Considerado um dos epicentros da variante mais contagiosa e letal do coronavírus no Espírito Santo, o munícipio de Barra de São Francisco, no Noroeste capixaba, decretou um fechamento total das atividades, inclusive as permitidas na quarentena imposta pelo Estado, para conter o avanço da doença. A medida pode ser caracterizada como lockdown, ja que a prefeitura determinou toque de recolher nas ruas da cidade.
O Decreto Nº 045-A/2021 declara “Situação de Calamidade e Emergência em Saúde Pública no Município de Barra de São Francisco, em razão da pandemia de Covid-19 e acrescenta medidas qualificadas extraordinárias para seu enfrentamento”. De acordo com o documento, farmácias e supermercados só podem funcionar em sistema de delivery e está proibida a circulação nas ruas entre 20h e 6h.
A informação foi confirmada para a reportagem de A Gazeta pelo prefeito Enivaldo dos Anjos (PSD). O decreto foi assinado no final da tarde desta terça-feira (23) e já começa a valer na quarta-feira (24).
A determinação estipula ainda que as farmácias e supermercados devem ser mantidos fechados para acesso do público ao seu interior, proibida a abertura parcial de portas, portões e afins, bem como o atendimento ao público externo no interior, com ou sem horário marcado, e na porta do estabelecimento. O funcionamento só é permitido por delivery.
A medida foi tomada já que o município registra um aumento no número de casos da doença e pressão nos leitos para o tratamento da doença.
O vice-prefeito e secretário de saúde de Barra de São Francisco, Gustavo Viana Lacerda, afirmou que a decisão foi tomada após uma reunião do gabinete de crise formado no município para tratar dos assuntos relacionados ao coronavírus.
Barra de São Francisco contabiliza 2.786 casos do coronavírus, desde o início da pandemia, sendo que 86 pacientes morreram em decorrência da doença, de acordo com o informado no Painel Covid-19. No município, a taxa de letalidade é de 3,1%, acima da média no Estado, que está em 1,9%. Foram 34 casos novos de Covid-19 nesta terça-feira (23).
Ainda de acordo com dados do sistema, mesmo faltando oito dias para março de 2021 acabar, o número de casos do novo coronavírus no mês já é o maior desde o início da pandemia em Barra de São Francisco, com 444 registros. Em fevereiro, foram 275 pacientes confirmados com a doença no município.
Junto com Piúma, no litoral sul do Estado, o município de Barra de São Francisco foi apontado como o com o maior número de casos de contaminados pela variante inglesa do coronavírus. A situação foi revelada por um estudo do Laboratório Central do Espírito Santo (Lacen-ES), com base nas amostras de doentes da Covid-19, apresentado nesta segunda-feira (22) pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesa).
Para explicar melhor a diferença entre lockdown e quarentena, a médica infectologista Rubia Miossi utiliza três conceitos que vêm sendo oficialmente adotados. Eles são, em ordem de menor para maior isolamento imposto: distanciamento social seletivo, distanciamento social ampliado (quarentena) e bloqueio total, ou lockdown em inglês.
O secretário de saúde de Barra de São Francisco, Gustavo Viana Lacerda, afirmou que observa que pacientes do município estão apresentando quadros mais graves da Covid-19.
“Nós temos observado, de fato, uma mudança no comportamento do paciente que chega ao nosso hospital estadual e também daqueles que são atendidos no Centro de Covid do município. São pacientes mais graves e com a carga viral maior. Eles evoluem para a intubação de forma mais rápida também, alguns já chegam para ser internados com comprometimento de 75 % do pulmão”, afirmou.
O diretor do Lacen-ES, Rodrigo Rodrigues, explicou a situação da variante Barra de São Francisco. "Barra de São Francisco é uma cidade que faz divisa com Minas Gerais, que possui uma das rodovias de acesso entre os dois Estados e que no verão tende a ter um fluxo intenso de turistas mineiros em busca das praias capixabas. Essa malha viária pode ter colaborado para a disseminação dessa variante na cidade.", pontuou.
Em entrevista para a TV Gazeta, a doutora em Epidemiologia, pesquisadora e enfermeira Ethel Maciel, explicou que a variante preocupa pelo alto índice de contaminação e gravidade da doença.
“Essa variante do Reino Unido tem um componente de ser mais transmissível, então, ela transmite para mais pessoas. Além disso, estudos do Reino Unido já comprovam que ela provoca a doença mais grave”, disse.
Ethel afirmou ainda que esta é a pior fase da pandemia e que a situação ainda pode piorar se não for diminuída a transmissão. "É o pior cenário e o problema é que pode piorar. Tudo que está acontecendo hoje é o resultado de duas e três semanas atrás e a gente já projeta uma piora pelo número de contaminados nesta semana", explicou. Os dados analisados pelo Laboratório Central do Espírito Santo (Lacen-ES) apontam o registro da variante B1.1.7 descoberta no Reino Unido, em setembro do ano passado. Ela já foi detectada em 33 países do mundo e o risco de levar o contaminado a óbito é 62% maior que o das demais variantes.
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