A queda progressiva nos índices de vacinação está sendo acompanhada por um aumento de casos de meningite no Espírito Santo. De janeiro a setembro deste ano, foram registrados 158 casos da doença, com 41 mortes, entre infecções dos tipos viral, bacteriana e fúngica no Estado.
Esse número de casos é 90% maior do que o registrado em todo o ano de 2021, quando houve 83 registros de meningite no Estado. E a quantidade de mortes pela doença mais do que dobrou em relação ao ano passado, que teve 19 óbitos — o aumento, então, foi de 115%. Em 2020, o registro de meningite no Espírito Santo também havia sido mais baixo do que neste ano. Naquela ocasião, foram 63 casos e 23 mortes.
Especialistas observam que esse aumento de casos de mortes de meningite pode ser explicado pela redução nos índices de vacinação contra a meningite, registrada no mesmo período. Em 2019, de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), a cobertura vacinal no Espírito Santo alcançou 90,46% do público-alvo. No anos seguintes, em meio ao cenário da pandemia de covid-19, os índices caíram: 84,34%, em 2020; e 78,63% em 2021.
A Sesa explica que, para efeito de comparação de casos de meningite em um território, de forma a evidenciar crescimento ou redução de casos, é feito um diagrama de controle, que leva em consideração os dados disponíveis dos últimos dez anos.
Com objetivo de ampliar a cobertura vacinal contra a doença para 80%, meta estabelecida pelo Ministério da Saúde, a Sesa disponibilizou em julho deste ano, de forma temporária até 30 de setembro, a ampliação da vacinação contra a meningite meningocócica C para adolescentes de 13 a 19 anos ainda não imunizados — normalmente, o imunizante está disponível no Calendário Nacional de Vacinação para quem tem até 12 anos.
Segundo a pasta, esse é o principal grupo etário responsável pela manutenção da circulação da doença. Os trabalhadores da saúde, em virtude da exposição, também devem se vacinar.
A meningite é uma inflamação das meninges, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal.
De acordo com o Ministério da Saúde, a doença pode ser causada por bactérias, vírus, fungos e parasitas. As meningites virais e bacterianas são as de maior importância para a saúde pública, considerando a magnitude de sua ocorrência e o potencial de produzir surtos. A pasta explicou ainda que, apesar de ser habitualmente causada por microrganismos, a meningite também pode ter origem em processos inflamatórios, como câncer (metástases para meninges), lúpus, reação a algumas drogas, traumatismo craniano e cirurgias cerebrais.
No Brasil, a meningite é considerada uma doença endêmica. Casos da doença são esperados ao longo de todo o ano, com a ocorrência de surtos e epidemias ocasionais. A ocorrência das meningites bacterianas é mais comum entre o outono e o inverno, e das virais, na primavera e no verão. O sexo masculino também é o mais acometido pela doença.
Em geral, a transmissão é de pessoa para pessoa, através das vias respiratórias, por gotículas e secreções do nariz e da garganta. Também ocorre a transmissão fecal-oral, através da ingestão de água e alimentos contaminados e contato com fezes.
Geralmente, as bactérias que causam meningite bacteriana se espalham de uma pessoa para outra por meio das vias respiratórias, por gotículas e secreções do nariz e da garganta. Já outras bactérias podem se espalhar por meio dos alimentos, como é o caso da Listeria monocytogenes e da Escherichia coli. É importante saber que algumas pessoas podem transportar essas bactérias sem estarem doentes. Essas pessoas são chamadas de “portadoras”. A maioria dessas pessoas não adoece, mas ainda assim pode espalhá-las para outras pessoas.
As meningites virais podem ser transmitidas de diversas maneiras a depender do vírus causador da doença. No caso dos enterovírus, a contaminação é fecal-oral, e os vírus podem ser adquiridos por contato próximo (tocar ou apertar as mãos) com uma pessoa infectada; tocar em objetos ou superfícies que contenham o vírus e depois tocar nos olhos, nariz ou boca antes de lavar as mãos, trocar fraldas de uma pessoa infectada, beber água ou comer alimentos crus que contenham o vírus. Já os arbovírus são transmitidos por meio de picada de mosquitos contaminados.
