Em 2023, o Espírito Santo registrou a apreensão de 4.005 armas de fogo, com aumento no número de pistolas, sub-metralhadoras, rifles, escopetas, fuzis e armas caseiras. A apreensão desse tipo de armamento vem crescendo desde 2018, quando 246 armas foram encontradas pelas forças de segurança. Em 2023, a quantidade subiu para 383. Ao todo, nos últimos seis anos, as equipes policiais apreenderam 1.765 armas caseiras.
De acordo com Daniel Belchior, delegado titular da Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos (Desarme), o aumento no número de armas caseiras em circulação no Espírito Santo acontece devido à legislação que regulamenta as armas no Brasil.
“Isso faz com que o crime organizado busque por outras formas de ter seu armamento. Entendemos que são armas que podem ser fabricadas em qualquer tipo de oficina, desde que haja alguém com a perícia necessária”, explica Daniel.
“A grande dificuldade com as armas caseiras está no fato de não serem rastreáveis, já que não têm número de série. Isso dificulta o trabalho da polícia”, complementa o delegado.
Apesar dos empecilhos, a Desarme conseguiu desarticular, em dezembro de 2023, uma fábrica clandestina de armas de fogo na zona rural de Cariacica. A operação "Legado Armeria" teve como objetivo cumprir sete mandados de busca e apreensão com base em investigação que apurava a fabricação ilícita de armas de fogo caseiras, uma rede de distribuição de armas desse tipo na Grande Vitória e a lavagem de dinheiro vindo da comercialização dos armamentos, que eram utilizados pelo crime organizado.
“O foco da Desarme é exatamente identificar as pessoas responsáveis pela fabricação e difusão de conhecimento sobre as armas caseiras. Quando a gente foca nessas pessoas, automaticamente estamos repercutindo na queda de produção dessas armas. O perfil de quem fabrica está ligado a pessoas com habilidades com usinagem e solda, por exemplo, já que têm o conhecimento sobre materiais que compõe uma arma”, complementa Daniel.
Visando ao combate ao número de armas em circulação, o delegado pontua a importância da atuação policial em conjunto com a sociedade.
“A gente sempre conta com a integração com o Poder Judiciário e o Ministério Público. O que tem nos ajudado também é o disque-denúncia, onde pessoas que têm conhecimento sobre eventuais fábricas podem entrar em contato conosco”, frisa o delegado.
As armas caseiras são classificadas como aquelas produzidas de forma irregular, com o uso de materiais adaptados, de forma artesanal. Especialistas apontam que são consideradas "caseiras" todas as armas com poderio letal feitas em fábricas não autorizadas, reguladas e fiscalizadas pelo governo federal.
Marco Aurélio Borges, doutor em Ciências Humanas e coordenador do mestrado de Segurança Pública da Universidade Vila Velha (UVV), explica que o aumento na circulação de armas de fogo apresenta riscos para a sociedade. “O descontrole na distribuição e no acesso às armas criou um problema para a segurança pública. Temos mais armas em circulação e, consequentemente, mais pessoas atuando com operação e manutenção dos armamentos”, pontua o especialista.
De acordo com Marco Aurélio, a integração entre os órgãos de segurança é ideal para combate ao crescimento de armas caseiras no Espírito Santo.
“Hoje, com a internet, é facilitado o acesso à estrutura de armas, e isso facilita a produção. Temos que entender as armas de fogo como máquinas, já que contam com molas, engrenagens e afins. É necessário um cuidado com a difusão dessas informações e também com a distribuição de matéria-prima”, destaca o especialista.
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