O Ministério Público do Espírito Santo (MPES) apresentou na tarde deste domingo (29), durante o julgamento do caso Milena Gottardi, novas conversas entre o ex-policial civil Hilário Frasson e o juiz afastado Alexandre Farina. Em uma mensagem encaminhada por Hilário a Farina, o ex-policial e ex-marido de Milena Gottardi diz que precisará de ajuda para recuperar a guarda das filhas, ao passo que o magistrado responde: "Conte comigo, irmão".
Apontado como mandante da morte da ex-esposa, Hilário também é acusado de ser o intermediário em um esquema de venda de sentenças que envolve Farina e o juiz Carlos Alexandre Gutmann, que chegaram a ser presos e afastados das atividades por decisão do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES). Os magistrados ficaram presos em sala de Estado maior, no quartel da Polícia Militar, em Maruípe, mas respondem o processo em liberdade.
As mensagens foram trocadas em abril de 2017, mesma época em que os dois estavam em contato sobre a suposta venda de sentenças, como mostrou o MPES. Após Milena Gottardi conseguir uma liminar para sair da casa que morava com Hilário com a guarda das filhas, de um ano e dez meses e nove anos, na época do crime, o ex-policial pede ajuda ao juiz.
Hilário: "Irmão, vou precisar de sua ajuda para conseguir a guarda das minhas filhas"
Farina: "Conte comigo, irmão"
Hilário: "Eu sabia"
Farina: "Julio César me disse que o juiz Vitor Pimenta já deferiu a liminar"
Hilário: "Agiram na covardia"
Farina: "Já constitui advogado agora. Calma"
Para Leonardo Augusto de Andrade Cezar dos Santos, um dos promotores responsáveis pelo processo do assassinato de Milena Gottardi, a relação entre Hilário e membros do Judiciário era algo que Milena temia e que o ex-marido usava para coagi-la a não se separar. "Era este o Judiciário de que Milena tinha medo", afirma o promotor.
De acordo com o MPES, Hilário ameaçava Milena ao dizer que "nenhum juiz daria a ela a guarda das crianças, já que ele conhecia a todos na Justiça". O ex-policial, antes de entrar na Polícia Civil, foi assessor de gabinete do desembargador Arnaldo Santos Souza, hoje aposentado. O magistrado foi, inclusive, uma das testemunhas de defesa arroladas pelos advogados de Hilário. Ele afirmou que Hilário lhe parecia ser um pai cuidadoso com suas filhas e que o considerava, assim como outros membros do gabinete, como "membro da família".
A reportagem entrou em contato com a defesa do juiz afastado Alexandre Farina sobre a citação durante o julgamento. Até a publicação da reportagem não houve retorno sobre o questionamento. Assim que houver uma resposta, esta matéria será atualizada.
A médica Milena Gottardi, 38 anos, foi baleada no dia 14 de setembro de 2017, quando encerrava um plantão no Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam), em Maruípe, Vitória. Ela havia parado no estacionamento para conversar com uma amiga, quando foi atingida na cabeça.
Socorrida em estado gravíssimo, a médica teve a morte cerebral confirmada às 16h50 de 15 de setembro.
As investigações da Polícia Civil descartaram, já nos primeiros dias, o que aparentava ser um assalto seguido de morte da médica (latrocínio). Naquele momento as suspeitas já eram de um homicídio, com participação de familiares.
Ao liberar o corpo de Milena no Departamento Médico Legal (DML) de Vitória, o ex-policial civil Hilário Frasson teve a arma e o celular apreendidos pela polícia. Ele não foi ao velório e enterro, que aconteceram em Fundão, onde Milena nasceu.
Os dois primeiros suspeitos foram presos, no dia 16 de setembro de 2017: Dionathas Alves Vieira, que confessou ter atirado contra a médica para receber R$ 2 mil; e Bruno Rodrigues Broeto, acusado de roubar a moto usada no crime. O veículo foi apreendido em um sítio, onde foram queimadas as roupas do executor.
Em 21 de setembro de 2017, o sogro de Milena, Esperidião Carlos Frasson, foi preso, suspeito de ser o mandante do crime. Também foi detido o lavrador Valcir da Silva Dias, suspeito de ser o intermediário. Na mesma data, o ex-marido Hilário Frasson foi preso.
O último a ser detido foi Hermenegildo Palauro Filho, o Judinho, em 25 de setembro de 2017, apontado como intermediário. Ele tinha fugido para o interior de Aimorés, em Minas Gerais.
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