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Casal de idosos morre com Covid-19 e neto diz: “quero ver meu vozinho'

Casal de idosos morre com Covid-19 e neto diz: “quero ver meu vozinho"

Lenide Ferreira dos Santos começou a passar mal após o enterro do marido Alvino. Os dois morreram com quatro dias de diferença

Publicado em 26 de maio de 2020 às 06:00

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Alvino de Jesus Santo, de 64 anos, faleceu vítima de Covid-19
Alvino de Jesus Santo, de 64 anos, faleceu vítima de Covid-19. (Acervo Pessoal)

“Eu quero ver meu vôzinho”. São com essas poucas palavras que o neto Heitor de Oliveira Pereira, de 2 anos, mostra sua vontade de estar com o senhor Alvino de Jesus Santos, de 64 anos. Apegado ao avô, o pequenino ainda não sabe, entretanto, que o perdeu numa batalha contra a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. Assim como ele, a esposa Lenide Ferreira dos Santos, de 70 anos, também não resistiu. 

O novo coronavírus já colocou um ponto final na história de 465 capixabas até a tarde desta segunda-feira (25), deixando dor e saudade entre os familiares. Casados há cerca de seis anos, Alvino e Lenide moravam em Boa Esperança, na Região Noroeste do Estado. Ele deixou três filhos e sete netos na segunda-feira (18). Já ela deixou seis filhos, oito netos e um bisneto, na quinta-feira (21), três dias depois. Os filhos são frutos de casamentos anteriores.

“Ele, desde a semana passada, quer muito ver o vôzinho, mas por causa do coronavírus não estamos saindo de casa. Todo mundo está muito triste com a morte deles, nunca imaginei que isso pudesse acontecer. Eu não falo nada com meu filho porque ele ainda não entende, mas preciso disfarçar o choro”, relatou a filha de Alvino, Josiane de Oliveira Santos, de 36 anos.

A filha conta que o pai era muito apegado à família, tanto que era tradição a entrega de um saquinho de doces para os menores no dia de Nossa Senhora Aparecida. Se os netos não o encontravam, era o próprio avô que ia em busca dos pequenos. Não podia faltar nada, tinha bala, pirulito e pipoca.

Homem caseiro e bom de prosa, fez um bar na varanda de sua residência, localizada na rua Itaúnas, no Centro da cidade. O ambiente era frequentado principalmente pelos mais próximos, que adoravam passar pelo local para conversar com o senhor Alvino.

“O pai era apaixonado pelo barzinho,  ele tinha muito amigos. Ele sempre abria no final da tarde e era ali que ele conversava, ria, a vida dele era aquilo. Não vamos continuar com o negócio, aquilo foi feito mais para ele se reunir com os amigos. A vida dele era ali”, disse.

DOENÇA 

Josiane conta que foi ela a responsável por levar o pai para o hospital da cidade, mas não pode ficar com ele por medida de segurança. Nunca imaginou, entretanto, que aquele era o último olhar que trocaria com ele. Ela sabia que ele teve contato com uma pessoa contaminada pelo novo coronavírus no bar, mas não pensava que a doença chegaria tão próxima deles. Até acreditou que mais uma vez o pai foi ao hospital devido à pneumonia crônica e a diabetes.

Ele foi internado na noite de segunda-feira (11), sendo transferido, por causa da falta de ar, para o Hospital Roberto Arnizaut Silvares, em São Mateus, no sábado (15). No segunda-feira (18) a notícia da morte.

“Por causa da pneumonia ele sempre tinha sintomas parecidos com o do coronavírus, como falta de ar, tossia, algo que ele reclamou muito da última vez foi a dor de estômago. Eles não deixaram eu me aproximar dele porque estava com suspeita do coronavírus, disse que era perigoso. Disseram apenas que nos manteriam informados”, disse.

Alvino foi enterrado na tarde de segunda-feira (18), a esposa, que ainda vivia o luto, começou a se sentir mal horas depois. Com falta de ar, foi levada de ambulância para o hospital do município, sendo transferido no mesmo dia para São Mateus. A morte ocorreu três dias depois.

Para o filho de Lenide, Vanderlei Ferreira dos Santos, de 43 anos, o que mais doeu foi não conseguir despedir-se de sua mãe. Os seis filhos moram em Montanha, Baixo Guandu, Boa Esperança, Vila Velha e Campinas, em São Paulo. “O pior de tudo foi não poder fazer um velório digno, ela foi enterrada como se fosse uma qualquer em Boa Esperança. Peço a Deus que tome conta da gente, é muito triste o que está acontecendo, minha mãe era uma pessoa ativa, gostava de frequentar igreja”, finalizou.

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