Era uma noite de sexta-feira, outubro do ano passado, quando o pedreiro Josias dos Passos Lírio, 53 anos, foi alvo de um tiro durante um assalto a uma distribuidora de bebidas, na Serra. Ele não resistiu ao ferimento e morreu.
"Ele era um grande homem, muito amado, uma pessoa maravilhosa que infelizmente que teve a vida tirada de forma tão trágica. A esposa se mudou do Espírito Santo, já não suportava mais viver aqui", conta uma amiga da família que não quis se identificar.
A morte de Josias durante um assalto foi um dos 39 registros de latrocínios - roubo seguido de morte - que ocorreram no Espírito Santo em 2020. Esse número é 56% maior que o ano anterior, quando ocorreram 25 casos.
O professor de Direito Penal da Faculdade Multivix, Raphael Pereira, acredita há uma juventude mais propensa à violência do que há 10 anos, pois vivem em meios familiares e sociais violentos.
"Não se consegue delimitar um ponto apenas como causa do aumento do número de latrocínios, mas é possível observarmos alguns fatores que orbitam neste crime. Há o uso mais intensificado de drogas, o que colabora mais com esse comportamento. São indivíduos cada vez mais jovens, até menores de idades, propensos a não terem limites comportamentais, pois não possuem formação mental completa e acabam não tendo a real noção de suas atitudes", destacou.
O professor destaca também que a pandemia de 2020 - e que continua em 2021 - deve ser analisada como um dos fatores que podem ter contribuído para esse aumento.
"Quando há uma alteração social e econômica tão drástica e uma queda da renda, elevação do desemprego, falta de opções e perspectiva de grande parte da população, tem-se um reflexo direto na segurança pública e crimes contra o patrimônio, pois há um agravamento da desigualdade social que existe no país", completou Raphael Pereira.
O secretário de Segurança Pública e Defesa Social, coronel Alexandre Ramalho, aponta a reação da vítima durante um assalto como um fator para que o roubo termine com morte.
"Muitas vezes é uma reação natural de cada pessoa, de nervosismo, que pode ensejar na reação do infrator. O intuito é o roubo, mas lamentavelmente, com a arma de fogo, aquele roubo se transforma em um latrocínio", descreve o secretário.
Ramalho pontua que é um desafio para as polícias evitar esse tipo de crime, já que se trata de uma decisão da circunstância.
"O latrocínio é um crime difícil de ser evitado devido à imprevisibilidade presente no momento da ação, pois é um roubo ou tentativa de roubo que acaba se consumando em morte. Isso pode ser tanto da inexperiência dos criminosos, que são cada vez mais jovens, irresponsáveis, inconsequentes e sem o domínio da arma de fogo", observou o secretário.
O especialista em Segurança Pública e agente da Polícia Federal, Fabrício Sabaini, alerta para o aliciamento, cada vez mais cedo, dos adolescentes na criminalidade.
"Os criminosos estão entrando cada vez mais novos na vida do crime, geralmente são soldados iniciantes no tráfico e que já carregavam uma arma nas mãos. Além disso, muitos roubos são para pagar dívidas de drogas, substâncias que geram uma percepção alterada da realidade nesses indivíduos", destacou Sabaini.
Algo que chama atenção tanto do secretário quanto dos especialistas é o aumento do número de armas legais circulando na sociedade, o que gera um risco maior de um assalto terminar em morte.
"Na hipótese do criminoso considerar que há mais pessoas - possíveis vítimas - armadas, ele pode estar mais preparado para atirar, uma vez que o assalto conta com o elemento surpresa que teria sido perdido neste caso. Assim, há um aumento de letalidade", exemplifica Sabaini.
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