O ano de 2024 começou, de fato, para a família de Rayane Ribeiro na última sexta-feira, dia 19 de janeiro, com a alta do pequeno Rhaí, filho dela, que nasceu prematuramente e ficou internado por quatro meses e 19 dias no Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes da Universidade Federal do Espírito Santo (Hucam), em Vitória.
Rhaí nasceu no dia 31 de agosto, com 24 semanas e cinco dias, pesando apenas 752 gramas. Com uma gravidez de risco, a mãe descobriu a gravidez quando já estava com quatro meses de gestação (cerca de 17 semanas). Pouco tempo depois, como a gestação era de risco, Rayane precisou ficar internada até completar as 24 semanas.
Após o parto, o bebê ficou durante o período de internação na UTI Neonatal (Utin) do hospital universitário. Esse cuidado foi necessário até que ele atingisse o peso mínimo de 2 kg, alcançando independência respiratória e conseguindo se alimentar com segurança. A partir daí, os cuidados são feitos em casa, pela família.
Rayane conta que Rhaí nasceu de parto normal e, com três dias de vida, precisou passar por uma diálise porque os rins dele pararam de funcionar. Em seguida, os médicos descobriram que uma válvula do coração dele estava aberta e cogitaram fazer uma cirurgia.
“Eu sou uma pessoa cristã e tenho muita fé em Jesus Cristo. A partir desse momento entreguei ele para Deus e falei para o Senhor: que seja feita a sua vontade. Ele já estava sofrendo pela diálise, um processo bem doloroso e, por ele ser muito pequeno, tudo se tornava ainda maior. Em uma quinta-feira, decidiram fazer a cirurgia no coração e na sexta, quando cheguei para conversar com os médicos, eles me disseram que a válvula tinha se fechado. Deus operou meu filho antes dos profissionais de medicina”, relatou Rayane.
Após esse episódio, chegou a hora de retirar o cateter da barriga de Rhaí. Os médicos alertaram Rayane de que ele poderia enfrentar alguns problemas, como a impossibilidade de urinar, e, se isso acontecesse, ele poderia morrer, pois não seria possível retornar com o cateter posteriormente.
“Novamente me apeguei a Deus e entreguei meu filho a ele, que tinha parado de fazer xixi. Com uma campanha religiosa, esse quadro se reverteu e com a válvula do coração fechada, o rim dele voltou a funcionar corretamente”, comentou.
Rayane lembrou ainda que, após mais essa vitória, o desafio era que Rhaí ganhasse peso. Após dois meses na incubadora, o bebê conseguiu chegar a um quilo e meio, mas na hora de colocá-lo no bercinho, o tubo de respiração saiu do lugar e ele teve uma parada cardiorespiratória. A equipe médica conseguiu reverter a situação e Rhaí passou a usar uma ventilação não invasiva.
“Ele teve pneumonia e contraiu uma bactéria, que é um tipo de bactéria do sistema imunológico. Cada dia foi uma vitória até chegar o tão sonhado dia de ter meus dois filhos em casa. Porém, antes disso, começamos a fazer o exercício dele respirar sozinho. A médica teve a ideia de botar ele no meu peito para tentar fazer essa coordenação respiratória e deu certo”, contou.
Além da Rhaí, Rayane tem um filho de oito anos. Em dezembro, ela e o marido se inscreveram para o casamento comunitário, na Serra. Na época, o bebê já estava em uma situação de médio risco. Como ficou muito tempo entubado, ele precisou fazer uma cirurgia de hérnia inguinal.
Mesmo com tão pouco tempo de vida, a tão sonhada alta chegou. Segundo a mãe do bebê, foram muitos os desafios, até mesmo da medicina.
“Os médicos não acreditavam que ele iria resistir e ele provou que enquanto há vida há esperança. Os profissionais não desistiram dele e a recompensa é ele estar saudável, sem nenhuma sequela. Eu estava em um processo de separação quando descobri que estava grávida. Meu filho chegou para reforçar a união com o meu marido e de toda a minha família. Entreguei meu filho amado à medicina e a Deus. É um verdadeiro milagre”, afirmou.
Ao receber alta, os profissionais fizeram um corredor humano para dar boas-vindas a uma nova fase da vida de Rhaí. Agora, ele precisa ficar em casa em quarentena e recebe todo o amor de sua família.
A mãe relatou que a primeira noite foi bem tranquila e Rhaí se saiu muito bem. Rayane é manicure, mas está sem trabalhar porque precisa se dedicar ao filho. A ideia dela é retomar as atividades no final de fevereiro.
“Ele é uma criança perfeita e requer cuidados especiais. A minha prioridade são os meus filhos. Tenho muita gente me ajudando. O ano começou de fato, sem aquela rotina de hospital. Esperei muito por esse momento”, comentou.
A médica médica Neonatologista e assistente da Unidade Neonatal do Hucam, Priscyla Ferreira Pequeno Leite, lembra que foi um grande desafio o caso do Rhaí.
“A maioria desses bebês, que chamamos de nano prematuros, não consegue sobreviver, muito menos numa condição de saúde boa. Rhaí saiu de alta em aleitamento materno misto e foi uma grande conquista da Rayane junto com a nossa equipe. Ele passou por muitas intercorrências na internação. Tenho muito orgulho da Rayane e da equipe médica e multiprofissional do hospital”, relatou.
A profissional comentou que o bebê teve um cuidado amplo, com especialistas médicos (cardiologista, neurologista, nefrologista, radiologistas, cirurgiões) e uma equipe multiprofissional especializada (fonoaudoólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, enfermagem, nutrição, psicologia, banco de leite.).
“Só assim eles sobrevivem bem. É um tripé, eu sempre digo: pais presentes (o leite da própria mãe), fé e uma equipe especializada”, finalizou.
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