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Áudios de taxista do ES que morreu de Covid-19 relatam a dor da falta de ar

Áudios de taxista do ES que morreu de Covid-19 relatam a dor da falta de ar

Sandro Andrésio de Alvarenga morreu nesta quinta-feira (4) após ficar duas semanas internado; mensagens enviadas ao irmão mostram como a doença compromete o pulmão

Publicado em 5 de junho de 2020 às 17:44

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Sandro Andrésio de Alvarenga integrava o grupo de risco para a doença, de acordo com a família
Sandro Andrésio de Alvarenga integrava o grupo de risco para a doença, de acordo com a família. (Reprodução | TV Gazeta)
Áudios de taxista do ES que morreu de Covid-19 relatam a dor da falta de ar

Uma sequência de quatro áudios revela o avanço da Covid-19 e como ela pode comprometer o pulmão de quem adquire a doença, causando extrema falta de ar, nos casos mais graves. O taxista Sandro Andrésio de Alvarenga, de 51 anos, enviou as mensagens ao irmão James Alvarenga ao longo das últimas semanas, antes de morrer nesta quinta-feira (4).

De acordo com a família, os primeiros sintomas apareceram há cerca de 20 dias, como uma espécie de gripe. Seguindo as recomendações, Sandro procurou o Pronto Atendimento da Praia do Suá, em Vitória. No local, ele recebeu atendimento, foi medicado e liberado para a casa, onde começou a cumprir o isolamento domiciliar.

PRIMEIRO ÁUDIO

Primeiro áudio enviado por Sandro Andrésio de Alvarenga ao irmão
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Tenho fé em Deus que eu vou sair dessa, questão de tempo e muito repouso. É seguir as medicações e esperar passar o tempo. É isso. Qualquer coisa pode ligar, estou em casa. Abraço

Sandro Andrésio de Alvarenga
Taxista e vítima da Covid-19
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James Alvarenga é irmão de Sandro e recebeu os áudios da matéria
James Alvarenga é irmão de Sandro e recebeu os áudios da matéria. (Reprodução | TV Gazeta)

Apesar disso, os sintomas não diminuíram – pelo contrário, se agravaram. A piora do quadro também reflete no teor da segunda gravação enviada por ele ao irmão, na qual já constam falas que ressaltam o quanto pode ser perigoso ser infectado pelo novo coronavírus.

SEGUNDO ÁUDIO

Segundo áudio enviado por Sandro Andrésio de Alvarenga ao irmão
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Eu acredito no poder extremo de Deus, na ressureição da Cruz. Estou aqui me cuidando, estou me cuidando. Se cuida. O negócio é sério, é coisa feia. Eu estou em casa. Graças a Deus, eu vou melhorar. Agora em casa, é esperar sair o resultado do outro exame. Obrigada por tudo

Sandro Andrésio de Alvarenga
Taxista e vítima da Covid-19
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Sem apresentar melhoras, Sandro procurou novamente o atendimento médico no PA da Praia do Suá. No local, ele já precisou de ajuda para respirar e manter o nível adequado de oxigênio no sangue. Neste terceiro áudio, ele fala sobre morte.

TERCEIRO ÁUDIO

Terceiro áudio enviado por Sandro Andrésio de Alvarenga ao irmão
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A morte já bateu na minha porta. Três dias que estava internado. (Tosse) Se eu busco água, eu não tenho ar, você pensa que vai morrer. Fiquei três dias, não entubado, mas no oxigênio. Um cateter pelo nariz que fica oxigenando você 24 horas. Muito cansaço. O negócio é sério. Pode acreditar que a morte bate na porta de qualquer um nessa parada. O negócio é muito mais grave do que você imagina. Aqui em casa está todo mundo contaminado, menos a minha neta. Minha mãe, meu filho, minha nora. Todo mundo. O negócio é sério, seríssimo

Sandro Andrésio de Alvarenga
Taxista e vítima da Covid-19
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Taxista Sandro Andrésio de Alvarenga, tinha 51 anos de idade
Taxista Sandro Andrésio de Alvarenga, tinha 51 anos de idade. (Reprodução | TV Gazeta)

Ainda de acordo com a família, ele esperou mais de quatro dias para ser transferido para o Hospital Doutor Jayme Santos Neves, na Serra. Na quarta mensagem enviada ao irmão, ele cita essa angustiante espera e a falta de ar durante a fala é nítida.

