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'Cenário de guerra e revolta': o que relatam os capixabas que estão no RS

'Cenário de guerra e revolta': o que relatam os capixabas que estão no RS

Em meio a cidades alagadas e destruídas pelas chuvas, capixabas enfrentam falta de água e luz, além de correria por alimentos em supermercados no Estado gaúcho

Publicado em 7 de maio de 2024 às 20:17

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João Barbosa
Repórter / [email protected]
Felipe Sena
Repórter / [email protected]

Atingido por fortes chuvas desde fim de abril, o Estado do Rio Grande do Sul vive um cenário de destruição, com alagamentos que já deixaram 95 mortos, 131 desaparecidos e milhares de desabrigados e desalojados. Dos 497 municípios, pelo menos 388 foram afetados e, segundo o boletim da Defesa Civil local, 361 pessoas foram encontradas com ferimentos e mais de 1,3 milhão foram diretamente afetadas pelas tragédia climática.

Em meio aos momentos de tensão, os capixabas Paulo Albuquerque, Wesley Bermudes e Thiago Monteiro contaram à reportagem de A Gazeta e da TV Gazeta o que viram em Porto Alegre e nas cidades vizinhas que foram afetadas pelas chuvas. Só na capital gaúcha, pelo menos 67 dos 94 bairros foram alagados ou atingidos de alguma forma pelo período chuvoso no Estado.

“Estamos sem água há quatro dias. Tenho luz e internet e estou recebendo amigos de outros bairros que ficaram sem abrigo. A gente está vendo como vão ser (os próximos dias), fazendo uma corrente de ajuda, se mobilizando”, diz o capixaba Thiago Monteiro.

Morador do bairro Moinho de Vento, na Zona Leste de Porto Alegre, o designer capixaba conta que, em meio aos problemas causados pelo longo período de chuvas, muitas regiões sofrem com ondas de violência.

“Como muitas pessoas deixaram suas casas, tem bairro que é saqueado. É uma verdadeira onda de violência em algumas áreas afetadas, porque tem muito apartamento, prédios inteiros vazios e tem gente que se aproveita disso para roubar o que as pessoas deixaram para trás”, relata.

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É um cenário de guerra. Um sentimento de impotência e revolta, principalmente com o poder público. Existia um alerta para as chuvas e nada foi feito. Isso mostra um descaso com questões ambientais

Thiago Monteiro
Designer capixaba que vive no Rio Grande do Sul
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Vias alagadas após fortes chuvas no Rio Grande do Sul(Divulgação / Governo do RS)

Segundo Thiago, além do cenário desolador, há também a dificuldade para conseguir insumos básicos em algumas áreas da cidade.

“As grandes empresas que dominam o cenário econômico aqui no Sul estão ajudando minimamente. Não há doações, não há preços mais acessíveis e ainda há dificuldade para compra, já que muitas coisas, como fardos de garrafa d’água, são racionados”, conta o capixaba, que vive há seis anos no Sul do Brasil.

O analista administrativo Wesley Bermudes mora no Espírito Santo mas está no Rio Grande do Sul a Trabalho
Wesley Bermudes mora no Espírito Santo, mas está no Rio Grande do Sul a trabalho. (Vinicius Colini/TV Gazeta)
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Quando eu fui a um supermercado, vi um clima de guerra. Foi assustador.

Wesley Bermudes
Analista administrativo que está no Rio Grande do Sul a trabalho
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O analista administrativo Wesley Bermudes também compara a situação vivida no Rio Grade do Sul com a de áreas em conflito. "Quando eu fui a um supermercado, vi um clima de guerra. Foi assustador. Todo mundo pegando comida e jogando para dentro do carrinho", conta. 

Wesley mora no Espírito Santo e está no Estado gaúcho a trabalho. Mesmo já tendo enfrentado períodos de temporais no território gaúcho, ele diz não haver comparação ao ocorrido atualmente no Rio Grande do Sul. "No Espírito Santo é diferente. Dá uma pancada de chuva e, cerca de 2 ou 3 horas depois, leva tudo. Aqui, não. Demora 6, 10 horas ou até um dia aquela pancada de chuva muito forte. É assustador", disse.

O analista agropecuário Paulo Barros de Albuquerque é natural de Vila Velha, mas mora em Porto Alegre desde 2010
O analista agropecuário Paulo Barros de Albuquerque mora em Porto Alegre desde 2010. (Vinicius Colini/TV Gazeta)
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Eu não tinha previsão que ia acontecer dessa forma que aconteceu. Acho que ninguém tinha. Ninguém imaginou que ia acontecer nessa proporção.

Paulo Barros de Albuquerque
Analista agropecuário nascido em Vila Velha e que mora em Porto Alegre desde 2010
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O analista agropecuário capixaba Paulo Barros de Albuquerque mora em Porto Alegre, mas trabalha em uma das cidades mais afetadas pela chuva: Eldorado do Sul. A esposa dele está internada em um hospital, na capital gaúcha, grávida de gêmeos. Apesar disso, ele conta que todos da família estão bem. Porém, foi informado que Prefeitura de Eldorado já pediu para todos os moradores esvaziarem a cidade por conta do desastre. "Não tem como ficar lá. Está inabitável", destaca.

"Eu não tinha previsão que ia acontecer dessa forma que aconteceu. Acho que ninguém tinha. Ninguém imaginou que ia acontecer nessa proporção. Na quinta-feira (2), eu avisei para meu chefes que não voltaria na sexta (3) por causa do risco", relata. 

Situação crítica

Em meio à tragédia, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um alerta de "grande perigo" para o extremo sudeste do Rio Grande do Sul. Segundo a previsão, a região pode ser atingida por chuva de granizo e ventos acima de 100 km/h.

“Grande risco de danos em edificações, corte de energia elétrica, estragos em plantações, queda de árvores, alagamentos e transtornos no transporte rodoviário”, divulgou o Inmet.

Mais de 650 mil pessoas estão sem abastecimento de água e ao menos 451 mil pontos do Estado estão sem energia elétrica. Escolas, rodovias e outras estruturas também sofrem com os impactos dos alagamentos, assim como o Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, que está inundado e não tem previsão para retorno de suas operações.

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