A história de José Renato Caliari, de nove anos, que decidiu vender os próprios desenhos na escola, mas não conseguiu ninguém para comprá-las viralizou na internet desde a última segunda-feira (26). Isso porque o tio do menino resolveu fazer uma postagem demonstrando apoio ao empenho do sobrinho, que é autista. O post já passa de 3,5 milhões visualizações em uma rede social.
Na postagem que viralizou, o advogado Fabrício Belo, que é tio de José Renato, conta que resolveu comprar um dos desenhos do sobrinho depois que soube pela irmã que o menino estava chateado porque ninguém quis comprar a arte dele na escola onde estuda. A criança estuda na escola municipal Deocleciano Francisco da Vitória, no bairro Vista Dourada, em Cariacica.
No diálogo, feito em um aplicativo de conversas, a criança pergunta qual desenho o tio vai querer. Ele também combina o prazo de entrega e diz que cada peça está na promoção, em um valor de R$ 2.
Em entrevista ao g1 ES, o tio contou que a repercussão surpreendeu a família. Agora, o sobrinho está recebendo muitas mensagens de carinho e inúmeras encomendas de desenhos. Até famosos como a atriz Mel Maia divulgaram a história. A conta criada no Instagram nesta terça-feira (27) já atingiu o número de 16 mil seguidores.
"José, seus desenhos são lindos. Como faço a minha encomenda?", disse uma seguidora.
"Oi José, queria um desenho! Moro em outro país, ou seja, teria só que me mandar a foto do desenho pelo direct ou WhatsApp. Poderia ser?", disse outra seguidora.
Segundo o tio de José Renato, o autismo do menino foi descoberto de forma tardia pela família quando ele foi para a escola.
"Infelizmente, a gente descobriu tarde porque ele é do grau 1. Então, é de difícil percepção e, por causa da desinformação, a gente acabou não percebendo isso. Só fomos descobrir com as atitudes dele na escola, por ele ser introspectivo, não interagir, não ir para o recreio. Ele não come na escola, não bebe na escola, dentre outras coisas", disse o tio.
José Renato foi incentivado pelo pai, que também gosta de desenhar. Em vídeos feitos pela família quando José era menor, ele aparece desenhando em um caderno (veja abaixo). O menino gostou tanto da ideia que resolveu vender os desenhos na escola para os coleguinhas.
O tio ficou sabendo o que tinha acontecido pela irmã e mãe do menino. Por isso, ele resolveu apoiar a iniciativa do sobrinho com trajes iguais: roupa social e gravata vermelha.
"Fiquei arrasado porque eu fiquei pensando no sofrimento dele. Imaginando também que talvez ele nem tenha conseguido oferecer pra todo mundo porque ele não interage com as pessoas. Então, a gente achou que talvez ele ofereceu no máximo pra quem estava ao redor dele ali e ninguém quis comprar. Aí falei: 'eu vou comprar'. Então, pra incentivar, e eu e minha irmã combinamos de oferecer para pessoas mais próximas para elas comprarem também e ele ficar mais feliz porque ele estava muito triste", contou Fabrício ao g1 ES.
Fabrício disse que quando foi encomendar o desenho, imaginou que ia ser algo mais simples, com mais rabiscos, típico da idade do sobrinho. Porém, ele se surpreendeu com o talento de José Renato com o lápis.
"Quando ele me mandou a foto falando se estava bom ou que ele faria outro se não tivesse bom, eu fiquei em choque porque eu vi como que ele é bom, como ele a tem uma técnica boa, um desenho muito bom pra idade dele. Fiquei mais orgulhoso ainda. Depois, pensei: 'vou postar porque algumas pessoas vão gostar de ver uma criança de nove anos, autista, que desenha tão bem com esse dom tão incrível. Ao mesmo tempo, queria compensar ali o sofrimento que ele teve na escola, a decepção, queria que ele tivesse esse momento, sabe? E postei", revelou o tio do menino.
Fabrício disse que decidiu compartilhar o que aconteceu com seu sobrinho para inspirar outras famílias de autistas.
"Quis inspirar as pessoas que não conhecem o os autistas, que não têm convivência ou até mesmo os parentes e familiares mais próximos de quem tem criança autista em casa. A ideia é incentivá-las porque quando eles descobrem algo que eles gostam, focam muito naquilo, e foi o que aconteceu com meu sobrinho. Ele focou no desenho e a gente percebeu que é o canal que ele tem de comunicação com as pessoas. É o canal que ele tem de interação com as pessoas. Se é isso, vamos incentivar nesse sentido. Eles merecem", concluiu Fabrício.
Com informações da repórter Fabiana Oliveira, do g1 ES
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