O interesse dos capixabas em procurar no Google termos relacionados à ansiedade disparou durante a pandemia. No ano passado, foram 3.132 buscas pelo tema, sendo o maior resultado em, pelo menos, cinco anos. Ou seja, nunca houve tanta vontade de conhecer mais sobre o transtorno e seus desdobramentos quanto no período de isolamento social.
Entre janeiro e agosto de 2021, a palavra “ansiedade” foi procurada 2.228 vezes na internet por moradores do Espírito Santo — número maior que o acumulado, por exemplo, durante todo o ano de 2019. O maior pico da curiosidade em relação ao tema, desde 2016, foi registrado na última semana de abril, quando foram feitas 100 buscas.
As buscas, realizadas de maneira discreta na internet, estão de mãos dadas com o que psicólogos e psiquiatras observam em atendimentos. Especialistas perceberam um crescimento nos sentimentos de angústia, insegurança, problemas ligados ao sono, entre outros relatos.
O impacto na saúde mental das pessoas durante a pandemia já era esperado. Isso porque, em um primeiro momento, a necessidade de isolamento social tirou das pessoas o contato com o outro e limitou diversas experiências.
A nova rotina cobrou um preço e desencadeou diversos transtornos, como ansiedade, depressão, entre outros. Não obstante, agravou problemas já existentes, mas que, até então, estavam em patamares menos avançados.
A psicóloga, educadora parental e gerente de RH corporativo da Multivix, Licia Assbu, observa que, desde antes da pandemia, os índices de pessoas com ansiedade seguia uma tendência de crescimento. O movimento, ela pondera, é mundial, mas no Brasil tem batido recordes.
Para se ter ideia, nos últimos 12 meses, os brasileiros dedicaram cliques às buscas sobre ansiedade 48 milhões de vezes, à frente da Alemanha, do Reino Unido e da Espanha, e atrás apenas dos Estados Unidos, segundo relatório produzido pela empresa de análise de dados Bites.
"Tanto é que também houve um aumento na procura por aplicativos de meditação, relaxamento, e similares”, observa a psicóloga.
Lícia reforça, entretanto, que não se deve confiar apenas no “diagnóstico do Google” e que, em alguns casos, as informações podem até causar mais danos. “O ideal é sempre buscar ajuda profissional, porque cada caso será analisado para que seja feito o diagnóstico correto e a indicação do tratamento.”
O que indica que a sensação de insegurança, de inquietude, entre outros problemas característicos não é apenas algo passageiro? Quando buscar ajuda? De acordo com a psicóloga e coordenadora do curso de Psicologia da FAESA, Caroline Bezerra, o primeiro sinal de alerta ocorre quando esses sentimentos começam a interferir de alguma forma na rotina.
É o caso, por exemplo, de um trabalhador que não está mais dando conta de um trabalho que fazia com tranquilidade anteriormente, de um pai ou uma mãe que tinham isso como rotina, mas já não conseguem auxiliar os filhos com tarefas de casas, ou quando uma pessoa, por mais que durma, nunca consegue se sentir descansada.
A psicóloga frisa que ter uma ansiedade momentânea, relacionada a um fator específico da rotina, como um problema de família, uma reunião do trabalho, é comum. Mas quando isso se torna algo mais forte e mais frequente, afetando o sono — causando insônia ou sensação de cansaço, mesmo que durma —, atrapalhando o desempenho no trabalho, a relação com a comida, é hora de ficar atento.
"A gente sempre alerta para o cuidado com a busca na internet. O buscador do Google já tem tido esse cuidado, quando a pessoa procura, faz uma filtragem e tenta mostrar primeiro hospitais, canais de ajuda, etc. Mas se você percebe o impacto, o nosso conselho é que busque um profissional para fazer a avaliação e fazer o acompanhamento. O tratamento precisa ser sempre adaptado à realidade daquela pessoa; assim como a avaliação. Quando a gente fala em depressão e ansiedade, não existe um tipo único."
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