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Capixabas contam o que mudou na saúde após vencerem a Covid-19

Capixabas contam o que mudou na saúde após vencerem a Covid-19

Mesmo com o diagnóstico de curados, eles ainda precisam de ajuda médica e enfrentam problemas de saúde

Publicado em 5 de julho de 2020 às 07:00

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Maria da Penha Lima, 51 anos, curada de Covid-19
Maria da Penha Lima, 51 anos, curada de Covid-19. (Arquivo Pessoal)

Depois de 13 dias internada no hospital com Covid-19, era impossível para técnica em enfermagem Maria da Penha Lima, 51 anos,  não sentir alegria ao ir para casa, na Serra. Mas estar em casa não foi o suficiente para a rotina dela voltar. As sequelas deixadas pela infecção do coronavírus no corpo dela ainda estão sendo tratadas, mesmo após dois meses da alta hospitalar. 

"A respiração não é a mesma, o cansaço físico é muito maior e eu não dou mais conta de fazer todas as tarefas como antes da doença", contou.  O relato de Maria da Penha é semelhante aos de outros capixabas que, mesmos curados do vírus, ainda sofrem com os danos provocados pela infecção na saúde. 

Segundo médicos ouvidos por A Gazeta, são várias as sequelas que a Covid-19 deixa nos pacientes, como perda de memória, problemas cardíacos e renais. Dessa vez, a reportagem foi atrás de relatos de quem lutou pela vida no hospital e ainda terá uma batalha longa para ter 100% da saúde recuperada. 

FORÇA PARA LEVANTAR UMA GARRAFA PET

Robert Reis, 43 anos, trabalha como tecnólogo em radiologia médica. Estar em hospital faz parte do dia a dia dele. Sem doenças pré-existentes,  a Covid-19 o fez permanecer 28 dias dentro de um hospital, sendo 11 deles intubado. Superado a doença, agora ele precisa lidar com a fraqueza do corpo e o trauma deixado pelo tempo de internação. 

Robert  Reis, 43 anos, curado de Covid-19
Robert Reis, 43 anos, curado de Covid-19 em foto com a esposa e a filha, antes de ficar doente . (Arquivo Pessoal)

"Em seis de maio, eu entrei no hospital para trabalhar, já passando mal, e voltei quatro dias depois ainda pior. Lá fiquei, já no oxigênio e CTI. Em 23 anos de profissão, acostumado a cuidar das pessoas, eu precisei ser cuidado. Fui intubado, não vi nada mais por sete dias. Eu tinha 25% do pulmão funcionando e o rim foi afetado. Foram medicamentos e sete diálises, duas delas já depois de receber alta. No dia da alta foi incrível ver o sol do lado de fora do hospital, sentir quente no rosto e quase não enxergar por causa da claridade. Mas o mais importante era poder ver minha filha, voltar pra casa com minha esposa.

Eu perdi 17 quilos e agora vivo o pós-Covid. Já se passou mais de um mês da alta, mas só por andar seis minutos já preciso parar.  A recuperação é lenta. O pulmão tem que recuperar a capacidade respiratória, ele atrofiou. Ainda tenho falta de ar, cansaço na fala e pareço trêmulo. Por isso, faço fisioterapia pulmonar, mas sei que nem todo mundo tem acesso a isso.   Eu ainda tive sorte que a doença não atingiu o coração. 

A força física também não voltou. Consigo levantar um litro de garrafa pet em cada braço, é o suficiente. As pessoas não sabem que existe um pré, um durante e um pós-Covid. E não só do corpo, mas da mente. Fica um trauma, tenho medo até de dormir de luz apagada, pois tenho a sensação de que não vou voltar. Além do preconceito das pessoas, que querem se afastar ainda mais de você".

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O que mais me assombrava era não ter noção do que iria acontecer, se iria sobreviver para ver minha filha de 10 anos crescer. Além do medo de ver minha esposa como eu estava e não poder fazer nada. É uma doença que não escolhe cor, sexo, condição financeira e deixa marcas insuportávies na mente

Robert Reis, 43 anos
Ténico em radiologia
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UM PULMÃO QUE PREOCUPA

Noites de plantão em hospitais e os cuidados com a  mãe de 80 anos, acamada, consumiam a rotina da agitada e animada auxiliar de enfermagem Maria da Penha Linha, 51 anos. E ainda sobrava tempo e energia para cuidar da beleza. Nada disso voltou a ser assim depois do diagnóstico de Covid-19. A alta no dia 22 abril, após 13 dias em leito semi- intensivo, era o início de outra fase de cura para a moradora da Serra.

