Desde o início da pandemia do novo coronavírus o Painel Covid-19, mantido pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), divulga os dados da doença no Espírito Santo. A ferramenta possibilita o acompanhamento dos bairros com mais registros de casos, mas entre eles, um chama atenção: o “bairro não encontrado” em Colatina. Segundo a atualização mais recente da plataforma, são 1.286 pacientes nessa "localização", colocando o “bairro” entre os 15 que mais apresentam contaminações no Estado e o líder absoluto na cidade.
Mas nem mesmo o colatinense mais apaixonado pela cidade sabe onde fica esse bairro entre os mais de 50 do município. Na verdade, o “bairro não encontrado” não está em Colatina ou em qualquer outra cidade capixaba. Essa é uma falha nos registros de pacientes infectados com o novo coronavírus. Responsável pelos dados, a Secretaria Municipal de Saúde explicou a situação.
“Esse 'bairro não encontrado' na maioria das vezes é um preenchimento do SUS. Poucos desses bairros não são cadastrados. É apenas um erro de digitação no sistema", explicou Karla Barcellos Clímaco, coordenadora da Vigilância epidemiológica de Colatina.
Esses 1.286 pacientes contabilizados sem o bairro correspondem a 9,28% do total de infectados em Colatina, que somam 13.858 casos da doença. Para efeito de comparação, a taxa é muito superior ao registrado na cidade vizinha de Linhares, onde apenas 7, dos 14.516 pacientes, constam nos registros sem o bairro de residência, o que representa 0,04%.
Esse problema nos registros de Colatina é antigo. Desde os primeiros meses da pandemia, o "bairro não encontrado" chama a atenção pelo grande número de contaminados na cidade. No final de julho de 2020, a reportagem de A Gazeta mostrou a situação. Na época, a Sesa disse que uma equipe estava entrando em contato com as prefeituras e orientando a fazer o cadastro correto no sistema. Já a administração municipal informou que estava buscando esses pacientes para corrigir os dados, mas o problema se agravou.
A enfermeira e epidemiologista Ethel Maciel, pós-doutorada em Epidemiologia pela Johns Hopkins University e professora titular da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), a situação pode prejudicar o acompanhamento da doença no município.
Ela explicou ainda que é importante essa localização exata para que essa vigilância epidemiológica seja efetiva, podendo auxiliar os que estão doentes, monitorá-los e acompanhar os contatos.
A falta de identificação do bairro também vai causar outro problema. O secretário de Saúde do Estado, Nésio Fernandes, anunciou, nesta segunda-feira (1º), que o painel Covid-19 começou a divulgar a taxa de letalidade por bairro. Com esses dados, o Governo vai poder desenvolver ações mais precisas no combate à pandemia.
"A partir da última semana de fevereiro, o Espírito Santo terá uma robusta expansão da atenção básica, que poderá reforçar nossa capacidade, melhorar diagnóstico e monitoramento. Nós poderemos passar a ter mais de mil profissionais na atenção básica no nosso Estado atuando no enfrentamento da pandemia e outras condições. Teremos, então, a partir deste momento, a atualização de outras estratégias. Estamos avaliando o comportamento de casos, óbitos, testagem por municípios. A partir da tarde de hoje (1), terá no gráfico os bairros do ES para acompanhar número de casos, óbitos e letalidade por bairro. Ao longo do mês de fevereiro, estamos preparando condições para que o painel apresente letalidade por unidade de saúde cobrindo os bairros, de maneira que vamos avaliar o desempenho de cada unidade básica de saúde", afirmou Nésio. Reveja a coletiva no vídeo abaixo:
Em Colatina, a taxa de letalidade do bairro "não encontrado" é de 1,1%. São 14 pacientes que morreram e não apresentam o local de moradia nos registros.
A coordenadora da vigilância epidemiológica do município garantiu que o cadastro dos pacientes começou a ser corrigido. Karla Barcellos destacou que a situação pode começar a ser amenizada até o fim desta semana.
Em nota, a Sesa informou que vem trabalhando constantemente para que os municípios façam a qualificação dos dados dos pacientes já que a responsabilidade em relação a busca ativa e cadastramento é das unidades municipais. “A Sesa esclarece que as Regionais de Saúde estão intensificando o contato com as equipes técnicas para a correta identificação das localidades”.
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