos vacinados apresenta alguma reação adversa e cada pessoa reage de uma forma. A maioria, por exemplo, não apresenta efeito algum. Além disso, o que temos percebido é que as reações apresentadas na segunda dose costumam ser mais brandas do que as apresentadas na primeira, caso isso tenha acontecido", explica.
A infectologia Jacqueline Oliveira Rueda acrescenta que essas reações não costumam demandar atendimento médico. “A segunda dose é para dar um reforço na imunidade que o sistema imunológico desenvolveu e sedimentar a memória imunológica do organismo, que já tem uma sensibilização prévia e sabe reconhecer aquele anticorpo. Por isso, a tendência é que caso a pessoa tenha reação, ela seja mais leve”, explica.
O professor Daniel Gomes explica que a vacina Astrazeneca é desenvolvida com a mesma tecnologia da vacina Janssen, que é de dose única.
"As vacinas utilizam componentes específicos de cada farmacêutica. Mas além dos antígenos, existem outros componentes que são responsáveis por estimular o sistema imunológico por meio das vacinas, que são os adjuvantes. Cada imunizante, seja ele contra a Covid-19 ou contra qualquer doença, é concebido no seu melhor momento de eficácia, e, por isso, existem vacinas de uma e de duas doses e com intervalos diferentes", pontua.
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