Mesmo sendo bonito por natureza, o município de Vila Velha abriga cenários que têm cor, cheiro e forma que não agradam tanto quanto as belas paisagens vistas por quem passa pela Terceira Ponte.
Já na chegada à cidade, é possível notar um canal que corta a Avenida Carioca, na Praia do Costa, ao meio. Ao mesmo tempo que a cena chama a atenção de quem passa pelo local, a realidade já passa despercebida por outras pessoas, que dizem ter se "acostumado" com o cheiro.
Ao todo, de acordo com a prefeitura, a cidade tem 42 km de extensão de canais espalhados em seu território.
O arquiteto e urbanista Juliano Motta Silva pesquisa a situação hídrica da cidade canela-verde. Ele escreveu um livro intitulado "Lembranças do Rio Marinho - aspectos da história e da memória de um rio capixaba", que inspirou um documentário.
Até 1977, a água que abastecia toda a Grande Vitória era captada do Rio Marinho, em Vila Velha. Hoje, o rio é um canal com odor de esgoto, água escura e lixo espalhado.
Juliano explicou que Vila Velha é um município com 210 quilômetros quadrados, sendo que 70% estão ao sul do Rio Jucu e os outros 30 estão ao norte do manancial.
Segundo ele, Vila Velha tem uma topografia que não favorece muito a ocupação urbana, com áreas que são até mesmo abaixo do nível do mar. Ao longo da história, diques e canais foram construídos para secar o terreno do município e possibilitar a construção de casas, ruas e avenidas.
"Só que muitas dessas áreas foram ocupadas de maneira irregular ou mesmo loteamentos foram construídos sem planejamento e avaliação de impacto da construção nas áreas propensas a inundações", afirmou o arquiteto e urbanista.
De acordo com ele, a área mais urbanizada, que mais sofre com as inundações, passou por diversas intervenções. Onde está a baía de Vitória e Vila Velha, há uma sequência de morros que começa no Morro do Moreno, contempla o Convento da Penha, Jaburuna, até chegar ao morro do Pão Doce, em São Torquato. Isso cria uma barreira do lado norte.
O pesquisador destacou que o Rio Jucu, ao sul, tem sua planície de inundação extensa. Por quê? Juliano respondeu que o rio tem seu curso desde a região de Pedra Azul em uma grande bacia hidrográfica, que acumula diversos rios e que tem sua planície de inundação na parte mais baixa que coincide com o município de Vila Velha.
"A região do Centro de Vila Velha é mais alta. Na Praça Duque de Caixas, Prainha, Marista e quando você percorre a avenida Luciano das Neves em direção ao terminal de Vila Velha percebe que, muito sutilmente, esse terreno vai descendo. A inundação do Rio Jucu chegava até essas áreas— e as áreas mais valorizadas historicamente são as que escapavam dessas inundações", revela.
A prefeitura de Vila Velha informou que mantém a limpeza na extensão dos 42 km de canais do município, incluindo remoção do excesso de vegetação nas margens com capina, roçagem e a retirada de resíduos levados para os canais.
Uma das estratégias é a realização de mutirões. Além de varrição e limpeza das caixas ralos para retirada de folhagens, terra e resíduos com o objetivo de desobstruir a microdrenagem e garantir o escoamento das águas pluviais.
A Prefeitura de Vila Velha (PMVV) mantém a limpeza na extensão dos 42 km de canais do município, incluindo remoção do excesso de vegetação nas margens com capina, roçagem e a retirada de resíduos levados principalmente em épocas de chuvas para dentro dos canais. Mutirões são realizados semanalmente e contemplam todos os bairros. Além de varrição e limpeza das caixas ralos para retirada de folhagens, terra e resíduos com o objetivo de desobstruir a microdrenagem e garantir o escoamento das águas pluviais. Para manter os canais e a cidade limpa, a PMVV pede a colaboração de todos os munícipes, para descartar o resíduo residencial somente no dia e hora da passagem do caminhão coletor de sua região. A PMVV informa ainda que realiza diariamente a limpeza preventiva de alagamentos no entorno dos canais e manilhas, dos bueiros dentro dos bairros, bem como das telas de proteção das Estações de Bombeamento.