A meningite fúngica não é transmitida de pessoa para pessoa. Geralmente os fungos são adquiridos por meio da inalação dos esporos (pequenos pedaços de fungos) que entram nos pulmões e podem chegar até as meninges. Alguns fungos encontram-se em solos ou ambientes contaminados com excrementos de pássaros ou morcegos. Já um outro fungo, chamado Cândida, que também pode causar meningite, geralmente é adquirido em ambiente hospitalar.
Os parasitas que causam meningite não são transmitidos de uma pessoa para outra, e normalmente infectam animais e não pessoas. As pessoas são infectadas pela ingestão de produtos ou alimentos contaminados que tenham a forma ou a fase infecciosa do parasita.
As meningites provocadas por vírus costumam ser mais leves e os sintomas se parecem com os das gripes e resfriados. A doença ocorre, principalmente, entre as crianças, que têm febre, dor de cabeça, um pouco de rigidez da nuca, falta de apetite, irritação. As bacterianas são mais graves e em pouco tempo os sintomas aparecem: febre alta, mal-estar, vômitos, dor forte de cabeça e no pescoço, dificuldade para encostar o queixo no peito e, às vezes, manchas vermelhas espalhadas pelo corpo. Esse é um sinal de que a infecção está se alastrando rapidamente pelo sangue e o risco de infecção generalizada aumenta muito. Nos bebês pode-se também observar: moleira tensa ou elevada; gemido quando tocado; inquietação com choro agudo; rigidez corporal com movimentos involuntários, ou corpo “mole”, largado.
Devido à gravidade do quadro clínico, os casos suspeitos de meningite sempre são internados nos hospitais. Por isso, ao se suspeitar de um caso, é urgente a procura por um pronto-socorro hospitalar para avaliação médica.
Para tratamento das meningites bacterianas, faz-se uso de antibioticoterapia em ambiente hospitalar, com drogas de escolha e dosagens terapêuticas prescritas pelos médicos assistentes do caso. Recomenda-se ainda o tratamento de suporte, como reposição de líquidos e cuidadosa assistência.
Para as meningites virais, na maioria dos casos, não se faz tratamento com medicamentos antivirais. Em geral, as pessoas são internadas e monitoradas quanto a sinais de maior gravidade e se recuperam espontaneamente. Porém, alguns vírus, como o herpesvírus, podem vir a provocar meningite com necessidade de uso de antiviral específico. A devida conduta sempre é determinada pela equipe médica que acompanha o caso.
Nas meningites fúngicas o tratamento é mais longo, com altas e prolongadas dosagens de medicação antifúngica, escolhida de acordo com o fungo identificado no organismo do paciente. A resposta ao tratamento também é dependente da imunidade da pessoa, e pacientes com história de HIV/AIDS, diabetes, câncer e outras doenças imunodepressoras são tratados com maior rigor e cuidado pela equipe médica.
Nas meningites por parasitas, tanto o medicamento contra a infecção quanto as medicações para alívio dos sintomas são administrados por equipe médica em paciente internado. Nestes casos, os sintomas como dor de cabeça e febre são bem fortes, e assim a medicação de alívio dos sintomas se faz tão importante quanto o tratamento contra o parasita.
A meningite é uma síndrome que pode ser causada por diferentes agentes infecciosos. Para alguns destes, existem medidas de prevenção primária, tais como vacinas e quimioprofilaxia. As vacinas estão disponíveis para prevenção das principais causas de meningite bacteriana.
A vacina meningocócica C (Conjugada) protege contra a doença meningocócica causada pelo sorogrupo C. Outra vacina é a pneumocócica 10-valente (conjugada), que protege contra as doenças invasivas causadas pelo Streptococcus pneumoniae, incluindo meningite. Há também a pentavalente, que protege contra as doenças invasivas causadas pelo Haemophilus influenzae sorotipo B, como meningite, e também contra a difteria, tétano, coqueluche e hepatite B.
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