Igor Martins Silva, de 25 anos, é economista e conheceu a esposa, Oksana Sverliuk Martins, em 2012, durante um período em que morou na Ucrânia. Eles se casaram em 2015 e retornaram ao Brasil para viver em São Paulo. Tiveram uma filha que completou 1 ano de idade e levavam uma vida normal, tendo inclusive recebido a mãe de Oksana em dezembro de 2019 para conhecer a neta. Nos últimos dias, porém, tudo isso mudou.
Em entrevista à jornalista Fernanda Queiroz na Rádio CBN Vitória nesta sexta-feira (25), Igor contou que noites sem dormir e a angústia pensando nos entes queridos que estão vivendo o horror de uma guerra passaram a ditar o cotidiano do casal. A família de Oksana está em Rivne, uma cidade ao Oeste da Ucrânia, a cerca de 330 quilômetros da capital Kiev. A cidade, que tem pouco mais de 240 mil habitantes, é um dos alvos dos bombardeios das tropas russas.
Isso porque, segundo Igor, a região onde fica Rivne tem uma importante malha ferroviária. A cidade passou a ser alvo de bombas principalmente nessas áreas, para evitar o envio de armamentos, tropas e outro tipo de auxílio militar por outros países próximos.
"Tem uma grande malha de ferrovias importantes. Então tem sido visada por bombardeios. A família dela está agora em um bunker improvisado porque as sirenes na cidade tocaram", contou Igor.
O economista detalhou como são esses bunkers. Diferentemente de Kiev, que possui proteções profundas e estruturadas, além de estações de metrô cavadas metros embaixo da terra, Rivne utiliza subsolos de prédios para que seus habitantes se protejam das bombas. O que era para salvar, porém, pode se tornar a causa de um desastre.
"Em Kiev tem bunkers estruturados que são profundos e também estações de metrô que são bem profundas, conexão com internet é complicada. Não é o caso de Rivne. Eles estão em um bunker improvisado que, na verdade, é o subsolo de um prédio residencial e que pode virar um túmulo coletivo. As sirenes tocam, as pessoas vão para esses bunker improvisados. Uma vez que a sirene para de tocar, eles tentam retomar a vida, digamos assim", acrescentou.
Igor contou que já é possível ver supermercados com as prateleiras vazias. Para tentar escapar não apenas dos bombardeios, mas também da escassez de alimentos, tenta ir para cidades menores do interior da Ucrânia, que não são alvos das tropas russas. É o caso do pai de Oksana, que é separado da mãe dela e foi com a família para um vilarejo.
"As prateleiras de supermercados da região já estão vazias. Quem consegue, está tentando pegar o próprio carro e ir para vilarejos ainda mais para dentro, fugindo das zonas de combate. É o caso do pai da Oksana, que pegou a esposa dele, a filha dele e levou para um vilarejo. Mas, como ele tem idade de combate, tem 59 anos, ele está voltando para se voluntariar e continuar a defender a terra dele", narrou.
A convocação dos combatentes, conforme Igor, está acontecendo em quatro etapas. As duas primeiras são de pessoas que possuem experiência militar, seguido por aqueles que tiveram treinamento militar - algo, de acordo com o economista, obrigatório no país - e, por último, qualquer um com idade entre 18 e 60 anos.
"Essas convocações vão acontecer em quatro ondas. A primeira e a segunda onda, quem tem experiência militar, caso do meu sogro. A segunda onda é quem teve treinamento militar na universidade. Eles têm um programa, é como se a gente aqui no Brasil, no nosso alistamento obrigatório, todo mundo passasse por um treinamento compulsório. E a quarta onda é todo mundo que puder pegar em armas", detalhou Igor.
O sentimento entre Oksana e a mãe, que ainda está no Brasil, é de impotência. A impossibilidade de ajudar o país e as pessoas que elas amam as deixou com uma sensação de apreensão constante, além de noites em claro. Oksana, porém, achou um jeito para, de alguma maneira, conseguir ajudar: combatendo a desinformação.
"Minha esposa tem feito o que ela pode nesse momento, que é uma batalha da informação contra desinformação. Ela está digitando furiosamente nas redes sociais, compartilhando notícias relevantes, desmentindo fake news, fazendo o possível", contou Igor.
Enquanto o terror do conflito não cessa, Igor e Oksana mantêm contato constante com os familiares dela. Ele contou que foi levantada a possibilidade de tentar sair do país, mas que essa opção é muito complicada. A decisão foi de ir para vilarejos menores e torcer para que tudo acabe o mais rápido possível.
"As mulheres a gente poderia tentar tirar através da Polônia, porque a cidade de Rivne fica perto da fronteira com a Polônia. Mas a verdade é que o caminho para isso é muito tortuoso. O que ficou decidido é se esconder nos pequenos sítios que as famílias ucranianas têm em pequenos vilarejos", finalizou.
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