QUARTO ÁUDIO

Quarto áudio enviado por Sandro Andrésio de Alvarenga ao irmão
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A situação.. eu não tenho... ar... sinto muita... falta de ar... oxigênio no sangue em torno de 80... 83... não consigo ficar sem respirador... em momento algum... estou passando momentos difíceis... difíceis... conto com a ajuda de vocês... com o milagre de Deus... para estar comigo nessa caminhada... e me ajudar... careço muito dessa transferência... para que possa ser entubado... porque já faz cinco dias... e meu caso não evolui... não evolui... estou começando a ficar preocupado... tchau... obrigado... que Deus abençoe vocês

Sandro Andrésio de Alvarenga
Taxista e vítima da Covid-19
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Após conseguir a vaga, ele ficou 11 dias intubado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital estadual de referência para tratamento de pacientes da Covid-19. Infelizmente, ele não resistiu. Para a família, se ele tivesse sido internado e transferido logo após o primeiro atendimento, o desfecho dessa história poderia ser outro, muito mais feliz.

HOMENAGEM

Nesta sexta-feira (5), Sandro foi enterrado no Cemitério de Maruípe, em Vitória. Amigos e parentes fizeram uma despedida à distância, na rua onde ele morava, no bairro Andorinhas, também na Capital. No caminho do cortejo, colegas de profissão também homenagearam o taxista.

Familiares e amigos foram para as ruas para se despedirem do Sandro Andrésio de Alvarenga(Reprodução | TV Gazeta)

O OUTRO LADO

A reportagem de A Gazeta conversou com a secretária de Saúde de Vitória, Cátia Lisboa. Segundo ela, o atendimento dado ao taxista seguiu todos os devidos protocolos e recomendações. O retorno do paciente ao PA aconteceu para que ele recebesse uma medicação. Naquele momento, ele foi reavaliado, internado e pedido a transferência. Qualquer pessoa que não se sentir satisfeita com o atendimento pode procurar o diretor de cada unidade ou acionar o 156.

A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) também foi procurada para comentar a espera de Sandro para ser transferido e entubado. A pasta informou que lamenta o falecimento do paciente, mas esclarece que, no momento do cadastro de solicitação de leito para a Central de Regulação de Vagas, a descrição do quadro clínico do paciente era estável, conforme evolução descrita pelo serviço.

"Com a piora do quadro respiratório, o paciente foi transferido para o Hospital Jayme dos Santos Neves, no dia 24 de maio. A transferência aconteceu via SAMU 192, com a utilização da “vaga zero”, estabelecida na Portaria nº 055-R, de 02/05", informou, por meio de nota.

ERRAMOS

Por um equívoco da reportagem de A Gazeta, a Prefeitura de Vila Velha foi acionada na data da publicação desta matéria para comentar sobre o caso do Sandro. Mas o taxista, conforme a própria matéria informa, não deu entrada no PA da Glória, em Vila Velha, mas sim no PA da Praia do Suá, em Vitória. Mesmo assim, a Prefeitura de Vila Velha respondeu à reportagem na sexta-feira (5) que abriu uma sindicância para apurar os fatos relacionados à denúncia sobre o atendimento. Nesta segunda-feira (8), a assessoria foi novamente procurada para esclarecer o engano. O Executivo limitou-se a dizer, agora, que "a denúncia não procede".

*Com informações do repórter Aurélio de Freitas, da TV Gazeta

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