Um ano após o misterioso caso em que um jovem foi encontrado na Praia do Ermitão, em Guarapari, com o abdômen aberto e o intestino exposto, Gabriel Muniz Tickersgill ainda se recupera das lesões, mas já leva uma vida “quase normal”. O caso aconteceu em 16 de janeiro do ano passado.
Ele e a namorada, Lívia Lima Simões Paiva Pedra, continuam juntos, informou Lécio Machado, advogado que fez a defesa do casal durante alguns meses e que agora permanece acompanhando apenas a jovem.
“Gabriel está bem de saúde. Segue com o tratamento, se alimenta bem e tem apresentado uma recuperação acima das expectativas. Leva uma vida quase normal”, relata o advogado.
Gabriel e Lívia foram à Praia do Ermitão fazer um luau de despedida em 16 de janeiro de 2022, considerando que a vítima iria viajar para o exterior no dia seguinte. Câmeras de videomonitoramento do acesso à praia revelaram que eles utilizaram o caminho das pedras.
No dia seguinte, ela acionou a família, pedindo socorro. Gabriel foi encontrado na praia com corte no abdômen e parte do intestino exposto. Lívia apresentava escoriações. O casal argumentou que foi vítima de um ataque.
A denúncia do MPES informa que o casal fez uso de droga (LSD). “Usando desse expediente, após as 20 horas, o jovem e a denunciada se deslocaram até a Praia do Ermitão (local proibido no período noturno), escolheram um lugar que iriam ficar e fizeram uso de bebida alcoólica, tiveram relação sexual, usaram drogas (LSD), tomaram banho de mar e passaram a ter alucinações devido ao uso de tais substâncias”, relata o texto.
Foi a partir desse momento que a namorada teria lesionado o rapaz de 21 anos. “Decorridas algumas horas, por motivação desconhecida e impulsionada pelos efeitos do uso das drogas, a denunciada, utilizando objeto cortante, golpeou a barriga do réu e o rosto dele”, diz o texto da denúncia.
O documento aponta ainda que, segundo as investigações policiais, “nenhuma outra pessoa foi vista entrando ou saindo do local em que se desenrolou a cena criminosa, nem os envolvidos mencionaram sobre a existência de qualquer pessoa que os tenha agredido, estando apenas eles na Praia do Ermitão no momento do crime”.
Em abril do ano passado, a Justiça estadual aceitou a denúncia do Ministério Público Estadual (MPES) contra Lívia, tornando-a ré em processo penal. Ela foi apontada como a autora das lesões. O documento acompanhou ainda o indiciamento feito pela Polícia Civil.
Segundo o MPES, por motivação desconhecida e impulsionada pelos efeitos do uso das drogas, “a denunciada, utilizando objeto cortante, golpeou a barriga do réu e o rosto dele, causando-lhe as lesões gravíssimas estampadas nas fotos e vídeos juntadas aos autos (processo), bem como no prontuário médico, que determinaram a debilidade permanente do intestino delgado da vítima, deformidade permanente e fratura da cavidade nasal e seio maxilar”.
A lesão corporal grave está prevista no parágrafo 2º, do artigo 129, do Código de Processo Penal. É considerado um crime doloso, quando se tem a intenção ou foi assumido o risco de causar lesões. Na denúncia, não foi solicitada a prisão da jovem e ela deve responder ao processo em liberdade.
O inquérito policial, que serviu de base para a denúncia, aponta que no dia 16 de janeiro de 2022, durante a madrugada, na Praia do Ermitão, bairro Praia do Morro, em Guarapari, a namorada, Lívia, “agindo de forma livre e consciente, ofendeu a integridade física do namorado”, diz o texto da denúncia.
De acordo com Lécio, o Juizado da Segunda Vara Criminal de Guarapari deve marcar nos próximos meses a audiência para ouvir Lívia, Gabriel, assim como outras testemunhas. E na sequência haveria a sentença.
Ele relata que Gabriel já fez o exame junto ao Departamento Médico Legal (DML) solicitado pela Justiça e entregou todos os documentos pedidos.
A expectativa, segundo o advogado, é de que Lívia seja absolvida das acusações. “Ela deve ser absolvida por falta de provas. Assim como Gabriel, ela também é uma vítima dos fatos ocorridos naquela praia”, assinala.
Na defesa da jovem entregue à Justiça estadual, Lécio Machado destaca a ausência de provas, de existência do crime e de autoria. Afirma que as agressões foram cometidas por “terceiros”.
“Estando ausente a prova de existência de crime, por falta de materialidade e indício de autoria, já que não há qualquer prova testemunhal, pericial ou documental que comprove as ações alegadas na inicial, deve Vossa Excelência absolver sumariamente Lívia”, assinala o advogado no documento.
Acrescenta que as principais testemunhas dos fatos são Lívia e Gabriel e que, nos casos dos crimes que são praticados às escondidas, na clandestinidade, o que se tem de prova é a palavra da vítima.
“Gabriel, em seu depoimento ao delegado, de forma clara e precisa, destacou que Lívia estava deitada na areia da praia, sobre uma canga a uma distância dele, quando ele foi atingido, atacado e perdeu a consciência”, informa Lécio, em sua manifestação à Justiça.
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