Uma capixaba fará parte do grupo criado pelo governo federal para coordenar a aquisição e a distribuição de vacinas contra o novo coronavírus (Covid-19). A epidemiologista Ethel Maciel é a única profissional do Espírito Santo a fazer parte do comitê, que será dividido em dez grupos. A profissional será uma das responsáveis por uma parte importante da campanha de vacinação: traçar as estratégias do público-alvo a receber as vacinas.
A epidemiologista Ethel Maciel, que é professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) explicou, em entrevista nesta segunda-feira (26) para a jornalista Fernanda Queiroz, na CBN Vitória, que o comitê contará com dez grupos diferentes. Cada um deles será responsável por um tipo de demanda da campanha. Entenda os grupos abaixo:
"Esses grupos de trabalho serão fundamentais, junto da Avisa, para fazer o acompanhamento das vacinas. Além dos técnicos do Ministério da Saúde, associações científicas do Brasil podem indicar pesquisadores para fazer parte desse grupo de trabalho. Ou seja, não haverá apenas técnicos ligados ao governo, mas também pesquisadores independentes, tudo muito organizado", contou em entrevista à CBN. Ethel é comentarista na rádio e também articulista em A Gazeta.
Ethel foi indicada pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e na última sexta-feira (23) recebeu o convite para fazer parte do grupo que irá coordenar a Situação epidemiológica da Covid-19 e definição da população-alvo para vacinação. Os profissionais desse comitê, especificamente, serão responsáveis por decisões importantes como definir os grupos prioritários e as etapas de vacinação. A primeira reunião de trabalho para apresentar ideias está marcada para acontecer no dia 3 de novembro.
Indagada sobre quais grupos a epidemiologista entende como prioridades para receber a vacina, Ethel citou pessoas em grupos de risco, como os idosos e profissionais da saúde que estão na linha de frente contra a Covid-19.
"Talvez não seja nessa ordem, mas vimos que pessoas acima 60 anos e com comorbidades estão morrendo mais, além dos profissionais de saúde. Nós somos campeões em morte de enfermeiros e médicos por Covid-19. Eles têm prioridade máxima porque o treinamento dessas pessoas é muito longo para colocar alguém formado, com qualificação, nas UTIs - local onde os profissionais que morreram mais atuavam. Perder uma vida já é trágico de qualquer forma. Mas ainda tem esse fator: a gente não consegue substituir essas pessoas na velocidade que a pandemia exige. Cuidar dos profissionais saúde é muito importante porque são eles que vão cuidar de nós", afirma.
Além do convite recebido, Ethel também comemorou o anúncio feito desta segunda-feira (26) pela Universidade de Oxford e o laboratório AstraZeneca, de que a vacina que estão desenvolvendo contra a Covid-19 induziu "uma forte resposta imune" em idosos durante testes de fase 2, realizados no Reino Unido.
"A grande dúvida que a gente tinha era como as vacinas iriam reagir em idosos. Até agora não tínhamos resultados dos estudos em pessoa acima 60 anos, que é um grupo prioritário, de pessoas que mais morreram pela doença. Sabemos que, infelizmente, quando chegamos aos 60 anos vão aparecendo outras doenças e o organismo não reponde da mesma forma que de um adulto jovem. A notícia que recebemos hoje é muito boa: a vacina apresentou uma proteção e estímulo no sistema imunológico", comemorou.
Sobre o estudo clínico referente ao uso do medicamento nitazoxanida em pacientes na fase precoce da Covid-19, que reduz a carga viral em pacientes, mas mas não evita complicações da doença, a epidemiologista definiu como "a decepção do fim de semana" por ter sido investido dinheiro público em algo que já era esperado ter uma chance mínima de dar certo, segundo ela. Os resultados parciais do estudo financiado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovações (MCTI) foram apresentados no Palácio do Planalto.
"Essa foi a decepção do fim de semana. Esse estudo foi encomendado pelo MCTI semana retrasada e anunciado ministro Marcos Pontes, que afirmou que esse vermífugo tinha eficácia. O modelo do artigo, porém, não foi avaliado pelas revistas científicas. Inclusive, ele mostrou um gráfico de plano de imagem que recebeu bastante crítica porque não era o resultado do estudo. Na sexta (23), divulgaram esse resultado enquanto revistas ainda estavam avaliando. Isso preocupa pesquisadores porque esse estudo foi feito gastando dinheiro público em algo que já sabíamos que a hipótese de dar certo era mínima. Como ainda não temos todos os dados, há alguns problemas metodológicos nesse estudo", conta.
Ethel explicou que a nitazoxanida, é um remédio para verminose, antiparasitário, testado em vitro com células em laboratório. De acordo com a epidemiologista, embora tenha apresentado reação contra Sars-Cov-2, quando testado em um paciente que já possui a doença, há evidencias de que não funciona.
"Mesmo assim o ministro chamou esses pesquisadores e financiou os estudos, que só foram realizados em pacientes leves. Excluíram os óbitos e eventos graves e do ponto vista clínico, queremos diminuir justamente os eventos graves. Os grupos com efeitos leves não precisam de medicação, eles vão se curar de qualquer forma. O único efeito que esse medicamento teve é que reduziu a carga viral do 5º ao 8° dia da doença. Mas esse efeito positivo sequer tem relação com o desenvolvimento clínico do medicamento porque do 5º ao 8º dia vemos uma diminuição natural da carga viral. O momento que o paciente mais transmite é quando ele nem apresenta sintomas. Nesses dias, o remédio não teve efeito nenhum. Ou seja, não adianta para nada", explicou.
Ethel finalizou que os resultados desanimadores deixam reflexão de que está sendo investindo muito dinheiro em algo que não beneficia o conhecimento científico. Para a profissional, a pandemia do novo coronavírus nos ensinou que não podemos ficar dependentes de outros países e que é preciso investir nos grupos de pesquisa brasileiros.
"Temos que ter financiamento para que possamos criar nossos próprios medicamento e não ficar apenas pagando para outros países pelos produtos que eles inventaram. Onde é importante investir nosso dinheiro? Em pesquisa nacional. Temos muitos pesquisadores criando produtos, mas não temos industriais que possam transformar esse conhecimento dentro da universidade em remédios nas farmácias. É isso que precisamos no Brasil: transformar essa indústria inexistente em uma indústria que crie emprego e a gente possa levar conhecimento ao nosso país", finalizou.
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