Macrodrenagem
No total, Vila Velha terá 12 estações de bombeamento (Ebaps) interligadas. Três Ebaps municipais são as que já estão em funcionando: Guaranhuns, Sitio Batalha e Canal da Costa. Outras seis estão em construção, são: Ebap Laranja, Ebap Marinho, Ebap Pontal das Garças, Ebap Canal Bigossi, Ebap Parque das Gaivotas e Ebap Aribiri. Três que estavam em obras pelo Governo do Estado foram entregues neste ano: Ebap de Cobilândia, de Marilândia e da Foz do Costa. As Ebaps de Cobilândia e Marilândia foram inauguradas, mas ainda não estão em funcionamento pois, para completar a macrodrenagem, falta a obra do Dique e Parque linear do Canal Marinho, com obra já contratada pelo Governo do Estado.
A Ebap Foz do Costa entrará em funcionamento após a dragagem dos canais vicinais, que levam as águas até a estação. Serviço também empenhado pela gestão estadual. Vale ressaltar que assim que forem concluídas, a operação das Ebaps será de competência municipal e a prefeitura de Vila Velha está atuando em obras auxiliares para viabilizar o andamento das grandes obras de macrodrenagem. Está sendo implantado o novo programa de monitoramento do nível dos canais, parte do novo sistema digital de controle operacional de todas as estações de bombeamento. Esse sistema vai permitir acionamento automatizado das estações e comportas, de acordo com os níveis de maré, rios e canais que atravessam a cidade.
Questionada sobre as intervenções e investimentos previstos para resolver questões de coleta e tratamento de esgoto em Vila Velha, a Companhia Espírito-santense de Saneamento (Cesan) respondeu que o município conta com mais 413,9 mil metros de redes de esgoto que permitem o acesso ao serviço para 70,8% da população.
O planejamento para obras de coleta e tratamento do esgoto é realizado conforme o conceito de bacias, onde a implantação das redes é realizada de forma que o esgoto seja levado por gravidade até estações de bombeamento e destas para as estações de tratamento, que devolvem o efluente limpo para o meio ambiente. A meta da Cesan é atingir a universalização com serviços de coleta e tratamento de esgoto em todos os municípios onde atua até 2030, três anos antes do que prevê o marco regulatório do saneamento. Os investimentos já estão garantidos e as obras em andamento. O plano de negócios da Empresa prevê R$ 3,1 bilhões em investimentos de 2022 a 2026 na ampliação dos serviços de abastecimento de água e coleta e tratamento do esgoto em todas as áreas sob sua concessão.
Somente no período de 2019 a 2022, a companhia já investiu R$ 1,5 bilhão em saneamento, o que inclui Vila Velha. Vila Velha já conta com mais 413,9 mil metros de redes de esgoto que permitem o acesso ao serviço para 70,8% da população. Desta, 63,7% já está ligada às redes e utiliza os serviços. Para universalizar o sistema de esgotamento sanitário neste município, a Cesan conta com recursos já garantidos, para obra que estão em andamento objetivando melhorias e ampliação dos serviços de esgoto nos sistemas do Balneário de Ponta da Fruta, que beneficiará mais de 7.400 habitantes; a ampliação do Sistema de Esgotamento Sanitário Grande Terra Vermelha, que beneficiará mais de 72 mil habitantes; complementação do Sistema de Esgotamento Sanitário de Barra do Jucu, Interlagos e Morada do Sol, que irão beneficiar mais de 66 mil habitantes, com a construção de uma nova ETE em Ulisses Guimarães para atender todos os bairros da região.
Além disso, a ampliação do Sistema de Esgotamento Sanitário da Sede e Adjacências do município, compreendendo a ETE de Araças, que irá dobrar sua capacidade de tratamento para 900L/s, bem como a construção de elevatórias e quilômetros de novas redes, beneficiando uma população estimada de 390.000 habitantes.
A empresa também firmou uma parceria público-privada para acelerar os investimentos na ampliação e operação do serviço de coleta e tratamento do esgoto no município de Vila Velha, que somente em 2021, investiu mais de R$ 4,7 milhões direcionados a obras de esgoto nas regiões da Prainha, Maresguia, Alameda do Amor (Itapoã) e Fon Plata, beneficiando mais de 1.650 habitantes.
Essas obras serão responsáveis pela universalização do esgotamento sanitário no município de Vila Velha, até o ano de 2030.
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