Há cerca de 26 anos, o artista plástico Antônio Malta, de 64 anos, escolheu Guarapari para fixar residência, mas o passado na cidade natal de Itapetinga, na Bahia, que fica a 550 quilômetros da capital baiana, nunca saiu do pensamento deste guarapariense de coração. Completamente adaptado à vida na "Cidade Saúde", de alguma forma ele queria rememorar os tempos de infância e também encontrar uma distração para o período de pandemia.
Unindo o que aprendeu nos quarenta anos como artista plástico autodidata, Antônio resolveu colocar a mão na massa, na argamassa, no cimento e em outros materiais para reproduzir, através de um diorama, a casa simples onde ele e a família moravam. Com uma realidade capaz de colocar em dúvida se a obra feita em 21 dias era uma foto real ou uma reprodução artística, a miniatura ganhou as redes sociais, colocando em evidência o talento deste baiano quase capixaba.
"Eu queria ter uma memória da rua onde moramos e cresci, então pedi para que o Maurício (irmão) olhasse no Google como estava a casa. Aí juntei a imagem da reprodução com a que eu tinha na memória. Comecei a montar o diorama da forma como era. Hoje a rua e a calçada estão um pouco diferentes. Foram 14, 15 anos nela (casa verde). Eram três quartinhos, uma sala, uma cozinha pequena e banheirinho do lado de fora. Fiz a fachada, as casas ao lado e a rua exatamente como naquela época", contou.
Nas quatro décadas dedicadas à arte, Antônio se sente à vontade em trabalhar com quadros de feitos com a técnica de óleo sobre tela, mas a experiência acumulada o fez sair da zona do conforto para materializar o que tinha no próprio imaginário.
"Usei materiais que já tinha em mãos, além de ir adaptando e testando as técnicas que aprendi ao longo destes mais de 40 anos trabalhando com artes. Moldei e fiz as telhas usando PVC, usei massa corrida, cimento queimado e colorido no piso, fios, e até envelheci o calçamento para dar este efeito de chão de rua. Fui o mais fiel possível às memórias que tinha de quando em Itapetinga", detalhou o artista plástico.
Em momento algum, Antônio teve a pretensão em fazer do diorama um novo produto, mas a postagem feito pelo filho caçula, o médico infectologista Rafael Malta no próprio perfil no Twitter, fez explodir em elogios, reconhecimento e encomendas (e coloca plural nisso).
"Fiz por uma vontade própria, mas aí o meu filho Thiago postou no Twitter dele. Eu não uso muito rede social, mas a repercussão foi completamente inesperada. Já recebi mais de 40 encomendas de pessoas que querem reproduzir a casa dos pais e outros locais marcantes. Muitos se identificaram com o meu trabalho e fico muito feliz, de verdade. Para o artista não existe reconhecimento maior que este. Agora não paro de receber ligações e pedidos", contou em tom bem-humorado.
Com os três filhos – além de Rafael, Antônio é pai de Thonny e Thiago –, o artista plástico passa a maior parte dos dias no próprio ateliê. É lá que ele transforma em arte os materiais utilizados para o diorama. A habilidade dele é tanta que mesmo sem ter as ferramentas necessárias para produzir a miniatura, ele acertou na proporção da obra.
"Quando comecei a fazer, nem sequer tinha um escalímetro (instrumento na forma de um prisma triangular que possui seis réguas com diferentes escalas. É utilizado para medir e conceber desenhos em escalas ampliadas ou reduzida), mas calculei que seria na proporção de 1 por 25. Depois de pronta, arrumei um, medi e bateu nesta medida imaginada. Fiquei mais feliz ainda, pois saiu exatamente como gostaria que ficasse", brincou.
Com tempo de sobra e levando a vida em um ritmo mais tranquilo, o artista plástico agora se planeja para iniciar a produção das encomendas que não param de chegar. O preço de um trabalho? Isso é um detalhe secundário como ele próprio faz questão de dizer.
"Felizmente estou com meus três filhos criados e já tenho meus 64 anos bem vividos. Nessa altura da vida dinheiro não é minha preocupação. Não cobro um valor específico pela obra, quero que a pessoa que me procura possa ter o diorama. Imagina só: a pessoa vem me procurar em busca por algo que lhe traga uma memória boa e não vai tê-la porque eventualmente não pode pagar? Não mesmo, quero poder compartilhar da alegria que sinto. Então planejo um valor que me atende e também seja justo", ponderou Antônio.
Por mais perfeita que possa parecer o diorama, ele ainda não está concluído. Na reprodução da casinha verde da Rua Brejões, no bairro primavera, em Itapetinga, faltou o número 70. Assim que o numeral for colocado na parede da casa em miniatura, a memória de infância de Antônio estará 100% materializada.
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