Maria da Penha Lima, 51 anos, curada de Covid-19
Maria da Penha Lima, 51 anos, curada de Covid-19. (Arquivo Pessoal)

"Um cansaço e dor no peito que aumentavam me fizeram procurar o pronto-socorro de Cariacia,  no dia 8 de abril. Não demorou pra de lá ser levada para o hospital. Quando saí com a afirmação de cura da infecção, começava uma outra fase. Andar, caminhar ou qualquer outro esforço  provocava falta de ar. Sou asmática e isso piorou depois da Covid-19. Fui para um pneumologista, fiz exames e  estou tomando antibióticos. O tratamento para o pulmão vai continuar, mas a situação complica meu dia a dia. 

Estou muito fraca, eu me sinto cansada e nem estou trabalhando fora. Não consigo concluir as tarefas, cuidar da minha mãe e da casa, coisa que eu fazia normalmente e que eram simples pra mim. Hoje, são atividades intensas.  Sinto ainda um dano psicológico. Enfrentei a infecção com muita fé, mas hoje a Maria da Penha é outra. A Maria da Penha antes era mais elétrica, ativa e  mais alegre. Agora, me sinto limitada nas ações da minha própria vida, eu dependo de alguém".

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A minha expectativa é a cura e a conscientização das pessoas, que é o fim disso tudo. Temo ser contaminada de novo e passar por tudo novamente, além do medo de colocar minha mãe em risco

Maria da Penha Lima, 51 anos
Auxiliar de enfermagem
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MUDANÇA DE CASA PARA SE EXERCITAR

Muito tagarela e simpático, o aposentado Hugo Regis da Silva, 80 anos,  é tido como um vencedor pelas filhas e  por muita gente que conheceu a história dele com o novo coronavírus.  Para um idoso muito independente e ativo, a fibrose do pulmão deixada pela Covid-19 fez com ele precisasse de novos cuidados. 

Hugo Regis da Silva, 80 anos, curado de Covid-19
Hugo Regis da Silva, 80 anos, curado de Covid-19. (Arquivo Pessoal)

"Tem dois meses que saí do hospital. Começou com cinco dias de febre, que passava e melhorava. Um dia amanheci com a cabeça vibrando. Passados dois dias, minha filha me levou ao hospital, eu passei a não sentir no sabor doce e salgado. Depois de ir e voltar do hospital, acabei ficando lá e descobriram que 50% do pulmão estava comprometido pelo coronavírus.

Foram  12 dias na UTI e três dias na enfermaria. Eu não sentia falta de ar, mas  a cabeça e a febre sim. Entrei em tratamento, não cheguei a ser intubado. Só conversava com  minhas filhas pela chamada de vídeo e recebia bilhetinhos. Cumpri 15 dias de isolamento no  Ibis, em Vila Velha, e agora estou morando com a minha filha, na Praia da Costa, para ter mais cuidados.

 A respiração fica fraca, ainda há pigarro na garganta, e o funcionamento dos rins ainda está voltando. Eu queria estar com meu neto, mas não posso nem subir escadas e preciso de espaço para fazer exercícios."

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Sentir falta da rotina antiga sinto, mas são momentos da vida, tem que aceitar. É maravilhoso que todos tenham essa oportunidade que tive de sair curado, as orações por mim eu só agradeço

Hugo Regis da Silva, 80 anos
Aposentado
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CADÊ O GOSTO?

O caminhoneiro José Carlos Resende, de 61 anos, ainda não sente o paladar e o cheiro de muita coisas desde que voltou para casa há 20 dias.  A internação pela Covid-19 o refez pensar na vida e também em como cuidar da saúde. 

José Carlos Resende, 61 anos, curado de Covid-19
José Carlos Resende, 61 anos, curado de Covid-19. (Arquivo Pessoal)

"Foi bater um raio-x do peito no pronto-atendimento que logo me levaram para o hospital. Fui colocado no soro e no oxigênio por 14 dias. O pulmão estava com muita secreção. Não estou 100%, mas caminho para os 85% depois que saí do hospital.

O pulmão está devagar, se andar um pouquinho mais, dá fraqueza. Eu começava trabalhar às 6h na Serra, todo dia, e agora não trabalho há 40 dias. Tento fazer limpeza pela casa, não aguento ficar muito tempo parado, só que ainda não pego peso.

 Preciso fazer caminhada, mas o que desejo mesmo é voltar ao futebol do dia de sábado. Ainda não tenho paladar, comida ou café não tem gosto. O cheiro eu também perdi, por enquanto.  

A vida muda depois dessa doença. Por isso, agora, é o momento de ficar em casa, pensar no bem-estar da gente. Repensar a vida,  é isso que essa  Covid-19 trouxe para mim. A vida é muito curta. Quero voltar a trabalhar logo, mas para isso preciso que todos pensem no próximo, se protejam e usem máscaras. É a dica que eu, que sobreviveu a essa doença, deixo para todo mundo".   

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