Especialistas em saúde defendem que o Brasil acelere a autorização para uso emergencial da vacina contra a Covid-19 produzida pela farmacêutica Pfizer em parceria com a alemã Biontech. O imunizante foi aprovado para uso emergencial nesta sexta-feira (11) pela FDA, agência reguladora de medicamentos e alimentos dos Estados Unidos.
Os estudos apontam que a vacina da Pfizer tem eficácia de cerca de 95% para prevenir quadros provocados pelo novo coronavírus. Caso o laboratório peça a liberação emergencial também no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) terá de analisar o pedido em 72 horas.
Se a avaliação não ocorrer neste período, há a possibilidade da autorização acontecer de forma automática. A atuação da Agência está prevista na lei 14.006 de 2020, aprovada durante o enfrentamento à pandemia para desburocratizar processos que agilizariam o atendimento à população. De acordo com Anvisa, até este sábado (12), nenhum laboratório havia solicitado uso emergencial.
O médico infectologista Lauro Ferreira Pinto destaca que países como Estados Unidos, Alemanha, Japão e até outras nações com menor potencial econômico que o Brasil estão apostando em mais de uma vacina. Segundo ele, a nacionalidade do medicamento não é importante quando o foco está em garantir a segurança sanitária.
A preocupação que existe é que o Brasil tenha um plano de imunização o mais rápido possível e tenha vacina. Ha uma certa lentidão do governo em relação ao imunizante e houve muita politização desse tema e é uma pena porque nós precisamos desesperadamente de vacinas o mais rápido possível, alerta.
Atualmente, quatro compostos estão sendo testados no Brasil: o produzido pela Pfizer em parceria com a BioNTech; a vacina da AstraZeneca, desenvolvida na Universidade de Oxford; a chinesa Coronavac, criada pela chinesa Sinovac e que teve a produção iniciada no Brasil pelo Instituto Butantan ; além da Janssen-Cilag, da Johnson & Johnson.
Enquanto ficar essa discussão política se a vacina é chinesa ou russa, acho que a gente está perdendo tempo. Entendo que tem de haver autorização emergencial no Brasil também, para uso na rede pública, e seria interessante que esse uso seja coordenado pelo Ministério da Saúde para que a vacina seja disponível pelo Brasil, diz Lauro.
A pós-doutora em Epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ethel Maciel, destaca que o Brasil tem um programa nacional de imunização que é referência internacional, conhecido como o maior e mais robusto do mundo.
Ethel é a única capixaba que integra o grupo criado pelo governo federal para coordenar a aquisição e a distribuição de vacinas contra a Covid-19. A profissional será uma das responsáveis por uma parte importante da campanha de vacinação: traçar as estratégias quanto ao público que receberá a vacina primeiro.
Seria desastroso se os estados saíssem comprando as vacinas e fazendo uma campanha descoordenada. O Brasil tem que negociar todas as vacinas que forem eficazes e seguras, independentemente do fabricante. Nesse momento a coisa mais importante é a gente preservar as evidências científicas e preservar vidas. O governo tem de parar de politizar essa pandemia e aussmir o papel que tem com a sociedade brasileira", declara.
No início deste mês, o secretário nacional de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros, disse que a vacina ideal contra a Covid-19 seria de dose única e armazenada de 2 a 8 graus. Ele ponderou que trata-se de um "perfil desejado" e não descartou a compra de imunizantes que fujam deste padrão, como os produzidos pela Pfizer. A vacina americana precisa ser armazenada em -70º e exige duas doses. O Brasil testa apenas uma vacina aplicada em dose única, a da Jhonson & Jhonson.
O governo já expôs anteriormente a preocupação sobre o armazenamento em temperaturas negativas, pois as unidades básicas de saúde só possuem refrigeradores simples, para produtos que ficam em temperaturas mais altas, de 2 a 8 graus. A Pfizer afirma que tem um "plano logístico" para apoiar o transporte e armazenamento das doses ao Sistema Único de Saúde (SUS), caso o ministério feche contrato com a companhia.
"Para isso, foi desenvolvida uma espécie de contêiner (embalagem em formato de caixa) com temperatura controlada, que utiliza gelo seco para manter a condição de armazenamento recomendada, de - 75° C por até 15 dias", diz a empresa em nota divulgada no começo do mês.
A aposta do governo, por enquanto, é no imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford (Reino Unido) e o laboratório AstraZeneca. O governo investiu cerca de R$ 2 bilhões para comprar 100 milhões de doses desta vacina, além de equipar a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), laboratório ligado ao Ministério da Saúde, para produção independente do imunizante. Esta vacina é armazenada em temperaturas de 2 a 8 graus, mas deve ser aplicada em mais de uma dose, segundo os estudos.
Em outra frente de atuação para encontrar uma vacina, o Brasil espera receber doses para 10% da população por meio do consórcio Covax Facility, liderado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O país investiu R$ 2,5 bilhões para entrar no consórcio.
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