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'Carnaval já acabou', justifica promotor que recomendou barrar blocos no Centro

'Carnaval já acabou', justifica promotor que recomendou barrar blocos no Centro

Prefeitura de Vitória suspendeu alvará de blocos que desfilariam neste fim de semana após recomendação do MPES. Decreto municipal autoriza desfiles até 12 de março na cidade

Publicado em 24 de fevereiro de 2023 às 13:06

Ícone - Tempo de Leitura 4min de leitura
Bloco Regional da Nair desfila pela avenida Beira-Mar no Centro de Vitória
Regional da Nair desfilou na Beira-Mar, no Centro de Vitória, no domingo de carnaval (19). (Vitor Jubini)

O promotor de Justiça do Ministério Público do Espírito Santo Marcelo Lemos Vieira disse, em entrevista à Rádio CBN Vitória, na manhã desta sexta-feira (24), que a recomendação para que a prefeitura barrasse os blocos de carnaval deste fim de semana não fere o direito à manifestação cultural porque, segundo ele, “o carnaval já acabou”.

“Nós recomendamos que esses blocos não saíssem neste final de semana primeiro porque o carnaval acabou, né? Então não tem que se falar em obstar a cultura, a manifestação da cultura. O carnaval já teve seus dias oficiais, os blocos saíram nas suas datas, então não tem mais carnaval. São blocos que estão querendo sair fora do tempo”, afirmou. Ouça, mais abaixo, a entrevista na íntegra.

Contudo, segundo decreto publicado pela Prefeitura de Vitória, que regulamenta as regras para o carnaval na Capital, os blocos são autorizados na cidade de 21 de janeiro até o dia 12 de março, exceto nos dias dos desfiles das escolas no Sambão do Povo (dias 10 e 11 de fevereiro).

Fora do período do carnaval oficial, de 18 a 21 de fevereiro, o mesmo decreto exige que haja apenas um bloco, a cada dia, por bairro. No Centro, neste fim de semana, estavam previstos dois: o Esquerda Festiva, que sairia no sábado (25) e o Prakabá, no domingo (26).

Ambos tinham alvará para desfilar e tiveram a autorização suspensa depois da nota recomendatória do Ministério Público estadual.

Em janeiro, a própria prefeitura afirmou que a normativa que autoriza os desfiles fora do carnaval oficial foi fruto de amplo debate entre a sociedade civil organizada, representantes de blocos e membros da PMV.

A escolha dos blocos que vão desfilar em cada dia e local é feita por uma comissão de avaliação composta por membros de diversas secretarias da prefeitura, como Meio Ambiente, Transportes, Turismo, Cultura e Segurança Urbana.

Poluição sonora e prejuízo aos idosos

Na entrevista, o promotor salientou diversas vezes que gosta de carnaval e que participou de blocos quando era morador de Jardim da Penha, citando o tradicional Tô Bebo, que já não desfila mais.

“A gente é muito a favor dos blocos. Essa recomendação surgiu em virtude de muitas muitas reclamações que estão correndo ali no centro da cidade. No Centro, a maioria dos moradores são pessoas de idade. Não todos, claro que muitos participam dos blocos. Mas o que está havendo, eu acho, é que o bloco ficou maior que o bairro”, afirmou.

Segundo ele, os principais problemas dos blocos naquela região são a poluição com lixo e a perturbação do sossego dos moradores.

"A comunidade sofreu muito impacto ali no Centro, né? E não só a comunidade como também a questão ambiental, com muita destinação irregular de resíduos poluindo a cidade. E o pior de tudo, realmente, é a poluição sonora e a questão da perturbação do sossego”, diz.

Segundo ele, ainda que a maioria dos moradores seja favorável à realização dos blocos de rua, é dever do Ministério Público proteger o direito das minorias.

“A gente teve que recomendar porque nós temos o dever constitucional de fazer isso, de proteger, inclusive as minorias. As pessoas falam ‘mas a maioria quer’. Mas nem sempre a maioria tem sua base constitucional que justifique realizar determinado ato. E tem ali uma minoria, que não sei se é minoria, muito sacrificada”, argumentou.

Sobre as críticas com relação à recomendação ter se restringido aos blocos do Centro de Vitória, o promotor justificou dizendo que não chegou ao Ministério Público nenhuma reclamação sobre blocos em outros bairros da cidade. “Se chegasse, também tomaríamos a mesma providência”, disse.

OUÇA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA

Entrevista promotor Marcelo Lemos

Prefeitura não se manifestou

A Prefeitura de Vitória foi procurada na noite de quinta-feira (23) e na manhã desta sexta-feira (24) para se manifestar sobre a recomendação do MPES, mas ainda não se pronunciou. Assim que houver um posicionamento, este texto será atualizado. 

Já o Blocão, que representa os blocos de rua, fez uma reunião com os vereadores Karla Coser (PT) e André Moreira (Psol) e com as deputadas estaduais Iriny Lopes (PT) e Camila Valadão (Psol), nesta sexta-feira (24), para definir as ações que poderão ser tomadas.

Associação de moradores defende carnaval no Centro

Nas redes sociais, a Associação de Moradores do Centro de Vitória defendeu a realização do carnaval no bairro e cobrou providências do poder público para que sejam mitigados os efeitos negativos para a cidade. A associação criticou ainda a demora da prefeitura em iniciar o trabalho de organização dos eventos no Centro, como foi noticiado por A Gazeta.

"O poder público tem um ano para planejar as festividades mas, deixa pra cima da hora! Não havia sinalização nos banheiros, a guarda e a PM ficou concentrada apenas no controle do trânsito, não houve controle para evitar o descarte incorreto de lixo e não houve controle para coibir os que fizeram suas necessidades fisiológicas nas portas das casas, escolas, equipamentos públicos e prédios residenciais", escreveu.

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