O forte temporal que atingiu a Grande Vitória na manhã desta quarta-feira (16) deixou muitas regiões alagadas e provocou congestionamento em várias vias. Alguns dos pontos mais atingidos desta vez foram Cobilândia, Praia da Costa e Itapoã, em Vila Velha, o Centro de Vitória e as avenidas Cezar Hilal, Saturnino de Brito e Américo Buaiz, também na Capital.
Alguns desses locais já sofrem com alagamentos frequentes ano a ano, como Cobilândia e a Cezar Hilal, por exemplo. Mas por que toda vez que chove há esse problema na Grande Vitória? O acúmulo de lixo nas ruas e nos canais e o crescimento desordenado das cidades com construção em locais com histórico de alagamento estão entre os motivos apontados por especialistas, além do assoreamento dos canais de escoamento.
O professor Luiz Fernando Schettino, do Departamento de Oceanografia e Ecologia da Ufes, diz que a questão do acúmulo do lixo nos canais é uma das principais razões das inundações. Para ele, a construção irregular em locais com histórico de cheias deve ser impedida com mais intensidade pelas prefeituras.
"Tem local que não é para construir. O poder público tem que ter coragem de dizer 'não' para algumas pessoas. É preciso fazer estudos nos locais onde já inunda para mapear os pontos de alagamento e planejar o que se pode fazer para desviar a água, como sistemas de bombeamento", disse.
O professor da Ufes lembrou ainda que as prefeituras precisam levar em consideração as mudanças climáticas e o aquecimento global, que têm aumentado o nível das marés. Por isso, é importante que os novos sistemas de bombeamento levem em consideração o nível mais alto do mar.
O pós-doutor em recursos hídricos, erosão e impactos ambientais, Antonio Sergio Ferreira Mendonça, diz que o crescimento desordenado das cidades da Região Metropolitana é um dos fatores que impactam nos alagamentos, pois, em algumas regiões baixas e onde foi feito aterro, há um grande problema quando chove e a maré está alta, o que acaba bloqueando a saída da água da chuva.
“A população pode contribuir, evitando jogar lixo nas ruas, porque esse material se dirige para dentro dos bueiros e o escoamento no local pode ser obstruído. As prefeituras têm de limpar periodicamente as galerias e os canais e verificar se estão desobstruídos para, quando chegar o período das chuvas, estejam preparados, com bombas funcionando. Tudo isso é um preparativo para o momento chuvoso”, detalha.
Sobre o que ocorreu nesta quarta-feira (16), a Prefeitura de Vitória justificou que as cheias ocorreram porque a hora da maré alta coincidiu com o alto volume de chuva, dificultando o escoamento da água mesmo com as estações de bombeamento funcionando. Tanto é que as cheias ocorreram nas avenidas mais próximas à costa, segundo o secretário da Central de Serviços de Vitória, Leonardo Amorim. Foram 60 milímetros em três horas de chuva no início da manhã.
Em Vila Velha, os pontos de alagamento na região de Itapoã e Praia da Costa, por exemplo, foram provocados, de acordo com a prefeitura, pelo alto nível de assoreamento do canal que liga a região de Gaivotas até a foz do Costa, próximo ao Morro do Moreno, o que dificultou o escoamento da água da chuva. A cidade recebeu 56 mm de chuvas.
Para minimizar os impactos nessa região, a prefeitura começou, na semana passada, o trabalho de desassoreamento de todo o canal, retirando lixo e areia, trabalho que deve ser concluído nos próximos 60 dias, segundo a secretária de Obras, Planejamento e Projetos Estruturantes Menara Cavalcante. "Nesse trabalho, máquinas pesadas aumentam a profundidade das galerias para tirar a terra que vai acumulando, além do lixo. Do Canal da Costa, já retiramos piscina de fibra e encosto de sofá", conta.
Já em Cobilândia, região que sempre sofre com alagamentos na cidade, mesmo tendo recebido obras de drenagem, a secretária explicou que ainda há dificuldade do escoamento, pois as obras dos canais de Jardim Marilândia, Rio Marinho e da Lindenberg ainda estão sendo realizadas. Todo o sistema dessa região de Cobilândia será interligado, e o pleno funcionamento do sistema depende que toda o serviço esteja concluído, o que está previsto para 2024.
Em Cariacica, as chuvas desta quarta provocaram impacto apenas na região de Jardim América, próximo à BR-262. Segundo o secretário de Serviços Urbanos do município, Marcos Aranda, o trabalho de limpeza das galerias e dos canais feito ao longo do ano contribuiu para que vários pontos da cidade onde havia cheias não ficassem alagados nesta semana. Os pontos críticos, segundo ele, eram Campo Grande, Flexal, Jerusalém e Porto de Santana, entre outros. Foi registrado volume de 41.29 mm de chuva nesta quarta, em Cariacica.
Os mais de 60 canais têm sido limpos três vezes por ano por máquinas e equipes vão até os valões para fazer a limpeza manual. "Devido a esse trabalho, conseguimos reduzir os alagamentos. O principal problema do alagamento é o lixo que entra na manilha, 90% ação do homem mesmo. Encontramos de tudo na limpeza: carcaça de moto, sofá, geladeira, cabeça de boi e televisão. Não adianta fazer limpeza do canal se as pessoas continuarem jogando lixo. Temos coleta, papa-móvel, cata entulho disponíveis. A população tem que fazer a parte dela", disse o secretário.
A Secretaria de Serviços da Serra informou que realiza, de forma programada, a limpeza frequente de córregos, valões, canais, grelhas e bueiros, durante todo o ano. As ações previnem alagamentos e minimizam possíveis transtornos ocasionados por dias de chuva. Informa ainda, que a limpeza preventiva realizada no município, resulta no rápido escoamento da água, logo que a chuva cessa.
Nenhum ponto de alagamento foi registrado nas vias administradas pelo município nesta quarta-feira (16).
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