Após duas décadas fora de operação, o aquaviário voltou a funcionar e já está atuando há pouco mais de um mês. Mas nem todos que precisam conseguem ter acesso ao novo modal de transporte da Grande Vitória. O Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Condef-ES) vem recebendo diversas reclamações de cadeirantes que não conseguem embarcar no sistema por conta da falta de acessibilidade.
A reportagem da TV Gazeta esteve nas três estações em funcionamento – Praça do Papa, em Vitória; Prainha, em Vila Velha; e Porto de Santana, em Cariacica – e conversou com pessoas com deficiência, que relataram as dificuldades encontradas para acessar as embarcações.
A digitalizadora Doracir de Almeida destacou que, na estação da Praça do Papa, chegar até o aquaviário era tranquilo, o difícil é conseguir embarcar. Já o atleta aposentado Leomar Guimarães, que esteve na inauguração do aquaviário, teve uma surpresa já na entrada e não conseguiu embarcar.
"Deu problema na roleta eletrônica e logo em seguida o rapaz informou que não ia dar para viajar, porque ainda não tinham que ver sobre acessibilidade. Estão precisando ajeitar", disse Leomar.
Em uma placa de orientações para o embarque, há um tópico que indica que pessoas com deficiência deveriam ter prioridades no embarque. A psicóloga Layla Rocha Soares destaca que o projeto já deveria ter sido adaptado.
"Antes de inaugurar deveriam pensar nisso. Já inaugurar com tudo adaptado. Na planta está tudo bonitinho com acesso e quando a gente vem, está de cara que não tem como a gente embarcar com segurança.
Na estação da Prainha, em Vila Velha, a reportagem da TV Gazeta encontrou um terreno instável para quem usa cadeira de rodas.
"O terreno instável, mesmo com a brita, não é suficiente, uma hora ou outra pode agarrar e precisar de ajuda de alguém. Mesmo com a cadeira motorizada ainda tem instabilidade do terreno e dificuldade de passar", disse o aposentado Josemar Soares de Souza.
Dificuldade enfrenta pela representante do Conselho Estadual da Pessoa com Deficiência, Rosilda Maria Dias, que destacou que não há uma placa informando onde fica o aquaviário.
Na hora de passar pela catraca na estação da Prainha, em Vila Velha, é mais uma frustração. O embarque de cadeirantes não está permitida. "Gera uma certa frustração, a gente vem com uma expectativa e essa expectativa não pode ser suprida", disse Josemar Soares.
Em conversa com a reportagem da TV Gazeta, o diretor de Operações da Companhia Estadual de Transportes Coletivos de Passageiros do Estado do Espírito Santo (Ceturb-ES), Anderson Barbosa, afirmou que o projeto do aquaviário foi pensando para ser totalmente acessível, mas por conta de uma orientação da Marinha do Brasil, foi suspenso a operação com cadeirantes.
"Fizemos alguns testes, é possível fazer embarque tanto na estação de Vila Velha quanto na de Cariacica. Mas infelizmente como a interligação dessas duas estações é com a Praça do Papa, nós fomos orientados a suspender esse serviço, não esperávamos que isso fosse acontecer", explicou Anderson Barbosa.
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Mobilidade e Infrestrutura (Semobi), respondeu por meio da Ceturb-ES e afirmou que, por conta da instabilidade do flutuante localizado na estação Praça do Papa, o Governo do Estado está buscando uma solução para permitir o embarque seguro de cadeirantes nas barcas, conforme orientação da Marinha.
No local, há muita movimentação do mar, o que requer cuidados adicionais para a segurança do usuário cadeirante. "Vale lembrar que todas as embarcações do Sistema Aquaviário possuem acessibilidade e espaço reservado para cadeirante", disse a Ceturb.
A frustração, no entanto, continua sendo de quem não consegue embarcar pela falta de acessibilidade. "É preciso entender que as pessoas com deficiência estão buscando seu lugar. É frustrante porque estamos rodeados de leis que não valem de nada", destacou Rosilda Maria Dias.
Em resposta a TV Gazeta, a Capitania dos Portos do Espírito Santo (CPES), como Agente da Autoridade Marítima, afirmou que fiscaliza e ordena, diariamente, o tráfego aquaviário nas águas interiores e no litoral do Espírito Santo, a fim de garantir a segurança da navegação, a proteção da vida humana no mar e a prevenção da poluição ambiental provocada por embarcações.
Disse ainda que prioriza a segurança dos usuários do Sistema de Transporte Aquaviário no canal de Vitória, e para isso, acompanha e orienta a empresa administradora pelo serviço prestado.
"Até o presente momento, aguardamos o cumprimento das observações/exigências que garantem a segurança das pessoas nos embarques. A Ceturb está em processo de adaptação das rampas já construídas de forma a viabilizar o acesso adequado para os passageiros cadeirantes efetuarem o embarque/ desembarque com segurança, conforme preconizado na Norma da Autoridade Marítima (NORMAM 02/DPC) - requisitos de habitabilidade e acessibilidade", disse por meio de nota.
A Capitania esclareceu que as condições da Estação do Aquaviário na Praça do Papa em Vitória sofre mais interferências de estabilidade por conta das condições meteorológicas em comparação com as duas outras Estações. Foi realizada vistoria pela CPES no último dia 26 de setembro, quando foi averiguado que estão sendo realizadas obras de metalurgia pela empresa, e em seguida irão testar com as embarcações nos referidos terminais.
Com informações de Priciele Venturini, da TV Gazeta.
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