O casal de capixabas João Paulo Boguk e Priscila embarcou, no último dia 26, em uma verdadeira aventura. Em meio à guerra que assola a Ucrânia, eles viajaram ao país para buscar o pequeno João Levi, que nasceu no dia 19 de março de uma barriga de aluguel. A Ucrânia é um país com leis facilitadoras para casais que buscam pela gestação de substituição (termo usado para barriga de aluguel), proibida no Brasil, exceto em casos em que a barriga de aluguel seja de uma mulher com parentesco consanguíneo até o quarto grau.
E, nesta sexta-feira (1º), João e Paulo e Priscila conseguiram encontrar o filho. Em rápido contato com a reportagem de A Gazeta, o pai de primeira viagem (e que viagem!) contou que, no sábado (2), o casal vai até Varsóvia, na Polônia, com o filho. Ele afirmou que a situação na cidade onde está é normal, mas que ainda há traços da guerra.
"Tudo certo por aqui. Estamos em Lviv ainda, amanhã iremos para Varsóvia. Primeiras noites como pais. As coisas aqui em Lviv estão normais, pessoas nas ruas, não falta abastecimento. Tudo normal. Porém, a guerra está ocorrendo. Muitos soldados", disse.
João Paulo também ressaltou que a embaixada brasileira na Ucrânia está dando apoio ao casal, que terá ainda de retornar ao Brasil para enfim começar uma vida nova como pais. Eles têm passagem marcada para o dia 16 de abril, mas pretendem adiar para que João Levi possa ficar mais forte e aguentar o voo sem problemas.
"A ideia é ir para a Polônia passar alguns dias para o neném fortalecer. A Polônia é também o país de origem dos meus avós maternos, que vieram como imigrantes para o Brasil nos anos 1930, depois da Primeira Guerra Mundial. Eles foram para a região de Águia Branca, no Norte do Estado", detalhou o pai.
Há anos tentando engravidar, Priscila e João Paulo viram no país europeu uma oportunidade além das que tentavam para ter o primeiro filho. Em março do ano passado, eles foram para Kiev, conheceram uma clínica que realiza o serviço e logo iniciaram os procedimentos. De lá para cá, muita coisa mudou e a situação se agravou na Ucrânia, mas nada que diminuísse o sonho de anos pela maternidade e paternidade.
"Nós passamos por várias fertilizações in vitro no Brasil que não deram certo, então fomos para lá há cerca de um ano e nos encantamos pelo país. Muito bonito, com pessoas trabalhadoras e fomos muito bem recebidos. Em pouco tempo, a clínica que contratamos fez a implantação. A mulher engravidou, teve uma boa gestação e agora no dia 19 nasceu nosso anjo João Levi. Ele está sendo muito bem tratado em um berçário da maternidade, onde iremos buscá-lo muito em breve", contou João Paulo, que trabalha embarcado em uma plataforma, à reportagem de A Gazeta antes da viagem.
Até o parto, a gestante do filho do casal permaneceu junto de outras grávidas em um bunker (construção protegida de bombas) no subsolo da capital ucraniana sob monitoramento dos médicos.
"Quando a guerra aconteceu, ela (a gestante) já estava em Kiev, na reta final da gravidez. Não dava para sair de lá", afirmou Priscila em entrevista à Folha de São Paulo. "E sair de Kiev com um recém-nascido é muita responsabilidade, na clínica disseram que não podem entregar para qualquer pessoa, só para os pais", complementou ela.
O Itamaraty informou à Folha de São Paulo já ter auxiliado cinco famílias brasileiras a saírem da Ucrânia com bebês recém-nascidos e que outras duas deveriam fazer o mesmo até o fim de março - entre elas João Paulo e Priscila. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, foram flexibilizados alguns requisitos para o registro de nascimento e a emissão de documentos de viagem aos recém-nascidos, "em caráter excepcional dada a gravidade da situação" na Ucrânia.
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