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Cais do Hidroavião não decola e será devolvido pela prefeitura à SPU

Cais do Hidroavião não decola e será devolvido pela prefeitura à SPU

Prefeitura de Vitória entendeu que o tombamento histórico e a impossibilidade de usar o local economicamente inviabilizam ocupação do local

Publicado em 21 de setembro de 2022 às 11:41

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Cais do Hidroavião
Cais do hidroavião, em Santo Antônio, em Vitória. (Vitor Jubini)

O restauro e a reabertura do Cais do Hidroavião, na Capital – o primeiro aeroporto do Estado – não decolou e a Prefeitura de Vitória vai devolver o imóvel à Superintendência do Patrimônio da União no Espírito Santo (SPU-ES). O Executivo Municipal justifica que a devolução da construção histórica, localizada no bairro Santo Antônio, ocorre diante da impossibilidade de explorar o local economicamente.

Em 2019, o espaço foi cedido pela SPU-ES para a Prefeitura de Vitória. Ao longo dos últimos anos, a administração municipal vem estudando a melhor maneira de reformar a estrutura do Cais do Hidroavião e ocupar o local. Em 2020, um edital foi aberto para o restauro da construção. O objetivo era aproveitar da bela vista para a baía, somando valores turísticos, culturais e relacionados ao empreendedorismo.

Cais do Hidroavião não decola e será devolvido pela prefeitura à SPU

O edital, no entanto, não gerou interesse no mercado e nenhuma entidade se manifestou para ocupar as instalações. Em 2021, a Companhia de Desenvolvimento, Turismo e Inovação de Vitória (CDTIV) realizou novos estudos, desta vez para analisar a viabilidade econômica.

Houve o entendimento de que a ocupação deveria considerar o potencial turístico e incluir a possibilidade de transformar o cais em um empreendimento ligado à economia criativa. Mas segundo a Prefeitura de Vitória, o projeto só seria viável com a parceria da iniciativa privada ou com outra instituição.

Além do indicativo de parceria com o setor privado, ficou constatado que o imóvel é tombado como patrimônio histórico, natural e cultural. Assim, o entendimento foi de que a concessão só seria possível sem haver a possibilidade de exploração econômica – o que inviabiliza conceder o prédio à sociedade civil, na avaliação da prefeitura.

Com as limitações, o Executivo Municipal consultou a SPU-ES, que sugeriu a devolução. Agora, a Prefeitura de Vitória está adotando os trâmites para concluir o processo. 

Prédio do Cais do Hidroavião, o primeiro aeroporto do Estado, encontra-se abandonado
Prédio do Cais do Hidroavião, o primeiro aeroporto do Estado, encontra-se abandonado. (Fernando Madeira)

RELEMBRE A HISTÓRIA DO PRIMEIRO AEROPORTO DO ESTADO

O Cais do Hidroavião é uma construção dentro do bojo de um projeto maior, de logística de transporte implementado por Getúlio Vargas, desde que assumiu o governo do Brasil. A historiadora Leonor Araújo destaca que o entendimento na época era sobre a necessidade de melhorar a logística de transporte nos Estados, pela questão comercial e de comunicação interna e externa.

“O Cais foi construído em 1939. Esse é o momento da interventoria de João Punaro Bley, o interventor que ficou mais tempo no governo, enquanto interventor de Getúlio, que mudava o interventor igual mudava de terno. Ficou de 1930 a 1945. Bley fazia tudo que Getúlio mandava”, conta.

A desativação da estrutura ocorreu na década de 1950, quando começou a construção do Aeroporto de Vitória.

Cais do Hidroavião
O Cais do Hidroavião recebeu voos por cerca de 10 anos e depois caiu em desuso. (Reprodução/A Gazeta)

RELÓGIO DOS MORADORES DE SANTO ANTÔNIO

A construção foi pensada para ser erguida em Santo Antônio, pela questão dos ventos, que ajudavam no pouso dos hidroaviões, além de ser uma área da Baía de Vitória com as águas mais tranquilas. 

“Santo Antônio, desde 1910, estava ligada com o Centro da cidade por bonde. Além de todas essas condições geográficas, não tinha como construir em outro lugar porque a maioria da parte central do município estava tomada pelo Porto de Vitória. Tinha que ser um lugar próximo do Centro, do Porto e que pudesse ter todas as facilidades”, afirma Leonor Araújo. 

A historiadora conta ainda que a região ao redor do cais foi urbanizada, com praça e ligação com o bonde da Capital. “O hidroavião serviu muito para transportar, principalmente, os cafeicultores do interior do Estado. A maior parte das pessoas importantes que chegavam em Vitória vinha por navio ou pelo hidroavião, em 1939”, relembra.

“A obra tinha uma preocupação em ser um lugar aconchegante, com venda de passagens, acomodação de passageiros, trabalhado com vidro. Getúlio Vargas chegou pelo hidroavião, foi uma das pessoas que veio para a inauguração. Outras personalidades famosas também, quando vieram conhecer Vitória, o astro hollywoodiano Tayrone Power e o boxeador Primo Carnera”. 

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O hidroavião funcionava como relógio para a população de Santo Antônio. Tinha um voo regular das 14h, então todo mundo sabia a hora pelo momento em que ele chegava

Leonor Araújo
Historiadora
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Cais do Hidroavião
Cais do hidroavião em Santo Antônio. (Vitor Jubini)

PELAS ASAS DA CONDOR

As duas principais companhias que atuavam no Cais do Hidroavião eram a Condor – empresa alemã que depois da segunda guerra foi comprada pelos norte-americanos e virou a Cruzeiro do Sul – e a norte-americana Panair. Depois da Segunda Guerra, a Condor assumiu totalmente o espaço. No local passavam de monomotor a quadrimotor. 

“Depois que o Cais foi desativado, ficou abandonado, passou a ser usado pela Legião Brasileira de Assistência (LBA) e ainda sediou o Clube Caiçara, que depois passou a funcionar no Clube de Pesca, além de servir como ambulatório médico. Em 1984, foi doado para o Departamento Nacional de Telecomunicações (Dentel), diziam que iriam instalar uma estação de rádio”, conta a historiadora. 

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O patrimônio precisa ser recuperado como patrimônio histórico, artístico e arquitetônico. Não podemos pensar só em um retorno financeiro

Leonor Araújo
Historiadora
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"É um lugar lindo, pode ser usado como cais, já que não deve ser usado como porto de hidroavião, pode ser usado para passeios. Não exploramos muito o nosso turismo náutico, uma coisa que muitas cidades fazem, principalmente as ilhas. Ali precisa ser recuperado o museu, fazer um museu vivo, que faça interação com a população de Santo Antônio, um bairro reconhecido por ter muita história a contar, o nosso ponto zero de ocupação da ilha”, avalia a historiadora. 

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