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Capixaba ministra palestra sobre inteligência artificial na Nasa

Capixaba ministra palestra sobre inteligência artificial na Nasa

Giancarlo Guizzardi, natural de Vitória, é professor em universidades da Holanda e da Suécia, e nesta semana se reúne com membros da agência espacial americana para tratar de inovações sobre a IA

Publicado em 31 de janeiro de 2024 às 13:21

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Giancarlo Guizzardi, professor capixaba que vai ministrar palestra na NASA
Giancarlo Guizzardi, professor capixaba que vai ministrar palestra na Nasa. (Arquivo Pessoal)
João Barbosa
Repórter / [email protected]

Um professor capixaba vai ministrar uma palestra na Nasa sobre projetos de integração de sistemas vinculados à inteligência artificial (IA). Formado pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), onde também foi professor, Giancarlo Guizzardi é natural de Vitória e, atualmente, é professor catedrático de ciência da computação na Universidade de Twente, na Holanda, onde também dirige um departamento com 60 pessoas de diversos países. Atuou também como estagiário de TI na Rede Gazeta.

Na tarde desta quarta-feira (31), o capixaba, que também atua como professor na Universidade de Estocolmo, na Suécia, sobe ao palco do Jet Propulsion Lab (JPL) da Nasa, em Pasadena, na Califórnia, nos Estados Unidos. Já no dia 1º de fevereiro, Giancarlo faz uma reunião com a agência espacial americana para discutir sua colaboração em projetos do órgão.

Segundo Giancarlo, o convite para a palestra surgiu há alguns meses, quando um dos chefes de uma equipe da Nasa demonstrou interesse pelo trabalho feito pelo capixaba. Para a reportagem de A Gazeta, Giancarlo contou detalhes sobre o projeto que tem em mãos e sobre as inovações que pode levar ao órgão americano com seu trabalho.

Falando sobre a tomada de decisões por meio da IA e projetos de integração, é possível dizer que isso pode colaborar com avanços na exploração espacial? De quê forma?

A Nasa está investindo em um grande projeto de integração de sistemas usando modelos que representam de forma explícita o significado dos dados. Nesse escopo, eles precisam garantir que os sistemas de software complexos desenvolvidos ali sejam compreensíveis (semanticamente transparentes) e que possam ser verificados com apoio de inteligência artificial. Essa tecnologia já vem apoiando várias missões espaciais. No entanto, uma questão importante que precisa ser compreendida é que inteligência artificial não é uma coisa só. Iniciativas como o projeto Rosetta (que fez a primeira aterrissagem bem-sucedida em um cometa) usava IA de forma muito sofisticada, mas um tipo de IA diferente daquela que mencionei acima e muito diferente de como sistemas como ChatGPT são construídos. Diferentes tipos de IA servem para resolver diferentes tipos de problemas e podem oferecer diferentes tipos de garantias.

Dentro desse assunto, quais são suas especializações e o que será apresentado?

Junto com meu time, criamos uma linguagem para representação de dados que tem essa capacidade de representá-los com essa transparência semântica da qual falava. Para fazer isso, combinamos computação, com aspectos de filosofia, linguística, lógica matemática e ciência da cognição. Essa linguagem também foi usada pelo departamento de defesa americano, pela autoridade sanitária holandesa, e muitas outras organizações ao redor do mundo. Ela também é ensinada e utilizada em pesquisas em várias universidades em diversos países. A linguagem é complementada por um conjunto de ferramentas computacionais que permitem também de forma inteligente construir e verificar formalmente a correção dessas representações.

Dessa forma, também entramos em questões de um código de ética para ferramentas de IA?

Esse problema de descoberta e representação do significado de dados é um problema para sistemas complexos em geral em computação. Por exemplo, esse problema se tornou enormemente importante durante a pandemia porque, em primeiro lugar, precisamos entender sutilezas representadas nos dados e precisávamos integrar dados de várias fontes produzidas por pessoas diferentes, em condições e regiões diferentes [...] O termo Inteligência Artificial agrupa um conjunto de técnicas muito diferentes. Algumas dessas técnicas podem garantir transparência de significado e podem ser matematicamente verificadas. Infelizmente essas propriedades não podem ser garantidas pelas técnicas usadas nos sistemas que ganharam notoriedade pública nos últimos anos. Estes últimos usam uma coisa chamada “aprendizagem de máquina”. Eles são extremamente eficientes para detectar e repetir padrões, mas, por outro lado, não tem como explicar as suas decisões. Em outras palavras, nem seus próprios criadores sabem exatamente como esses sistemas tomam as decisões individuais que tomam.

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Giancarlo Guizzardi coordena grupo de estudos em na Holanda
Giancarlo Guizzardi coordena grupo de estudos na Holanda. (Arquivo Pessoal)

Segundo Giancarlo, as ferramentas de IA estão ganhando cada vez mais espaço em tarefas comuns da sociedade, como seleção de currículos, decisões sobre empréstimos, decisões judiciais, diagnósticos e prescrição de tratamentos médicos, veículos autônomos, entre outras coisas.

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Precisamos de avanços científicos nessa direção. Esses sistemas podem trazer avanços e benefícios sociais importantes, mas precisamos seguir com cautela e responsabilidade

Giancarlo Guizzardi
Professor de Ciência da Computação
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O capixaba ainda sinaliza a importância do tema e a necessidade de debates públicos sobre a IA. Questionado sobre a possibilidade de trazer inovações ao Espírito Santo, Giancarlo afirma que gostaria de contribuir com o avanço do Estado no uso das ferramentas de inteligência artificial.

"[Esse tema] esbarra em questões que são muito técnicas e, por isso, nós cientistas temos a responsabilidade de participarmos ativamente nele. Eu tenho participado dessa discussão em diversos países e gostaria muito de contribuir para esse debate também no Brasil. Tenho conversado sobre a realização de um conjunto de palestras sobre este tema ainda este ano no Brasil. Se o plano se consolidar, Vitória estará entre os primeiros lugares onde elas irão acontecer", frisa Guizzardi.

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