Com o lançamento do Plano Nacional de Operacionalização da Vacina contra a Covid-19 indicando a compra de todos os imunizantes aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o governador Renato Casagrande (PSB) avalia que a barreira ideológica em torno da origem da vacina foi superada.
Na nova versão do plano apresentada nesta quarta-feira (16), o governo federal passa a afirmar que está negociando a compra da Coronavac, vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac e o Instituto Butantan. O órgão é ligado ao governo paulista, comandado por João Doria (PSDB), adversário político do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Até então, o governo federal estava resistente em incluir a vacina no plano nacional de vacinação.
Foi importante porque isso mostrou uma quebra da barreira do impedimento ideológico da origem da vacina, aonde a vacina estava sendo desenvolvida e produzida. Vencida essa etapa da barreira ideológica, também o governo anunciou uma Medida Provisória abrindo crédito de 20 bilhões de reais, informa Casagrande, que participou do lançamento em Brasília.
Na última segunda (14), o governador se reuniu com o presidente no Palácio do Planalto. Na ocasião, Bolsonaro anunciou que abriria crédito de R$ 20 bilhões para a compra de vacinas. Neste encontro, em nome de todos os governadores, foi ainda proposta uma ampliação da capacidade de produção da Fiocruz, que trabalha com a vacina AstraZeneca.
Não há data definida para início da aplicação dos imunizantes, mas o governo, no entanto, prevê que a campanha será iniciada cinco dias após a Anvisa autorizar o uso emergencial do medicamento. O Ministério da Saúde afirma já negociar cerca de 350 milhões de doses de imunizantes para 2021. A imunização deve exigir duas aplicações por pessoa.
A primeira versão do plano foi divulgada no último sábado (12) após o documento ter sido encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF). No mesmo dia, 36 integrantes do grupo técnico formado por pesquisadores e cientistas encarregados de auxiliarem o Ministério da Saúde na elaboração do material denunciaram que o documento não havia sido apresentado a eles.
Eles destacaram, inclusive, que alguns pontos do planejamento para a imunização contra o coronavírus não refletiam o posicionamento do grupo. Ethel Maciel, que é pós-doutora em Epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), integrou a equipe de trabalho do governo federal. Ela acompanhou o lançamento do plano nesta quarta-feira (16).
Eles tiraram os nossos nomes, fizeram agradecimentos genéricos às sociedades científicas que participaram, o que eu acho mais correto porque eu recebi isso (esse plano) da imprensa, não recebi deles", criticou, acrescentando que felizmente o plano atual incluiu as recomendações do grupo de pesquisadores para inclusão de outras populações vulneráveis, além dos indígenas na vacinação prioritária.
A especialista em saúde chama a atenção para a rede de frios que o governo brasileiro tem disponível. Com equipamentos capazes de conservar imunizantes que demandam temperatura até -35º C, os freezers não poderiam receber os compostos produzidos pela Pfizer, que exigem ambiente climatizado a -70º C.
Outro ponto comentado por Ethel está relacionado à farmacovigilância. O deputado Geninho Zuliani (DEM-SP), relator da medida provisória que prevê a compra do imunizante pelo programa internacional Covax Facility, disse que antes de ser imunizado, o brasileiro teria de assinar um termo de responsabilidade. A mesma afirmação foi feita hoje pelo ministro Pazuello. Essa exigência, porém, não consta no plano nacional de imunização.
De acordo com o parlamentar, o termo pretende tirar da União a responsabilidade sobre eventuais efeitos colaterais da vacina. A especialista em saúde defende que o documento não é necessário, uma vez que o composto será disponibilizado após rigoroso processo de aprovação da Anvisa.
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