Em um depoimento tenso, cheio de questionamentos dos advogados, a coordenadora da escola em que estudavam as filhas de Milena Gottardi contou que o ex-marido da médica e ex-policial Hilário Frasson, acusado de ser um dos mandantes do assassinato, no dia do crime foi mais cedo que o habitual para buscar as meninas no colégio. O julgamento de Hilário e mais cinco acusados de envolvimento no homicídio começou nesta segunda-feira (23) e deve durar uma semana.
Ela relatou que as crianças saíam da escola por volta das 19 horas normalmente, uma vez que a mais velha tinha atividades extracurriculares. No dia 14 de setembro de 2017, data do crime, Hilário apareceu no local às 17 horas, sem que tivesse qualquer sinalização da família informando sobre a saída antecipada. Até aquela data, nunca tinha sido registrada uma tentativa semelhante.
A testemunha lembrou que Hilário chegou e ficou no pátio da escola aguardando o horário de saída, e que todos viram que ele estava nervoso, mandando mensagens, fazendo ligações e andando de um lado para o outro.
Ninguém foi falar com o ex-policial, disse a funcionária da escola, por medo. Ela contou que meses antes ele havia passado em frente à instituição mostrando ostensivamente a arma. "Os professores tinham medo dele", afirmou.
A escola também não liberou as crianças mais cedo, apesar de Hilário ser o pai, porque não havia uma justificativa prévia para a saída. Durante o depoimento, pela primeira vez um jurado se manifestou querendo fazer uma pergunta. Ele questionou se no dia do crime estava previsto que seria o ex-policial o responsável por buscar as crianças, fato que foi confirmado pela testemunha.
A testemunha também falou que, algum tempo antes do crime, Milena esteve na escola e apresentava manchas roxas, disfarçadas com maquiagem. A funcionária perguntou se era um machucado e a médica mudou de assunto.
Passado um período, Milena informou à escola que havia se separado de Hilário e tinha saído de casa, mudando também de bairro, mas que ainda buscaria as filhas. Disse também que o pai estava autorizado a buscá-las em alguns dias da semana.
Em confidência, Milena ainda mencionou, segundo a testemunha, que, se algo acontecesse a ela, as crianças deveriam ser "resguardadas".
Após o crime, quando as meninas voltaram à escola, elas apresentavam um comportamento alterado. A mais nova mordia o braço, enquanto a mais velha tinha um quadro de ansiedade por não saber quem iria buscá-las ou levá-las para a escola, e o que iria acontecer dali em diante. Ela também não gostava de responder quando as professoras a questionavam. O depoimento da testemunha terminou às 19h10.
A médica Milena Gottardi, 38 anos, foi baleada no dia 14 de setembro de 2017, quando encerrava um plantão no Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam), em Maruípe, Vitória. Ela havia parado no estacionamento para conversar com uma amiga, quando foi atingida na cabeça.
Socorrida em estado gravíssimo, a médica teve a morte cerebral confirmada às 16h50 de 15 de setembro.
As investigações da Polícia Civil descartaram, já nos primeiros dias, o que aparentava ser um assalto seguido de morte da médica (latrocínio). Naquele momento as suspeitas já eram de um homicídio, com participação de familiares.
Ao liberar o corpo de Milena no Departamento Médico Legal (DML) de Vitória, Hilário teve a arma e o celular apreendidos pela polícia. Ele não foi ao velório e enterro, que aconteceram em Fundão, onde Milena nasceu.
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