Dois turistas do Espírito Santo que estão de férias em Capitólio (MG) contaram que fizeram um passeio na sexta-feira (7), no Lago de Furnas, um dia antes de um deslizamento de pedras atingir embarcações no local. O acidente deste sábado (8) deixou ao menos oito mortos. Eles estão em uma excursão e pretendem voltar ao Estado neste domingo (9).
Os capixabas relataram à reportagem do G1 ES como foi saber da tragédia que aconteceu no mesmo lugar onde passearam.
"Hoje a gente saber que teve a tragédia no mesmo local que a gente estava foi bem assustador", contou Heron.
"Podia ser a gente ali e isso dói muito", disse o outro turista, Renato Pagotto.
A região de Capitólio e outras cidades banhadas pelo Lago de Furnas, no Centro-Oeste de Minas, são procuradas por turistas por sua beleza natural.
Assim como outras partes do estado, a região tem sido atingida pelas chuvas recentes: na sexta, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) havia emitido um alerta de chuvas intensas, que durariam até a manhã de sábado.
No sábado, Defesa Civil de Minas Gerais havia feito um alerta sobre chuvas intensas e a possibilidade de ocorrências de "cabeça d'água' em Capitólio, mas não há confirmação que essa foi a causa do acidente. A Marinha disse que investiga o motivo de os passeios serem mantidos.
O porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas, Pedro Aihara, explicou que a formação rochosa do local é do tipo sedimentar, o que torna as estruturas dos paredões frágeis, e a quantidade de chuvas agravou a situação por acelerar a erosão.
"Uma outra situação que acabou infelizmente agravando foi porque a rocha cai numa trajetória perpendicular. Geralmente, quando a gente tem ruptura por tombamento, a rocha sai de uma forma mais fatiada, ela escorre por aquela estrutura e cai de uma forma ou diagonal ou então mesmo em pé. Nesse caso, como a gente teve esse tombamento perpendicular, e pelo tamanho da rocha, a gente acabou tendo essas pessoas diretamente afetadas", explicou o bombeiro.
Para o especialista em gerenciamento de risco, Gustavo Cunha Melo, uma tromba d'água – inicialmente citada pelos bombeiros como motivo do deslizamento – pode ter agido como um gatilho para o deslizamento, mas não foi necessariamente a causa do problema.
Para Melo, a rocha se desprenderia de qualquer jeito, por causa da erosão.
"Essa rocha já estava com muita erosão, totalmente fragmentada, ela iria desabar em algum momento. A tromba d’água pode explicar o desabamento neste momento? Pode, assim como também não precisava nada – ela ia desabar em algum momento por erosão, por um processo natural", afirmou.
Nesses casos, segundo o especialista, o gerenciamento de risco consiste em isolar o local.
"Não tem muito o que fazer nessas situações. O gerenciamento de risco é: manter distância. Você tem que isolar a área. A única gestão de risco que é feita é isolar a área. Infelizmente ali as embarcações estavam muito próximas e o desabamento aconteceu nesse mesmo momento", explicou Melo.
O geólogo Fábio Braz, da Sociedade Brasileira de Geologia, relacionou o desprendimento das rochas às chuvas – intensas e por um longo período – e classificou o acidente como "raro".
"É um fenômeno raro. Não descaracteriza o apelo turístico da região de Capitólio. É preciso, sim, que sejam tomadas, a partir dessa tragédia, as precauções necessárias, as distâncias, que seja calculado por especialistas na área de geotecnia qual a distância segura desses paredões", disse Braz.
No fim da noite de sábado, policiais civis contaram que três pessoas que morreram na tragédia já foram identificadas, sendo dois homens e uma mulher. No entanto, não há autorização para divulgação dos nomes. Os policiais também relataram que alguns corpos ficaram mutilados, o que dificulta na identificação.
Os mortos, ainda conforme os agentes, estavam em uma única lancha, que seria de propriedade de um morador de São José da Barra, cidade próxima a Capitólio. As vítimas, que seriam conhecidas do proprietário da lancha, teriam ido até o local para conhecer o cânion.
Com informações de G1 ES e Folhapress
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