Está marcado para a próxima quarta-feira (5), às 9 horas, no Fórum Criminal de Vitória, o julgamento de quatro dos denunciados pelo assassinato de dois irmãos na Piedade, em Vitória, ocorrido há cinco anos. A acusação, além da apresentação de muitas provas técnicas das autorias do crime, deve contar com apenas uma testemunha no júri.
Os irmãos Ruan Reis, 19 anos, e Damião Marcos Reis, 22, foram mortos com mais de 20 tiros, cada um deles. Após a execução, outros crimes ocorreram na região, todos como resultado das disputas do tráfico de drogas nos bairros Piedade e Fonte Grande, em Vitória.
Serão julgados nesta quarta:
Segundo o promotor Rodrigo Monteiro, para o julgamento está previsto a depoimento de apenas uma testemunha no júri. À frente dos jurados — e também dos acusados —, estará um policial civil que participou das investigações. O promotor explicou que outras testemunhas não foram relacionadas para garantir a segurança e não expor as pessoas, pois o caso envolve facção criminosa. Também estão à frente do caso os promotores de Justiça Bruno de Oliveira e Gustavo Michelsem.
A previsão da promotoria é que o julgamento da testemunha de acusação dure mais de três horas. E o julgamento em geral pode chegar a durar dois dias. Monteiro afirma que os promotores vão trabalhar para garantir pena máxima de até 60 anos de prisão para cada um dos réus.
"Teremos o julgamento de quatro réus de um crime que chocou a comunidade. Nós temos muitos homicídios decorrentes do tráfico de drogas, mas esse choca de uma forma especial, porque foram dois irmãos assassinados. Pessoas que não tinham ligação nenhuma com crime, pessoas engajadas socialmente. Isso gerou uma comoção e repercussão muito grande na comunidade. Nós temos plena convicção de acordo com a prova apurada no processo que será possível a condenação de todos eles para que a família do Ruan e do Damião, em especial a mãe desses meninos, possa, enfim, encerrar o seu luto e encerrar o seu velório", frisa Rodrigo Monteiro.
O processo tem cerca de 1.500 páginas, com seis réus e muitas provas técnicas, algumas oriundas de interceptações.
Outros dois acusados do crime foram pronunciados – decisão judicial que os encaminha para o Tribunal do Júri –, mas não vão ser julgados com os demais porque recorreram contra a sentença e aguardam resposta da Justiça. São eles:
Após a primeira denúncia relacionada ao caso, o Ministério Público denunciou também os réus Geovani de Andrade de Andrade Bento e Tiago da Silva por participação nos homicídios. Eles seriam lideranças da região de São Benedito que teriam dado apoio aos acusados. O processo deles está em tramitação e ainda não há previsão de quando serão julgados.
Com isso, no total, a previsão do MPES é que ocorram três tribunais do júri a respeito do mesmo caso.
Conforme a denúncia do Ministério Público, Ruan estava em casa, na Piedade, na companhia da cunhada, quando foi abordado pelos réus, que portavam armas de fogo, usavam toucas ninja, coletes e coturnos. O grupo indagou a vítima sobre a localização dos chefes do tráfico de drogas do bairro. Como Ruan não soube informar, foi encaminhado até o alto do morro sob a mira de armas de fogo.
Damião, ao saber do ocorrido, foi à procura do irmão e o encontrou sob o poder do grupo. Ao questionar a motivação, os dois foram atingidos por mais de 20 disparos de arma de fogo. Segundo o MPES, o crime foi motivado pela disputa do tráfico de drogas no bairro e chamou a atenção pela crueldade e pela quantidade de disparos realizados contra as vítimas: mais de 60 tiros, no total.
A perícia encontrou 22 perfurações no corpo de Ruan e 20 no corpo de Damião. No local foram encontradas mais de 60 cápsulas de calibre 380, .40 e 9mm. O crime aconteceu no dia 25 de março de 2018, por volta de 1 hora, na Rampa Odilio Ferreira, próximo à Escadaria 25 de Abril, no bairro Piedade, em Vitória.
Os advogados Paloma Gasiglia e Marcos Daniel Vasconcelos Coutinho fazem a defesa de Flávio Sampaio. Informaram que acreditam na Justiça estadual e que buscarão a absolvição. Destacam que o processo se embasa em provas testemunhais que não reconheceram Flávio como partícipe, e que vão provar em plenário que ele não tem nenhuma ligação com o crime.
Os advogados dos três outros réus que vão a julgamento não foram localizados até a publicação deste texto.
O ano de 2018 no Morro da Piedade foi marcado por noites sangrentas, com crimes brutais, seguidos de ataques e ameaças a moradores que foram expulsos do bairro. Era o resultado da guerra do tráfico de drogas pela disputa de territórios. Foram pelo menos oito assassinatos, além de duas tentativas de homicídio.
A comunidade chegou a realizar protestos pedindo mais segurança. Dezenas de moradores acabaram deixando o bairro em decorrência do avanço da criminalidade e do medo de novos confrontos.
As investigações sobre os crimes ocorridos em 2018 apontaram que, desde o final de 2017, cerca de 20 pessoas portando armas de fogo e trajando toucas ninjas, coletes e coturnos se revezavam na procura pelos chefes do tráfico de drogas do local, com o objetivo de eliminá-los e tomar o controle da região da Piedade, da Fonte Grande e do Moscoso.
Esse grupo, junto com suas famílias, tinha sido expulso dessas localidades por volta do ano de 2012, por aqueles que estavam chefiando o tráfico na região. O comando do tráfico passou para as mãos dos integrantes da família Ferreira Dias, e era em busca deles que estava o grupo. Contavam com o apoio do PCV/Trem Bala. Na busca pelas lideranças do tráfico, foram praticados os seguintes crimes:
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