Um casal do Espírito Santo foi apontado como receptor de remédios roubados de hospitais e centros de distribuição de órgãos públicos do estado de São Paulo. Os medicamentos, comprados com dinheiro público, eram voltados para o tratamento de câncer e eram furtados da cidade de Campinas, no interior paulista.
Após o desvio, os medicamentos, que chegavam até R$ 22 mil por ampola, eram enviados para o Aeroporto de Vitória por meio de empresas de logística por Viracopos, em Campinas. Em apenas um dos furtos, o esquema chegou a movimentar mais de R$ 1,1 milhão em remédios, quando 79 caixas foram extraviadas.
De acordo com a apuração do "Fantástico", da TV Globo, como os remédios não tinham nota fiscal, as encomendas eram declaradas como doação, o que não levantava suspeitas das empresas de fiscalização.
Chegando ao Espírito Santo, os remédios roubados eram recebidos por Gleidson Lopes e Julianna Ritter, responsáveis por uma ONG situada na Serra, voltada para apoio a pessoas com dificuldade de locomoção.
De acordo com o Portal da Transparência da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales), Julianna é assessora parlamentar do deputado Danilo Bahiense, do PL. Além da ONG, Julianna também é sócia da empresa Saúde e Vida Comércio e Representações, de produtos hospitalares.
Procurada pela reportagem de A Gazeta, a Ales sinalizou que tomou conhecimento das investigações e que já atua para tomar providências sobre o caso.
Por sua vez, deputado Danilo Bahiense informou que foi notificado do caso pela reportagem do "Fantástico" e, imediatamente, entrou em contato com a Polícia Civil de São Paulo, para verificar o andamento das investigações. "Como delegado de Polícia Civil no Espírito Santo, com mais de 30 anos de combate ao crime, Danilo Bahiense não coaduna com qualquer tipo de delito. Diante dos fatos expostos, o parlamentar decidiu por exonerar a servidora", informou a assessoria de comunicação do parlamentar.
O advogado de Gleidson e Julianna afirmou que a assessora não participava do negócio e que Gleidson era responsável pela compra dos medicamentos, sem ter ciência de que eram furtados.
"Então a esposa forneceu essa possibilidade para que ele, uma relação de confiança esposa e marido, pudesse gerir, pudesse trabalhar, e utilizando as contas bancárias pessoa física dela e a empresa que estava em nome dela pela mesma razão", afirmou o advogado em entrevista ao "Fantástico".
Em dezembro de 2023, uma diretora do Departamento Regional de Saúde de Campinas procurou a Polícia Civil de São Paulo para relatar o desaparecimento de 79 caixas de medicamentos da unidade.
O remédio em questão era o Pembrolizumabe 25MG/ML que, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é utilizado no tratamento de diversos tipos de câncer. Na época, o furto totalizou um prejuízo de R$ 1.137.706,65 aos cofres públicos.
Com a investigação, a polícia descobriu que um servidor, identificado como José Carlos dos Santos, era o responsável por desviar os remédios do estoque. Já Gabriela Carvalho, enteada de José Carlos, despachava os medicamentos no aeroporto com o auxílio do marido Michael Carvalho, apontado como o chefe da organização e responsável por tratar a venda dos remédios.
Maria do Socorro, esposa de José Carlos, usava suas contas bancárias para movimentar o dinheiro oriundo da venda ilegal. No telefone de Maria, foram encontrados vários comprovantes de transferência para Julianna Ritter e para a empresa na qual ela é sócia.
José Carlos, Maria do Socorro e Gabriela foram presos pela polícia de São Paulo. Michael não foi encontrado.
* Com informações do "Fantástico" e do g1 Campinas
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