Depois das festas de final de ano e com a circulação da variante Ômicron, os casos confirmados do coronavírus dispararam no Espírito Santo no início de janeiro. No entanto, em dois municípios, o cenário foi especialmente crítico: Vitória e Guarapari – onde os aumentos superaram 400% e 600%, respectivamente.
Isso significa que o número de novas infecções na Capital passou de 375 na última semana de dezembro para 2.093 na primeira deste mês. Já na "cidade saúde", o mesmo indicador saiu de 60 e saltou para 438, no mesmo período. Os dados são da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa).
Especialistas ouvidos por A Gazeta afirmam que o Espírito Santo, como um todo, já atravessa a quarta onda da Covid-19. Nesta semana, o secretário Nésio Fernandes alertou que cidades têm registrado o maior pico de casos de toda a pandemia – cenário que deve se repetir nas próximas semanas.
Um exemplo da nova fase que o Estado vive é o recorde no número de casos confirmados em 24 horas. Na última segunda-feira (10), foram quase 7 mil novas infecções divulgadas no painel da Sesa – quantidade que supera em 83% a maior registrada até então, no dia 30 de março do ano passado.
Diretor de Integração do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), o pesquisador Pablo Lira alerta que há um "aumento exponencial" de casos de Covid-19 e que a variante Ômicron, "altamente transmissível", é predominante no país. No Espírito Santo, ela já responde por 97% das infecções.
"A boa notícia é que os óbitos não estão apresentando essa tendência de aumento muito forte. No Estado, estamos mantendo aproximadamente 2,3 mortes por dia, na média móvel das últimas duas semanas. Isso é uma evidência robusta da importância da vacinação", defende.
No entanto, a epidemiologista Ethel Maciel lembra que o maior contágio começa a impactar as mortes com algumas semanas de atraso e ressalta que as consequências devem ser sentidas mais claramente até o final deste mês. "Ainda não estamos vendo os óbitos da Ômicron", afirma.
Um fator que preocupa a especialista é a grande quantidade de capixabas que ainda não tomou a segunda dose da vacina – cerca de 1,3 milhão incluindo aqueles que não receberam nem a primeira – e o pequeno percentual de quem está com o esquema vacinal completo, já com a dose de reforço.
O que os dois são categóricos em afirmar é que o número de casos confirmados no Espírito Santo deve continuar crescendo nas próximas semanas. Por isso, faltando cerca de um mês para o Carnaval, o pesquisador Pablo Lira afirma que é preciso cautela na decisão a respeito das festas.
"A grande maioria dos municípios brasileiros não está trabalhando com a possibilidade de realizar os carnavais de rua, por ser um ambiente difícil de exigir documentos de testagem e vacinação. É prudente que as cidades capixabas sigam esse exemplo, como o próprio Rio de Janeiro (RJ) fez", argumenta.
Sobre a realização dos desfiles no Sambão do Povo, em Vitória, a princípio confirmados, ele defende que é preciso aguardar. "Precisamos avaliar a conveniência e a segurança para realizar eventos com aglomerações de pessoas, a exemplo do que acontece nos desfiles de escolas de samba", diz.
Mesmo diante do aumento, a Secretaria Estadual de Saúde já afirmou que não pretende impor novas restrições ao comércio e ao setor de eventos. Na visão da epidemiologista Ethel Maciel, essa medida pode ser revista a qualquer momento e é preciso acompanhar a pressão no sistema de saúde.
Por sua vez, Pablo Lira menciona que o Governo do Estado trabalha com uma matriz de risco que prevê uma série de medidas socioeconômica de acordo com a classificação de cada município e que os próximos mapas devem trazer cidades no nível moderado, devido ao aumento no número de casos ativos.
"O momento é de alerta. O caminho para superar a quarta fase de expansão da pandemia, que já está demonstrada pelos casos confirmados, é a testagem, o uso da máscara – cuja obrigatoriedade segue mantida – e evitar aglomerações. Além do fator primordial, que é a vacinação", conclui.
Se os casos confirmados estão crescendo no Espírito Santo, a taxa de transmissão (RT) do coronavírus também aumenta. Depois de três semanas indicando uma redução da pandemia, o indicador voltou a ficar acima de 1 na última semana de dezembro, apontando um agravamento do cenário.
O RT representa a relação de indivíduos que são contaminados por cada um que está com a Covid-19. Ou seja, o patamar registrado de 1,01 significa que cada 100 positivados transmitem a doença para outras 101 pessoas. O ideal é que a taxa de transmissão permaneça sempre abaixo de 1.
Quando se divide o Estado, a Grande Vitória ainda registrava, no final do mês passado, um RT de 0,97 – já bem maior que o da semana anterior, que era de 0,75. O interior, por sua vez, estava desde o início da segunda quinzena com a taxa de transmissão superior a 1, marcando 1,02 e 1,05.
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