O astrofotógrafo capixaba Victor Lima, formado originariamente em Engenharia Civil, atua promovendo cursos e expedições fotográficas para registrar estrelas e belas paisagens. O cachoeirense, que hoje mora na Bahia, escolheu então as Cataratas do Iguaçu, no Paraná, para levar um grupo de onze alunos e captar, entre os dias 11 e 14 de março, cenas raras no céu do local. Esta foi a primeira expedição fotográfica noturna dentro do Parque Nacional.
Para explicar como foram feitas as fotos, ele explicou que foram usadas técnicas como a longa exposição, que é quando se captura a imagem por mais de um segundo. Também é feito uso de tripé, bem como de câmera que permita ajustes manuais de exposição. As lentes utilizadas são do tipo grande-angular, com abertura do diafragma bastante ampla (ou para quem entende: f2.8, f1.8, f4), fazendo capturas com o ISO (sensibilidade à luz) bastante alto e um sensor com ganho bastante elevado, já que o local é escuro.
O importante neste tipo de fotografia é o conjunto, unindo paisagem às estrelas. "Se chama 'Astrofotografia de Paisagem', nela a intenção é registrar os astros, de maneira geral, em conjunto com a paisagem do local em que se está fotografando", iniciou.
Para conseguir atingir o objetivo à noite, o astrofotógrafo precisou solicitar uma autorização especial para a administração do Parque Nacional do Iguaçu e para o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), além de ter ficado hospedado no único hotel dentro da área do parque, junto aos pupilos.
A organização de todo o evento ficou por conta do profissional. "Ministro workshops e expedições fotográficas dentro e fora do Brasil. Essas capturas das cataratas à noite foram feitas dentro de um workshop que ministrei no Parque Nacional do Iguaçu. Buscamos um local com apelo cênico forte, com paisagens bonitas. O local é uma das sete novas maravilhas do mundo", afirmou.
Depois da escolha do local, Lima explica que é avaliada a qualidade do céu para capturas de astrofotografia. "E aí existem mapas de poluição luminosa em que é possível identificar, em uma escala de 1 a 7, a qualificação do céu. O nível 1 é o melhor céu possível, com poluição luminosa nula, como é o caso de um deserto como o do Atacama. O 7 seria o centro da cidade de Salvador ou de Vitória, por exemplo. São lugares com maior dificuldade de visualizar estrelas", acrescentou.
De acordo com ele, a gradação do céu no local fotografado, no Paraná, fica entre 3 e 4, como se fosse uma área rural. "Usamos mapas para identificar se nos lugares onde se pretende ir é possível a realização de fotografias desse tipo. Tendo identificado que é possível fazer as fotografias lá, deve-se escolher a melhor época do ano. Usamos alguns aplicativos que têm o mapa do céu dentro deles e que permite situar como se fosse a câmera um determinado ponto do globo, para saber o posicionamento dos astros em cada dia do ano, em determinados horários. É ciência exata, muito preciso", contou.
Outro fator determinante para encontrar o local ideal para fotografar é a questão do clima. Segundo Lima, o fotógrafo deve avaliar usando curvas de precipitação e nebulosidade ao longo dos anos, para saber se o local pretendido tem épocas específicas em que o tempo é mais firme, contando com menos nebulosidade e menos chuva.
No caso das cataratas, o fotógrafo afirma que é um dos mais belos destinos naturais a se visitar no país e, por se tratar de um parque nacional, há no local um nível relativamente baixo de poluição luminosa.
"Para fazer esse tipo de imagem, é preciso se afastar das cidades e ir para um lugar que tenha uma característica de céu rural, que tenha pouca interferência da poluição da cidade. O Parque Nacional do Iguaçu é bastante grande e, apesar de estar próximo da área central de Foz do Iguaçu e da divisa com Puerto Iguazú, na Argentina, o céu permite esse tipo de captura, pela baixa poluição luminosa", descreveu o cachoeirense.
De acordo com o observador experiente, nas fotografias como estas feitas das cataratas é possível visualizar uma série de corpos celestes e nebulosas — que são nuvens interestelares de poeira e gases.
"Vimos o arco da Via Láctea, planetas como Júpiter e Saturno, nebulosas de emissão (nuvens de gás com temperatura alta), entre outros. Através das câmeras a gente capta as nebulosas com uma coloração rósea, meio avermelhada. Há também nas imagens algumas estrelas importantes, como Antares (estrela supergigante vermelha) e galáxias mais distantes", pontuou Lima.
Segundo ele, alguns desses elementos podem ser vistos inclusive a olho nu, em especial em locais de céu escuro, distante das grandes cidades. No entanto, não é possível enxergar os corpos da mesma forma que a fotografia permite, pois através da câmera é possível fazer exposições por tempo maior, usando câmera hipersensível, que acumula luz. "Já o olho humano trabalha em tempo real, não sendo capaz de acumular a luz. A gente consegue ter uma visualização desse céu, mas de maneira muito sutil, que não se aproxima do que mostramos nas fotografias, com mais detalhes, mais brilho e nitidez", disse.
Segundo o astrofotógrafo, é muito comum que algumas pessoas pensem que esse tipo de fotografia é necessariamente fruto de montagem, mas isso não corresponde à verdade. Dentro da astrofotografia de paisagens há modalidades:
Acontece quando a paisagem e o céu são capturados na mesma foto, o que foi o caso das imagens das Cataratas do Iguaçu. Este tipo permite também a fotografia panorâmica, que é quando se deseja ampliar o campo de visão e, para isso, é preciso fazer uma fotografia que tenha mais de 180 graus. Para fazer a panorâmica, geralmente com uma fotografia só não se consegue o resultado, então são feitas várias fotografias girando ligeiramente a câmera, para ampliar o campo de visão que quer cobrir. "Depois pega as imagens e costura para alinhá-las, colocando lado a lado, ficando mais estreita e esticada. São vários 'single shots' costurados para ampliar o campo de visão", definiu.
Normalmente, neste tipo de captura, o terreno acaba ficando escuro devido à falta de luz do local e o céu, pelo contrário, fica com exposição boa. Nesse caso é comum as pessoas fazerem capturas com tempo de exposição mais longo para o terreno, ou fazer em um horário mais cedo a foto, e depois manter o equipamento neste mesmo alinhamento, para quando escurecer fazer outra imagem pegando o céu todo escuro. Depois disso, são unidas as duas fotografias, mostrando o terreno de forma mais clara, em conjunto com o céu.
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