Uma sequência de quatro áudios revela o avanço da Covid-19 e como ela pode comprometer o pulmão de quem adquire a doença, causando extrema falta de ar, nos casos mais graves. O taxista Sandro Andrésio de Alvarenga, de 51 anos, enviou as mensagens ao irmão James Alvarenga ao longo das últimas semanas, antes de morrer nesta quinta-feira (4).
De acordo com a família, os primeiros sintomas apareceram há cerca de 20 dias, como uma espécie de gripe. Seguindo as recomendações, Sandro procurou o Pronto Atendimento da Praia do Suá, em Vitória. No local, ele recebeu atendimento, foi medicado e liberado para a casa, onde começou a cumprir o isolamento domiciliar.
Apesar disso, os sintomas não diminuíram pelo contrário, se agravaram. A piora do quadro também reflete no teor da segunda gravação enviada por ele ao irmão, na qual já constam falas que ressaltam o quanto pode ser perigoso ser infectado pelo novo coronavírus.
Sem apresentar melhoras, Sandro procurou novamente o atendimento médico no PA da Praia do Suá. No local, ele já precisou de ajuda para respirar e manter o nível adequado de oxigênio no sangue. Neste terceiro áudio, ele fala sobre morte.
Ainda de acordo com a família, ele esperou mais de quatro dias para ser transferido para o Hospital Doutor Jayme Santos Neves, na Serra. Na quarta mensagem enviada ao irmão, ele cita essa angustiante espera e a falta de ar durante a fala é nítida.
Após conseguir a vaga, ele ficou 11 dias intubado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital estadual de referência para tratamento de pacientes da Covid-19. Infelizmente, ele não resistiu. Para a família, se ele tivesse sido internado e transferido logo após o primeiro atendimento, o desfecho dessa história poderia ser outro, muito mais feliz.
Nesta sexta-feira (5), Sandro foi enterrado no Cemitério de Maruípe, em Vitória. Amigos e parentes fizeram uma despedida à distância, na rua onde ele morava, no bairro Andorinhas, também na Capital. No caminho do cortejo, colegas de profissão também homenagearam o taxista.
A reportagem de A Gazeta conversou com a secretária de Saúde de Vitória, Cátia Lisboa. Segundo ela, o atendimento dado ao taxista seguiu todos os devidos protocolos e recomendações. O retorno do paciente ao PA aconteceu para que ele recebesse uma medicação. Naquele momento, ele foi reavaliado, internado e pedido a transferência. Qualquer pessoa que não se sentir satisfeita com o atendimento pode procurar o diretor de cada unidade ou acionar o 156.
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) também foi procurada para comentar a espera de Sandro para ser transferido e entubado. A pasta informou que lamenta o falecimento do paciente, mas esclarece que, no momento do cadastro de solicitação de leito para a Central de Regulação de Vagas, a descrição do quadro clínico do paciente era estável, conforme evolução descrita pelo serviço.
"Com a piora do quadro respiratório, o paciente foi transferido para o Hospital Jayme dos Santos Neves, no dia 24 de maio. A transferência aconteceu via SAMU 192, com a utilização da vaga zero, estabelecida na Portaria nº 055-R, de 02/05", informou, por meio de nota.
Por um equívoco da reportagem de A Gazeta, a Prefeitura de Vila Velha foi acionada na data da publicação desta matéria para comentar sobre o caso do Sandro. Mas o taxista, conforme a própria matéria informa, não deu entrada no PA da Glória, em Vila Velha, mas sim no PA da Praia do Suá, em Vitória. Mesmo assim, a Prefeitura de Vila Velha respondeu à reportagem na sexta-feira (5) que abriu uma sindicância para apurar os fatos relacionados à denúncia sobre o atendimento. Nesta segunda-feira (8), a assessoria foi novamente procurada para esclarecer o engano. O Executivo limitou-se a dizer, agora, que "a denúncia não procede".
*Com informações do repórter Aurélio de Freitas, da TV Gazeta
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