Parece uma praia, mas é o Rio Doce em Linhares, no Norte do Espírito Santo. Os bancos de areia já fazem parte do cenário de quem chega ao município pela ponte Joaquim Calmon nesta época do ano. É o assoreamento tomando conta do local.
A situação é consequência das ações humanas que afetam o meio ambiente, explica a professora do Departamento de Oceanografia e Ecologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Jaqueline Albino. "Quando chove e não há uma vegetação protegendo, o solo é lavado e maior quantidade de sedimento vai para esse canal", disse.
Segundo Jaqueline, a tragédia do rompimento da Barragem de Fundão, na cidade mineira de Mariana, em 2015, também tem efeito para esse desequilíbrio. Foram cerca de 40 milhões de metros cúbicos de sedimentos da lama de rejeitos de minério que desceram para o leito do rio.
A tendência é que o acúmulo de areia no Rio Doce aumente pela falta de chuva ao longo da bacia. Os levantamentos meteorológicos indicam que o período mais crítico vai até setembro, segundo o meteorologista do Incaper Hugo Ramos. "Nos últimos anos tivemos períodos seca que mantiveram o padrão do rio mais assoreado. E a pressão da população para o uso da água contribui para essa manutenção mínima de quantidade de água e para o desenvolvimento de bancos de areia.
Enquanto sobrevive, mesmo com tantas dificuldades, sempre é tempo de pensar em ações para a saúde do rio, tão importante para a vida de moradores do Norte e Noroeste do Espírito Santo.
Em nota, a Fundação Renova informou ter realizado um estudo ambiental que analisou as características hidrossedimentológicas do trecho da bacia do rio Doce atingido pelo rompimento da barragem de Fundão.
O objetivo, segundo a Renova, foi entender o comportamento dos processos relacionados à dinâmica da água e dos sedimentos. Por meio de modelagem matemática, também foi analisada a interação do ambiente com o rejeito ao longo dos anos. Segundo o estudo, até 2019 houve uma redução estimada em 34% no volume de rejeitos no leito do rio após o rompimento, o que significa a confirmação da tendência de retorno aos padrões registrados no período anterior ao desastre.
Atualmente, os valores de transporte de sedimentos no rio Doce, no trecho entre a Usina Hidrelétrica Risoleta Neves (Candonga) até a foz, no Espírito Santo, já se aproximaram dos valores históricos. Estes índices são medidos pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) em sua rede hidrometeorológica e são comparados com dados de antes do rompimento.
A comparação da situação atual com os registros históricos evidencia uma clara recuperação dos trechos afetados. A pesquisa também aponta que, ao longo dos anos simulados, grande parte dos rejeitos tendem a se consolidar ao longo do tempo a partir das ações da reparação da Fundação Renova, de crescimento da vegetação das margens e do próprio equilíbrio natural do leito dos rios afetados, com a formação de camadas mais grosseiras (areia, cascalho etc) dos sedimentos naturais.
O estudo hidrossedimentológico é objeto de discussão judicial no âmbito da 4ª Vara Federal e há previsão de atualização dos resultados.
Sobre a qualidade da água, a Fundação salientou que o monitoramento hídrico da bacia do rio Doce demonstra que a qualidade da água retornou aos parâmetros similares aos anteriores ao rompimento da barragem de Fundão. O Rio Doce é enquadrado na classe 2 pela legislação brasileira e sua água pode ser consumida pela população após tratamento convencional nos sistemas públicos de abastecimento, bem como ser usada para dessedentação animal e irrigação, entre outros usos previstos na legislação.
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