"Já tem prova de que ele estava bêbado. Falta boa vontade. As coisas estão caminhando para ele se livrar dessa, mas a gente vai seguir lutando, porque foi um crime monstruoso e ele precisa pagar. Ele não tem noção do que ele causou, da pessoa maravilhosa que ele tirou da gente."
O desabafo é da Kelly Bergamini, mãe da estudante Ramona Bergamini Toledo, que morreu atropelada aos 19 anos, enquanto trabalhava como entregadora por aplicativo em Vila Velha. Nesta quinta-feira (4), a morte da jovem completa um ano. Para a família, a sensação é de que a Justiça ficou parada.
O motorista do carro que acertou a jovem chama-se Wilker Wailant. Embriagado ao volante, ele subiu no canteiro central e invadiu a contramão da Avenida Carlos Lindenberg com o veículo, atingindo a moto em que a vítima estava. Ela aguardava a abertura de um semáforo e morreu ainda no local.
Autuado em flagrante por homicídio culposo qualificado, devido ao consumo de álcool, ele chegou a ser preso preventivamente em 7 de março de 2020. No entanto, ficou atrás das grades por apenas 19 dias e, coincidentemente, soube da soltura na data em que a jovem completaria 20 anos de idade.
Desde então, todos os andamentos do caso beneficiaram o indiciado: o pedido de Habeas Corpus foi atendido de forma definitiva em maio pelo Supremo Tribunal Federal (STF); no mesmo mês ele foi liberado para visitar os pais em Cachoeiro de Itapemirim; e em julho pôde deixar o Estado para trabalhar.
O cenário atual é o seguinte: o caso completa um ano nesta quinta-feira (4) com o processo ainda em fase de inquérito policial no Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES). Até o momento, o Ministério Público Estadual (MPES) nem sequer apresentou denúncia contra Wilker Wailant, que segue impune.
Questionado pela reportagem, o MPES informou que o promotor solicitou informações complementares e "imprescindíveis" à Polícia Civil, tais como depoimentos de testemunhas e informações sobre as condições da pista, da iluminação e do clima no momento dos fatos.
"Vale ressaltar que a pandemia dificultou a tramitação do procedimento, que por envolver inidiciado solto não tramitou com a mesma celeridade dada aos casos em que há réus presos. Quando o inquérito policial retornar, o promotor analisará os elementos e decidirá por qual crime oferecerá a denúncia", afirmou o órgão.
Na quarta-feira (3), a Polícia Civil informou que as novas diligências foram realizadas pela Delegacia Especializada de Delitos de Trânsito e que o inquérito será encaminhado, ainda nesta semana, para o Judiciário, solicitando medidas cautelares. Porém, outros detalhes não foram passados.
Em outubro do ano passado, a PC reforçou que o inquério policial havia sido concluído, inicialmente, em 13 de março. Ou seja, nove dias depois do crime. Na época, a investigação resultou no indiciamento de Wilker Wailant por homicídio e tentativa de homicídio, ambos com dolo eventual.
No acidente que matou a jovem Ramona, o carro dirigido por Wilker Wailant ainda bateu em outro automóvel que trafegava na Avenida Carlos Lindenberg, também na altura do bairro Nossa Senhora da Penha. Dentro deste veículo estava a motorista, uma mulher identificada como Maria Aparecida Figueiredo.
Com ferimentos leves, ela foi socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e levada para um hospital. Ainda de acordo com informações passadas pela Guarda Municipal de Vila Velha à época, um ônibus também foi atingido, mas o motorista e os passageiros saíram ilesos.
Apesar do desânimo e da revolta causados pelo não andamento do processo, a família de Ramona Bergamini Toledo garante que lutará para que Wilker Wailant pague, de alguma forma, pela morte da estudante. "Ela não pode ser mais um descaso da Justiça, não vamos desistir", afirma a mãe.
"Ela tinha uma vida, estava trabalhando, não teve chance de se defender. Foi uma covardia e não vamos deixar ser esquecido. Esse tipo de crime tem que acabar", defende Kelly, que vê a futura punição como um alívio. "Principalmente se ele for preso, se for privado da liberdade, como fez com a minha filha para sempre".
Por meio de nota, o advogado Ludgero Liberato, que faz a defesa de Wilker Wailant, destacou que o cliente continua trabalhando fora do Espírito Santo, "inclusive por questões de segurança", e que este esclarecerá os fatos em juízo.
A seção "Que fim levou?" de A Gazeta tem como objetivo resgatar casos antigos do Espírito Santo e mostrar qual desfecho eles tiveram. Lembra de algum fato marcante e gostaria de saber que fim levou? Envie e-mail para [email protected]
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